domingo, dezembro 21

O alçapão

Clara Peck já vivia fazia uns dez anos na velha casa quando fez a estranha descoberta. Na escada, a meio caminho do segundo andar, no teto do patamar...

O alçapão.

“Meu Deus!”

Ela ficou petrificada no meio da escada, observando aquela surpresa, desafiando sua existência.

“Não pode ser! Como posso ter sido tão cega? Puxa vida! Tem um sótão na minha casa!”

Ela havia subido e descido a escada milhares de vezes e nunca havia visto nada.
“Que idiota.”

E ela quase caiu ao tentar descer a escada, esquecida do motivo que a havia levado a subi-la.

Antes do almoço ela voltou ao local onde estava o alçapão e, como uma criança nervosa, de pele e cabelos descorados, alta e magra, de olhos excessivamente brilhantes, faiscantes, fixos, dardejantes.

“Agora que descobri essa coisa, o que faço com ela? Aposto que é um depósito lá em cima. Bem...”

E afastou-se, meio perturbada, sentindo que sua mente escorregava em direção a uma zona nebulosa.

“Mande tudo isso para o inferno, Clara Peck!”, exclamou enquanto passava o aspirador na sala. “Você só tem cinqüenta e sete anos. Ainda não está caduca, Deus meu!”

Mas, mesmo assim, como é que ela nunca notara?

Era a qualidade do silêncio, com certeza. O telhado não tinha nenhuma goteira, ela nunca ouvira a água pingando no forro, as altas vigas nunca haviam rangido com o vento e também não havia ratos na casa. Se houvesse um murmúrio de goteiras, estalidos de vigas, ou se os ratos dançassem no sótão, ela teria olhado para cima e descoberto o alçapão.

Mas a casa permanecera silenciosa e ela permanecera cega.

“Besteira!”, ela exclamou, na hora do jantar.

Lavou a louça, leu até as dez, foi deitar cedo.

Foi durante aquela noite que escutou as primeiras batidas telegráficas, fracas, os primeiros arranhões lá em cima, atrás da face pálida, lunar, inexpressiva do forro.
Meio adormecida, murmurou: “Rato?”.

Logo depois já era de manhã.

***

Enquanto descia as escadas para ir preparar o café-da-manhã, ela olhava o alçapão com seu olhar firme de menina e sentiu seus frios dedos se contraírem, agarrando o corrimão.

“Droga”, ela resmungou. “Por que me preocupar em dar uma olhada num sótão vazio. Talvez na próxima semana.”

Durante os três dias seguintes, o alçapão desapareceu.

Isto é, ela se esqueceu de olhar para ele. Foi como se não estivesse lá.

Mas, por volta da meia-noite da terceira noite, ela ouviu o som dos ratos ou dos sei-lá-o-quê estendendo-se ao longo do forro do seu quarto como fantasmas de algodãozinho-do-campo, tocando as perdidas superfícies da Lua.

Dessa imagem estranha ela passou a sementes de amaranto ou de dente-de-leão ou poeira pura sacudida do peitoril da janela do sótão.

Ela pensou em dormir, mas não conseguiu.

Deitada de costas em sua cama, ela observava o teto tão fixamente que poderia radiografar o que quer que estivesse pulando por detrás do reboco.

Um circo de pulgas? Uma tribo de ratos ciganos fugindo da casa do vizinho? Várias casas tinham sido recentemente cobertas, de tal forma que pareciam escuras tendas de circo, para que os exterminadores pudessem nelas introduzir bombas mortais e depois correr, matando a vida secreta que ali existia.

A vida secreta, muito provavelmente, fizera as malas e fugira. Pensão-Sótão de Clara Peck, refeições gratuitas. Essa era sua nova casa, longe de casa.

Entretanto...

Enquanto ela fixava o olhar no teto, os sons recomeçaram. Eles se agrupavam em diversos padrões, através da fronte ampla do teto; unhas longas que, arranhando, iam de um canto a outro da câmara fechada acima.

