sexta-feira, dezembro 6

Belos por instantes

Da minha janela hoje de manhã, pouco antes do sol nascer, dava para ver um cervo parado numa neblina tão densa e brilhante que o segundo cervo, não muito longe, parecia uma sombra inacabada do primeiro.

Você pode colorir isso. Pode chamar de “A História da Memória”.


A migração pode ter como gatilho o ângulo do sol, indicando uma mudança de estação, temperatura, vida da flora e quantidade de alimentos disponível. As borboletas-monarcas fêmeas botam ovos pelo caminho. Toda história tem mais de um fio, todo fio é uma história de divisão. A viagem leva sete mil setecentos e setenta quilômetros, mais do que a extensão deste país. As monarcas que voam para o sul não voltarão para o norte. Toda partida, portanto, é definitiva. Só seus filhos voltarão; só o futuro revisita o passado.


O que é um país senão uma sentença sem fronteiras, uma vida?

Aquele dia no açougueiro chinês, você apontou para o porco assado pendurado no gancho. “Depois de queimar, as costelas são iguaizinhas às de uma pessoa.” Você deixou escapar uma risadinha entrecortada, pegou a carteira, o rosto tenso, e contou de novo nosso dinheiro.
Ocean Vuong, "Sobre a terra somos belos por um instante"

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