segunda-feira, novembro 2
Assim começa o livro...
Em agosto de 1992, quando os dias de canícula chegavam ao fim, pus-me a caminhar pelo condado de Suffolk, no leste da Inglaterra, na esperança de escapar ao vazio que se alastra em mim sempre que termino um longo trabalho. E de fato essa esperança cumpriu-se até certo grau, pois poucas vezes me senti tão desobrigado como na época, vagando horas e dias a fio pela faixa de território em parte só parcamente povoada que se estende pelo interior a partir da costa. De outro lado, porém, parece-me agora que a velha superstição, segundo a qual certas doenças da alma e do corpo se infundem em nós de preferência sob o signo da Canícula, tem provavelmente sua justificativa. Seja co mo for, na época que se seguiu me ocupei tanto com a lembrança do agradável senso de liberdade quanto com o horror paralisante que me acometia em diversos momentos, em face dos traços de destruição que, mesmo nessa região longínqua, remontavam até o passado distante. Talvez tenha sido por causa disso que, exatamente um ano após o dia em que dei início à minha viagem, fui levado num estado de quase total imobilidade ao hospital de Norwich, a capital da província, onde então, ao menos em pensamento, comecei a redigir estas páginas. Ainda me lembro precisamente como, logo após dar entrada em meu quarto situado no oitavo andar do hospital, fui esmagado pela ideia de que as amplidões percorridas no verão anterior em Suffolk haviam agora encolhido definitivamente a um único ponto cego e surdo. Da minha cama, de fato, não se podia ver mais nada do mundo a não ser uma nesga pálida do céu, emoldurada pela janela.
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