Clara Peck conteve a respiração.

O barulho aumentava. As leves pegadas começaram a se concentrar em uma área acima e atrás da porta do seu quarto. Era como se as minúsculas criaturas, seja lá o que fossem, estivessem cavando uma outra porta secreta acima para saírem.
Vagarosamente, Clara Peck sentou-se na cama e, vagarosamente, deixou seu peso cair no assoalho para que ele não rangesse. Vagarosamente abriu a porta do quarto. Espreitou o corredor iluminado pela luz fria da lua cheia que inundava a janela do patamar, mostrando-lhe...

O alçapão.

Agora, como se convocados pelo calor dela, os sons dos fantasmagóricos pezinhos lá em cima corriam para determinado ponto, pressionando as beiradas do alçapão.
Santo Deus!, pensou Clara Peck. Eles me ouvem. Eles querem que eu...

O alçapão trepidava suavemente com o pequeno peso balouçante daquela coisa que ali estava sussurrando.

E os invisíveis pés de aranha ou de roedores de pêlo encaracolado, ou de jornais velhos e amarelados, cada vez mais faziam barulho e tocavam o batente de madeira.

Cada vez mais alto.

Clara estava a ponto de gritar: “Vão embora! Fora!”.

Então o telefone tocou.

“Droga!”, disse Clara Peck ofegante.

Ela sentiu uma tonelada de sangue descer pelo corpo, como um peso morto esmagando os dedos dos pés.

“Droga!”

Ela correu para agarrar, levantar e estrangular o telefone.

“Quem é!?”, gritou.

“Clara! É Emma Crowley! O que está acontecendo aí?”

“Santo Deus!”, gritou Clara. “Você quase me matou de susto! Emma, por que está me ligando tão tarde?”

Houve um longo silêncio até que a mulher do outro lado da cidade recuperasse o fôlego.

“É uma tolice, eu não conseguia dormir. Tive um pressentimento.”

“Emma...”

“Não, me deixe falar. De repente pensei: Clara não está bem ou está ferida, ou...”

Clara Peck afundou-se na beirada da cama, o peso da voz de Emma empurrando-a para baixo. Com os olhos fechados, balançou a cabeça.

“Clara”, disse Emma a milhares de quilômetros de distância, “você está bem?”

“Tudo bem”, disse Clara finalmente.

“Não está doente? A casa não está pegando fogo?”

“Não, não. Não.”

“Graças a Deus. Bobagem minha. Me desculpa?”

“Desculpo.”

“Bem, então... boa noite.”

E Emma Crowley desligou.

Clara Peck continuou sentada olhando para o fone por um minuto inteiro, ouvindo o sinal de que alguém havia desligado. E então, finalmente, colocou o fone no gancho, às cegas.

Ela voltou ao corredor para olhar o alçapão.

Tudo estava quieto. Apenas um desenho de folhas através da janela tremulava e batia na moldura de madeira.

Clara piscou para o alçapão.

“Vocês se acham espertos, não é?”, ela disse.

Não houve mais sons de rondas, danças, murmúrios ou pavanas de ratos durante o resto daquela noite.

***

Os sons voltaram três noites depois e eram... mais fortes.

“Não são camundongos”, disse Clara Peck. “Ratazanas bem nutridas, hein?”
Em resposta, iniciou-se um balé intrincado, em ziguezague e sem música. Esse sapateado, de um tipo peculiar, continuou até a lua desaparecer. Então, logo que tudo escureceu, a casa ficou silenciosa e só Clara Peck retomou o fôlego e a vida.
No final da semana, os padrões dos sons ficaram mais geométricos. Os sons ecoavam em cada cômodo do andar superior, no quarto de costura, no velho quarto de dormir e na biblioteca, onde algum antigo morador certa vez havia virado as páginas e contemplado um mar de castanheiras.

Na décima noite, de olhos arregalados e lívida, com os sons agora transformados em um rufar de tambores e estranhas sincopadas às três da manhã, Clara Peck agarrou, com a mão suada, o telefone para ligar para Emma Crowley.

