sexta-feira, março 25

O castelo de Kafka

- Kafka?! Não me diga que você é Franz Kafka, o agrimensor contratado?!

Kafka ergueu os olhos diante da porta do Castelo: era o conde Westwest em pessoa que lhe estendia carinhosamente a mão enorme para tirá-lo do gelo em que as pernas mirradas do visitante se atolavam:

- Suba aqui, rapaz! Você vai acabar pegando uma tuberculose nesse frio! - Gritou em torno, indignado: - Mas por que esses estúpidos que me rodeiam não me avisaram que você chegou? Onde você passou a noite?

- Eu... eu tentei e...

O conde arrastou-o para uma sala aconchegante e quente; mal Kafka sentou-se na poltrona confortável e o próprio conde lhe estendia uma xícara de café. Kafka fechou os olhos, feliz, sentindo o aroma.

- Beba, menino. - E não cansava de olhar para o escritor: - Que alegria tê-lo aqui, Franz Kafka! - Gritou para o corredor: - Klamm! Klamm!

Imediatamente o funcionário apareceu.

- Klamm, reserve o apartamento do terceiro andar para o senhor Kafka. Você ficará encarregado de atendê-lo em tudo que ele pedir. - Sentado em frente ao escritor, tocou nos seus joelhos magros: - Franz, aqui você poderá escrever o que quiser. Fique o tempo que precisar. Quer trazer a família para viver com você? Há espaço de sobra no Castelo. O que acha?

Kafka alegrou-se - e sussurrou:

- Conde, estou apaixonado pela Frieda. Posso... - e o gesto indicava algum sonho futuro ainda sem forma.

- Mas é claro! - Ergueu as mãos, sorridente: - Você é livre, Franz. Tudo que eu quero é deixá-lo confortável para escrever. Esse é o seu mundo.

- Obrigado. Eu... - emocionado, Franz Kafka gaguejava: aquilo iria durar apenas alguns segundos e ele não queria perder nenhum deles: - Mas conde... e o meu trabalho de agrimensor?

O conde deu uma gargalhada saborosa:

- Esqueça! Minhas terras não precisam de agrimensor. O que precisam é de Franz Kafka para terem alguma medida! - A mão sincera tocava-lhe o ombro ossudo: - Você nos dá essa felicidade?
Cristovão Tezza

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