segunda-feira, dezembro 23

O Português

Prefere ser um rico desconhecido, a ser um herói pobre. É melhor do que parece. O homem português é dissimulado, e fez da inveja um discurso do bom senso e dos direitos humanos.

Mas é também um homem de paixões moderadas pela sensibilidade, o que faz dele um grande civilizado.

Gosta das mulheres, o que explica o estado de dependência em que as pretende manter. A dependência é uma motivação erótica.

É inovador mas tem pouco carácter, como é próprio dos superiormente inteligentes, tanto cientistas, como filósofos e criadores em geral.

Mente muito, e a verdade que se arroga é uma culpa inibida. Vemos que ele se mantém num estado primitivo quando defende a sua área de partido, de seita e de família, à custa de corrupções e de crimes, se for preciso.

Gosta do poder mas não da notoriedade. Não tem o sentido da eternidade, mas sim o prazer da liberdade imediata. Não é democrata; excepto se isso intimidar os seus adversários.

Não tem génio, tem habilidade.

É imaginativo mas não pensador.

É culto mas não experiente.

Não gosta da lei, porque ela desvaloriza a sua própria iniciativa. É místico com a fábula e viril com a desgraça.

Admira mais a Deus do que tem fé Nele.
Agustina Bessa-Luís, "Caderno de Significados"

Nenhum comentário:

Postar um comentário