“Clara! Eu sabia que você ia me ligar.”

“Emma, são três da manhã. Você não está surpresa?”

“Não, eu estava aqui deitada pensando em você. Pensei em lhe telefonar, mas me senti uma tola. Algo está errado, não é mesmo?”

“Emma, responda-me uma coisa. Uma casa tem um sótão vazio durante anos e, de repente, passa a ter um sótão cheio de coisas. Como se explica isso?”
“Eu não sabia que você tinha um sótão...”

“Nem eu! Ouça, o barulho, no início, parecia ser de camundongos, depois de ratos e, agora, deve ser de gatos correndo lá em cima. O que eu faço?”

“O telefone da firma exterminadora de ratos é... espere. Aqui está. Sete-sete-nove-nove. Você tem certeza de que há alguma coisa no seu sótão?”

“Toda a maldita equipe de corrida do colégio!”

“Quem morava na sua casa, Clara?”

“Quem?...”

“O que eu quero dizer é que o sótão esteve limpo todo o tempo, certo, e agora, bem, está infestado. Alguém já morreu nessa casa?”

“Morreu?”

“Claro, se alguém morreu aí talvez não sejam ratos o que você tem no sótão.”

“Você está tentando me dizer... fantasmas?”

“Você não acredita?”

“Em fantasmas ou nos assim chamados amigos que tentam me aterrorizar falando deles? Não me ligue mais, Emma!”

“Mas foi você que me ligou!”

“Desligue, Emma!”

Emma Crowley desligou.

Às três e quinze daquela fria madrugada, Clara Peck avançou devagar pelo corredor, parou por alguns instantes e, então, apontou para o teto como se o provocasse.

“Fantasmas?”, murmurou.

As dobradiças do alçapão, perdidas na noite lá em cima, lubrificavam-se com o vento.

Clara Peck virou-se lentamente e entrou no quarto e, consciente de cada movimento, deitou-se na cama.

Acordou às quatro e vinte da madrugada porque uma rajada de vento sacudira toda a casa.

Lá no corredor, seria possível?

Ela se retesou toda, apurou os ouvidos.

Muito devagar, muito suavemente, o alçapão no forro da escada rangeu.
E escancarou-se.

Não é possível!, ela pensou.

A portinhola foi arremessada para trás, para dentro e para baixo, com uma pancada.

É possível!, ela pensou. Não! Vou me certificar, ela pensou.

Ela deu um pulo, correu, trancou a porta, pulou de volta na cama.

“Alô, Ratozero Ltda.!”, ela ouviu sua própria voz, abafada sob as cobertas.

***

Quando desceu, às seis da manhã, sem ter dormido nada, ela manteve os olhos fixo à sua frente para não ter de enxergar aquele teto amedrontador.
No meio do caminho, olhou para trás e riu.

“Tolice!”, exclamou.

Porque o alçapão não estava aberto de forma alguma.
Estava fechado.

“Ratozero Ltda.?”, ela disse ao telefone, às sete e meia de uma radiante manhã.

***

Era meio-dia quando o caminhão da Ratozero Ltda. parou em frente à casa de Clara Peck.

Pelo andar insolente que o jovem técnico, sr. Timmons, exibia, desdenhosamente, Clara percebeu que ele sabia tudo, absolutamente tudo sobre camundongos, traças, velhas solteironas e sons estranhos tarde da noite. Quando se movia, ele olhava para o mundo ao seu redor com a elegante empáfia masculina do toureiro no centro da arena, ou do pára-quedista que acaba de tocar o chão, ou do conquistador que acende o cigarro, de costas para a pobre criatura que está na cama com ele. Ao tocar a campainha, ele era o mensageiro de Deus. Quando Clara abriu a porta, quase a bateu na cara dele por causa do modo como os olhos dele penetravam nela através do vestido, da carne, dos pensamentos. O sorriso dele era o de um alcoólatra. Estava bêbado de si mesmo. Só havia uma coisa a fazer:

“Não fique aí parado!”, ela gritou. “Faça alguma coisa útil!”

