Os dois volumes que abrem a reedição flagram momentos distintos da construção do “manoelês” ao longo de sete décadas de carreira. “Poemas concebidos sem pecado / Face imóvel” reúne seus dois primeiros títulos, lançados em 1937 e 1942, respectivamente. “Arranjos para assobio”, de 1982, marca a consolidação do estilo que o consagraria a partir daquela década. Todos os livros incluem itens do baú de Manoel, muitos deles inéditos, como fotografias antigas, correspondências e manuscritos de poemas, selecionados pela filha do escritor, Martha Barros.
Manuscrito do poema "Enseada de Botafogo", publicado no livro "Face imóvel" (1942) |
— Meu pai era um funcionário da poesia, se dedicava em tempo integral a ela. Deixou uma obra linda, rica e profunda. Ele se achava um homem comum, e era. Sua alma inquieta, amorosa, simples e ao mesmo tempo complexa fez dele um pensador das coisas pequenas e sem importância, algo tão necessário neste mundo poluído e cheio de desperdícios — diz Martha.
O pensador das coisas pequenas já se anunciava em “Poemas concebidos sem pecado”, que publicou aos 21 anos. Em versos narrativos, repletos de personagens como Cabeludinho e Nhanhá, evoca memórias da infância no Pantanal. “Face imóvel” é mais marcado pela vivência no Rio, para onde havia se mudado em meados dos anos 1930. A nova edição traz o manuscrito do poema “Enseada de Botafogo”, que registra seu espanto diante do contraste urbano entre “carros vermelhos que levam os donos da vida” e “emigrados subjugados ao infinito”.
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