domingo, abril 16

Sonho da pátria

Desde que deixei de me ocupar, durante a vigília, da fantasia e suas habituais possibilidades representativas, seus artesãos se agitam autônomos nos meus sonhos: e com uma razão aparente e uma aparente consequência, armam uma pitoresca algaravia. Tal como me havia previsto o mestre louco e instruído, vi em sonhos a cidade nativa, aldeia maravilhosamente transformada e transfigurada, porém não pude penetrar nela. E quando consegui fazê-lo, despertei com sensações desfavoráveis. Voltei ao sono e aos sonhos. Aproximei-me da casa paterna por caminhos sinuosos que flanqueavam rios atapetados de rosais. Na margem, um camponês lavrara a terra com um arado dourado puxado por dois bois brancos. Os sulcos se enchiam de grãos que o camponês lançava ao ar e caíam sobre mim como uma chuva de ouro.
Gottfried Keller, Henrique o verde

Jorge Luís Borges, "Livro de Sonhos"

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