O que às vezes não lembramos é que o cinema foi precedido por projeções das Lanternas Mágicas e dos variados “...scópios” da época, que lidavam com imagens fixas, transparentes, coloridas, projetadas em grande tamanho em parede ou tela.
Em sua saborosa História da Cidade do Natal (1947, pags. 265-266), Câmara Cascudo lembra o fenômeno no Rio Grande do Norte:
“Havia o Cosmorama, vistas de cidades e costumes através de um vidro de aumento. Divertimento caro. Um tostão. Os melhores, vindos em 1888, exigiam quinhentos réis de entrada na Praça da Alegria. Depois apareceu a Lanterna Mágica, paisagens, figuras, cenas substituídas com relativa rapidez pela máquina. Ia muita gente boa, bem vestida, comentando o ‘espetáculo’”.
E depois:
“Em 1906 Natal viu e gostou das descobertas sensacionais. Em abril o sr. Arlindo Costa com o Bioscópio, no teatro Carlos Gomes, vistas fixas e outras com movimento. Por exemplo – o Hotel Mal Assombrado. Em novembro veio Moura Quineau com uma máquina moderna. Quase cinema. O ‘Álbum Maravilhoso’ era um assombro. Em 1911 o primeiro cinema na praça Augusto Severo, Politeama, nome escolhido por eleição popular pelas página d’A República”.
No fim deste século, lá por 2090, quando forem escritas as histórias dos videogames, serão lembradas as máquinas de fliperamas, joguinhos de “arcade” e outras que já foram (ainda são um pouco) tão comuns em rodoviárias, aeroportos, galerias, shopping-centers, etc. Diversões populares ao preço de uma fichinha, que vão aos poucos sendo substituídas por seus primos tecnológicos mais aperfeiçoados.
Ao reconstituir sua história, nem sempre percebemos que as tecnologias vão sendo trocadas como cobra troca a pele, mas os temas eternos retornam. Um tema clássico como o “Hotel Assombrado” mencionado por Cascudo passou do bioscópio para o cinema, deste para os games. Passará dos games para os joguinhos rádio-telepáticos do fim deste século. Ao longo dessa linhagem, uma corrente incessante de influências, empréstimos, pequenas invenções de linguagem e de expressão, onde uma forma de arte, ao morrer, serve de alimento àquela que a substitui.
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