terça-feira, dezembro 23

A Mesa do Banquete era tão Longa

A mesa do banquete era tão longa
que o meu assento estava na cozinha.
Havia caviar, faisão, vitualhas tantas...
Eu me servi cerveja, e moela com farinha.

De longe eu via o mundo e seus senhores,
tanto maiores quanto mais distantes,
e mesmo estes, os que eu avistava,
deviam estar nos ombros de gigantes.

Uma orquestra tocava, e não se via
se nos vinha do chão, ou se do céu.
Entre nós desfilavam bailarinas
invisíveis: o corpo era o seu véu.

Olhei meu prato. Estava sempre cheio.
E o copo mais pesado que um navio.
Tudo oscilava, os pêndulos, os lustres,
saltimbancos saltavam no vazio.

Havia riso, havia amor sem conta,
como corrente de eletricidade
acendendo um clarão de ponta a ponta
dessa mesa maior que uma cidade.

Eu me servi do quanto estava exposto.
Do que tinha o direito, e tive a chance,
tudo eu provei, de tudo tive o gosto,
tudo foi meu que estava ao meu alcance.

E a mesa se alongou, e alongou tanto
que de repente eu me encontrei na rua.
Saciado de festas e de encantos,
voltei a pé. E a mesa continua.
Braulio Tavares

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