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Eleanor Davis |
quinta-feira, dezembro 31
Todas as horas são horas de leitura
Tudo no mundo existe para algum dia terminar num livroStéphane Mallarmé
Quem gosta de ler não tem apenas como leitura os novos livros. Aqueles que surgem ao longo do ano. As novidades apregoadas e assinaladas nas grandes livrarias e até nos supermercados. Os livros, em escaparates, já são exibidos em tabelas : o top dos mais vendidos. Publicitar o livro, exercer o convite à leitura é uma nobre aposta, mas fica esvaziada quando o critério selectivo não tem apenas o valor intrínseco da obra. Muitos livros são apresentados porque são obra de gente que vive sob as luzes dos media. E mata-se qualquer aposta em torno de um bom livro.
Lê-se a vida inteira para saber que livros reler na velhice - afirmou o escritor brasileiro Autran Dourado. Concordo e partilho deste critério. Leio e releio novos e velhos livros que me encantaram e sempre serão objecto de puro prazer literário.
Nunca ninguém lê o mesmo livro como nunca ninguém ouve a mesma música -alguém o disse e corresponde ao que penso ser verdadeiro. A leitura é um acto solitário. Apropria-se de nós numa posse egoísta e total. Lemos e, se o fizermos em conjunto, as palavras ,apesar de serem escutadas por todos em sincrônica audição, não chegam a cada um em sintonia. Há um ressoar que confere diferentes apropriações.
Livres Pensantes
Teoria da amizade
Recebi um livro ruim de um amigo bom. Li trechos e logo o desânimo me prostrou. Não poderia elogiar o livro e não queria perder o amigo. Rapidamente, escrevi um bilhete: Obrigado pelo teu livro, que começarei a ler ainda hoje. É claro que comecei a ler. E nunca terminei. Os amigos da gente não deveriam escrever livros. Seria mais fácil para o crítico não ter amigos escritores. Os livros deveriam ser escritos apenas por nossos inimigos. Se estes publicarem um livro ruim, estarão dando motivo para o crítico extravasar sua maldade e suas frustrações. Então poderíamos provar que ele realmente não presta e, num artigo contundente, destacar nossa superioridade. Se o livro do inimigo for bom, mais fácil ainda. É uma chance de provar da humildade e elogiar a obra com gordos e sibilantes adjetivos. Nosso anjo da guarda ficaria feliz e sairíamos do episódio como uma pessoa extremamente compreensiva, sem rancores. Diriam: vejam só, ele que foi difamado por x, tendo sido o alvo de inúmeras maledicências, vejam só que nobre caráter o dele - reconheceu a grandeza de seu detrator, definiu a estatura de seu pior desafeto.
Mas não. Quem me mandou um livro péssimo foi um amigo. Um amigo de infância. Desses que já não se fazem mais depois de uma certa idade. Um amigo que desejou as mesmas mulheres que um dia desejamos. Que frequentou os mesmos bares suspeitos. Que gastou conosco, em palestras descontraídas, horas infindáveis. É este maldito amigo que escreveu o livro que está sobre nossa mesa, fitando-nos com um olhar de cachorro ferido, de criança rejeitada. A capa ridícula que só perde para o conteúdo. A impressão é de péssima qualidade. E, mesmo assim, o livro provavelmente tenha custado caro. O amigo, que acabou se perdendo em trabalhos desgastantes, é pobre e deve ter passado por dificuldades para pagar a gráfica. A mulher dele, cada vez mais neurótica, com certeza brigou feio com o idiota, É isso que você é, um idiota, perdendo tempo com estas ilusões. Assim deve ter falado a mulher, enquanto olhava para as pernas com varizes, pensando que o dinheiro despendido poderia ter sido usado para uma pequena cirurgia plástica que a livraria das horríveis veias azuis, fruto da gravidez que ela não desejara, mas que acabara aceitando devido às insistências do marido.
Fui sempre uma tola.
