Em meio a essa zoeira e barafunda, um asno trotava alerta, fustigado por um campônio armado de chicote.
Quando o animal estava prestes a fazer a curva numa esquina, um belo senhor de luvas, sapatos reluzentes, cruelmente engravatado e que mal se mexia no seu traje todo novo inclinou-se solene diante da humilde besta e lhe disse, tirando o chapéu:
– Feliz ano-novo!
Em seguida virou-se na direção de sabe-se quem, pleno de satisfação, como para colher os cumprimentos que lhe seriam prestados pelos amigos.
O asno passou reto pelo belo tipo, e continuou a correr zeloso conforme lhe era exigido pelo dever.
Quanto a mim, fui tomado de uma raiva inexprimível daquele magnífico imbecil, que me pareceu concentrar em si o verdadeiro espírito da França.
Charles Baudelaire, "Pequenos poemas em prosa"
Nenhum comentário:
Postar um comentário