domingo, junho 30

Livro de cabeceira

Alexandre da Macedônia é conhecido pelo apelido de Magno por ter conseguido unificar as orgulhosas cidades-Estado gregas. conquistar todos os reinos entre a Grécia e o Egito, derrotar o exército persa e criar um império que se estendia até à Índia - em menos de treze anos. As pessoas têm-se interrogado desde então sobre como é que um governante de um irrelevante reino grego pode ter realizado uma tal façanha. Mas sempre existiu uma segunda pergunta, para mim mais intrigante: por que razão havia Alexandre de querer conquistar a Ásia?

Ao considerar esta questão, vim a concentrar-me em três objetos que Alexandre transportou consigo ao longo de toda a sua campanha militar e que colocava todas as noites à cabeceira , três objetos que sintetizavam a forma como ele via a sua campanha. O primeiro era um punhal. Junto ao punhal, Alexandre guardava uma caixa. E , dentro da caixa , colocava o mais precioso dos três objetos: um exemplar do seu texto preferido, a Ilíada.

Como chegara Alexandre a possuir estes três objetos e o que significavam para ele?

Alexandre dormia com um punhal porque queria escapar ao destino do seu pai, que fora assassinado. A caixa fora tomada a Dario, o seu adversário persa. E levara a Ilíada para a Ásia porque era a história através da qual via a sua campanha e a sua vida, um texto fundador que captava o espírito de um príncipe que iria à conquista do mundo.

A epopeia de Homero foi um texto fundador para os gregos durante gerações. Para Alexandre , adquiriu o estatuto de um texto quase sagrado, razão pela qual o levava consigo durante a campanha . É isso que os textos , sobretudo os fundadores , fazem: mudam a forma como vemos o mundo e também a forma como agimos sobre ele. Foi isso certamente que se passou com Alexandre. Foi induzido não só a ler e a estudar este texto, mas também a recriá-lo. Alexandre, o leitor, colocou-se a si próprio na história, vendo a trajetória da sua própria vida à luz de Aquiles de Homero. Alexandre Magno é conhecido por ter sido um rei excessivo . Mas acontece que foi também um leitor excessivo."
Martin Puchner, " O Mundo da Escrita"

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