É isso que o livro me diz. Este livro que custou tanto. Não penso apenas no dinheiro. Mas no tempo. Dez longos anos tentando escrever alguma coisa decente e o resultado é um romancinho colegial, que qualquer adolescente poderia ter escrito. A tiragem deve ter sido pequena. Ele vai deixar nas livrarias do centro. Na Ghighnone, provavelmente os vendedores colocarão na mais remota prateleira. E como o livro não traz nada escrito na lombada, vai se perder no meio de outros títulos irrelevantes e empoeirados. No Chain, ele ficará atrás do balcão do guarda-volume, numa prateleira que é mais um depósito. Depois de algum tempo, será devolvido. E por azar, o amigo vai descobrir: deixara dez exemplares e na hora de recebê-los de volta, encontra onze. Um jornalista, que recebera o livro de presente, freguês assíduo da livraria, trocara-o, junto com um volume de poesia que a editora lhe mandara, por um livro do Paulo Coelho.
Ainda bem que o amigo nunca vai descobrir que serviu de complemento para uma troca, e justo envolvendo o Paulo Coelho. Deus é mesmo perverso. Para uns escritores ruins, tudo. Para outros, nada.
Mas ele tinha o amigo que era crítico. E crítico razoavelmente respeitado. E a opinião da crítica era muito melhor do que o sucesso de vendas. Vender livro era para os carreiristas. E ele sabia-se um clérigo. Escrevia por necessidade de expressão. Não suportaria passar a vida sem deixar uma mensagem para uns poucos. Ele tinha o crítico. Na verdade, pensando bem, ele escrevera este livro única e exclusivamente para o crítico. Eram dele todas as belezas contidas nestas páginas. O romance, uma espécie de educação sentimental, retomava fatos da infância comum. O crítico era o leitor ideal. Não precisava de mais ninguém. Ele tinha o crítico. Meu Deus, estava feliz, mesmo tendo de levar para casa os onze exemplares que o gerente da livraria lhe devolvera, alegando que não havia espaço para volumes consignados. Estava mais do que feliz, a qualquer momento sairia um longo artigo do crítico sobre sua obra. Só agora se lembrara de que não havia mandado nenhuma foto para o jornal. E queria um artigo com foto e tudo. Sem nem se lembrar do fato de não ter encontrado o seu livro nas prateleiras da Ghighnone - se fosse menos tímido teria perguntado para a vendedora se os livros já tinham sido vendidos - sem nem se lembrar disso, correu até um estúdio fotográfico. Depois ficou esperando pelo centro da cidade até às cinco horas, quando o retrato ficou pronto. Colocou-o num envelope e o deixou na portaria do jornal, endereçado ao editor.
É o livro deste amigo que estou levando para doar à biblioteca pública, depois de ter tido o cuidado de arrancar a página de rosto, com a calorosa dedicatória em que falava de infância e amizade - duas palavras que doem.
Antes de entregar ao funcionário, leio aleatoriamente um parágrafo só para me certificar de que estou fazendo a coisa certa. Mas a consciência lateja. Me sinto cruel. O fato de o livro ser ruim não me livra de minha maldade inata, de minha ingratidão.
Somente quando me encontro totalmente liberto de sua presença incômoda, volto à rotina. Leio outros livros, escrevo artigos, assisto a bons filmes. E toda vez que vou à banca comprar o jornal em que tenho a coluna, faço-o com a mesma emoção de meu amigo. Coração disparado, olhos embaçados, abro avidamente o jornal para ver se foi desta vez que tratei do livro ruim. Mas não foi.
Não escreverei nada. Nem uma notícia. Quero esquecer o livro. Mas para isso teria que esquecer o amigo que, um mês e meio depois, me telefona, deixando na secretária eletrônica o convite para um jantar na casa dele. Minha secretária liga, avisando que terei uma viagem para fazer e que, assim que estiver livre, marcarei nova data.
