sexta-feira, dezembro 13

Ao meu cão

Deixei-te só, à hora de morrer.
Não percebi o desabrigado apelo dos teus olhos
humaníssimos, suaves, sábios, cheios de aceitação
de tudo... e apesar disso, sem o pedir, tentando
insinuar que eu ficasse perto,
que, se me fosse, a mesma era a tua gratidão.

Não percebi a evidência de que ias morrer
e gostavas da minha companhia por uma noite,
que te seria tão doce a minha simples presença
só umas horas, poucas.

Não percebi, por minha grosseira incompreensão,
não percebi, por tua mansidão e humildade,
que já tinhas perdoado tudo à vida
e começavas a debater-te na maior angústia,
a debater-te com a morte.

E deixei-te só, à beira da agonia, tão aflito, tão só e sossegado.

Cristovam Pavia

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