E girou nos calcanhares e se afastou da expressão chocada do homem. Ela olhou para trás a fim de verificar se tinha obtido o efeito desejado. Pouquíssimas mulheres tinham falado assim com ele. Ele estava examinando a porta. Então, curioso, entrou.

“Por aqui!”, disse Clara.

Ela desfilou pelo corredor, subiu os degraus até o patamar, onde havia colocado uma escadinha de metal. Estendeu a mão para cima, apontando.

“O sótão é ali. Veja se consegue uma explicação razoável para esses malditos ruídos. E não me cobre nenhum extra quando acabar. Limpe os pés antes de descer. Eu tenho de sair para fazer compras. Posso confiar que o senhor não vai aproveitar minha ausência para me roubar?”

Ela podia perceber como cada provocação o desequilibrava. O rosto dele ficava vermelho. Seus olhos brilhavam. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, ela desceu as escadas para pôr um casaco leve.

“O senhor conhece o barulho de camundongos num sótão?”, perguntou Clara, olhando sobre o ombro.

“Claro! Conheço bem pra ca...”, respondeu o homem.

“Dobre a língua! Conhece o de ratazanas também? Pode ser que sejam ratazanas ou um bicho maior. Qual é o maior animal que se pode encontrar num sótão?”

“Será que não tem guaxinins por aqui?”

“Como eles poderiam entrar?”

“A senhora não conhece sua própria casa?! Eu...”

Os dois ficaram em silêncio.

Ouviram um barulho no sótão.

Parecia, a princípio, um prenúncio de som. Depois um arranhão. E depois um som surdo como o de um coração batendo.

Timmons olhou de relance para o alçapão e grunhiu:

“Ei!”

Clara Peck assentiu e, satisfeita, calçou as luvas, ajeitou seu chapéu enquanto observava.

“O som parece...”, falou arrastadamente o sr. Timmons.

“O quê?”

“Algum capitão do mar viveu antes nesta casa?”, perguntou finalmente.

Ouviu-se de novo o som, agora mais alto. A casa inteira parecia mover-se e gemer com o peso daquilo que estava se mexendo acima.
“Parece barulho de carga.” Timmons fechou os olhos para ouvir melhor. “Carga de um navio, deslocando-se quando o navio muda de curso.” Ele caiu na gargalhada e abriu os olhos.
“Santo Deus!”, disse Clara, tentando imaginar a cena.
“Por outro lado”, disse o sr. Timmons com um meio sorriso em direção ao sótão, “a senhora tem uma estufa ou algo parecido lá em cima? Parece o som de plantas crescendo. Ou fermentação. Uma fermentação do tamanho de uma casa de cachorro que saiu de controle. Ouvi falar de um homem, uma vez, que cultivava fungos no porão. E...”
A porta da frente bateu.
Clara Peck, já do lado de fora da casa, irritada com as piadas dele, disparou:
“Volto em uma hora. Avie-se!”
Ouviu a risada dele seguindo-a pela calçada. Após uma pequena hesitação, voltou-se para olhar.
O idiota estava parado ao pé da escadinha de metal, olhando para cima. Então, deu de ombros e fez um gesto de “que-diabos-será-isso” e...
Subiu a escadinha, ágil como um marinheiro.

***

Quando Clara Peck voltou, uma hora mais tarde, viu que o caminhão da Ratozero Ltda. ainda permanecia estacionado silenciosamente junto ao meio-fio.

“Droga”, disse ela. “Pensei que ele já tivesse acabado. Um homem esquisito desses invadindo a casa, xingando...”

Ela parou e ficou ouvindo a casa.

Silêncio.

“Estranho”, ela murmurou.

“Senhor Timmons!?”, ela gritou.

E, percebendo que ainda estava um pouco longe da porta escancarada da frente da casa, aproximou-se e gritou através da porta de tela.

“Alguém em casa?”

Passou pela porta e entrou em um silêncio como o que havia na casa nos velhos tempos, antes de os camundongos terem se transformado em ratazanas e as ratazanas em algo muito maior e mais sombrio no assoalho do sótão. Era um silêncio tão denso que, se alguém respirasse nele, seria sufocado. Ela inclinou-se para um lado, ao pé da escada, olhando para cima, segurando o pacote de compras nos braços como se fosse uma criança morta.

“Senhor Timmons...?”

A casa toda, entretanto, continuou em silêncio.

A escada portátil ainda estava esperando no patamar.

Mas o alçapão estava fechado.

Bem, ele, obviamente, não está lá em cima!, ela pensou. Ele não iria subir e se fechar lá dentro. O idiota deve ter ido embora.

Ela voltou-se, franzindo os olhos em direção ao caminhão, abandonado em plena luz do meio-dia.

O caminhão deve ter estragado, suponho.

Ele foi buscar ajuda.

Deixou as compras na cozinha e, pela primeira vez em anos, sem saber por quê, acendeu um cigarro, fumou, acendeu outro e preparou um almoço barulhento, batendo as frigideiras e deixando o abridor de latas elétrico ligado.

A casa ouvia tudo isso e não dava nenhuma resposta.

Por volta das duas da tarde, o silêncio pesava sobre ela como uma nuvem de cera de assoalho.

“Ratozero Ltda.”, ela disse enquanto discava o número.

O dono da firma chegou meia hora depois, de motocicleta, para buscar o caminhão abandonado. Tirando o boné, ele entrou para conversar com Clara Peck, olhar os cômodos vazios e avaliar o silêncio.

“Não esquenta, madame”, disse finalmente. “Charlie tem se metido em bebedeiras ultimamente; quando ele aparecer amanhã será despedido. O que ele estava fazendo aqui?”

Então, ele deu uma olhada para os degraus da escadinha no patamar.

“Ah”, disse Clara Peck, rapidamente, “ele estava apenas olhando... tudo.”

“Eu mesmo virei amanhã”, disse o proprietário da firma.

E enquanto ele se afastava na tarde, Clara Peck lentamente subiu os degraus para ficar mais próxima do teto e observar o alçapão.

“Ele também não viu você”, ela murmurou.

Nenhum estalido de viga, nenhuma dança de camundongos no sótão.

Ela permaneceu estática, sentindo a luz do sol mudar de posição e entrar pela porta da frente.

“Por quê?”, ela se perguntava. “Por que eu menti? Bem, uma coisa é certa, o alçapão está fechado, não é mesmo?”

E, não sei por quê, ela pensou, mas não vou querer ninguém mais subindo esta escada, nunca mais. Não é uma tolice? Não é estranho?

***

Jantou cedo, ouvidos em pé.

Lavou a louça, atenta.

Deitou-se às dez em ponto, mas no velho quarto de empregada, no andar térreo, sem uso já havia muito tempo. Por que motivo ela escolhera aquele quarto para dormir, ela não sabia, ela simplesmente o fez, e deitou-se lá, com os ouvidos doendo, sentindo a pulsação no pescoço e na fronte.

Dura como um túmulo entalhado sobre os lençóis, ela esperava.

Por volta da meia-noite, sentiu um vento passar por ela agitando o desenho de folhas em sua colcha. Seus olhos se arregalaram.

As vigas da casa tremiam.

Levantou a cabeça.

Alguma coisa sussurrava delicadamente no sótão.

Sentou-se na cama.

O som estava cada vez mais alto, mais pesado, como se um animal grande e disforme estivesse rondando pela escuridão do sótão.

Colocou os pés no chão e ficou olhando para eles. O barulho voltou, lá em cima, ao longe, ora ligeiro como o ruído de pés de coelho, ora surdo como a batida de um grande coração.
Ray Bradbury, "A cidade inteira dorme e outros contos breves"

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