Decorrido mais um mês, recebo um novo pacote. Abro e encontro outro exemplar. Nenhuma dedicatória. Apenas o livro com sua cara de mendigo. Dias depois, imprudente, atendo o telefone. É ele. Parece estar meio bêbado. Tímido e correto, não faria isso em outra circunstância. Ouço um programa de auditório do outro lado da linha, enquanto ele reclama que o seu casamento está uma droga. A mulher não tem interesse nenhum por literatura. Veja, não chegou a ler o primeiro capítulo de meu livro. Encabulado, tento mudar o rumo da conversa. Mas as lamentações continuam. Fala de seu filho que morreu e de como o livro o salvou de uma crise de depressão. Você sabe o que é isso, hein? Você sabe o que é perder um filho? Não tenho palavras. E ele ainda recorda os planos que tinha para o menino. Queria para ele uma infância bonita como a nossa, com amizades verdadeiras. Não consigo segurar uma tosse seca. E ele, do outro lado, insiste em nossos laços de amizade. Diz que encontrou fulano na rua, aquele que sempre traía a gente por inveja. Pergunta se eu me lembro dele. Digo que sim. E o amigo pragueja, afirmando depois, falsamente alegre: O desgraçado está rico, é um advogado de sucesso. E eu aqui passando os meus apuros. Você sabe que tive de fechar a loja? Eu só consigo resmungar algo que parece significar: que pena. Mas ele levanta a bola, É isso aí, ainda bem que tenho os amigos.
A conversa termina e eu busco na pilha de livros aquele que espera um elogio meu. Ligo o computador. A tela vazia me olha. Digito: Fulano de Tal escreveu um livro inquietante. Isso era verdade, pelo menos para mim o livro era inquietante. Eu não estava mentindo. Poderia continuar o artigo que seria apenas um resumo do livro, sem afirmar nada. Mas são estas concessões, visíveis para qualquer espírito mais arguto, que fazem com que o crítico perca a credibilidade. Apaguei a frase. No dia seguinte doei o livro para a biblioteca da escola do bairro.
Depois de uma semana, todos os dias chegava mais um volume do livro pelo correio. Eu abria o pacote, último gesto de respeito, e o colocava diretamente no lixo. O amigo tinha resolvido o problema do encalhe. Se eu era o leitor ideal, nada mais lógico do que ser o destinatário de toda a tiragem do romance. Não sei quantas dezenas de volumes recebi. Algumas vezes, tentava ler um ou outro parágrafo. Mas não era possível continuar.
Os meus artigos começaram a ficar estúpidos, perdi o brilho
das reflexões, a graça das frases que sempre compensaram minhas limitações intelectuais. Estava me destruindo. Toda vez que abria um livro para ler era como se estivesse lendo aquele que me perseguia. Logo a capa parecia idêntica.
Quando consultava alguma coisa na estante, tinha a impressão de que todos os meus livros eram iguais àquele. E isso me desesperava. Tornei-me amargo com os outros autores. Achei defeitos na obra de Cony, qualquer um faria sucesso tendo atrás de si uma grande editora e toda a mídia subserviente. Vi em Rubem Fonseca o virtuosismo informativo de quem tinha tempo de sobra para vasculhar livros sem significação. Comecei a fuzilar todo jovem talento. Eles não tinham passado por nenhuma situação parecida com a minha, eu que sou filho de analfabetos, leitor de biblioteca pública, agricultor frustrado, eu que não pude contar com a ajuda de ninguém para estudar.
Então percebi que, inconscientemente, estava querendo mostrar ao amigo que sou justo, que sou severo com todos, com os grandes e com os bem sucedidos. Neste dia, escrevi um feroz artigo contra o romance que me perseguia. Chamei-o de piegas, monótono, equivocado na linguagem e na estrutura. Decretei, por fim, a morte definitiva do autor. Nunca passaria de um escrevinhador de final de semana.
Assim que mandei, sem nem revisar, o artigo para o jornal, me esqueci completamente de tudo. Passei a trabalhar com grande entusiasmo, até o dia em que o texto saiu, ilustrado com a foto que ele mandara ao editor. E ele sorria de uma maneira espontânea, confiante. Sorria como no tempo em que éramos crianças.
Miguel Sanches Neto (Gazeta do Povo, 08/12/1997)
quarta-feira, dezembro 30
O bisbilhoteiro de bibliotecas
O primeiro livro que comprei na vida, nunca me esqueci. Era menino ainda quando entrei na Livraria Amadeu, na rua Tamoios, no centro de Belo Horizonte e sai de lá com aquele livrinho de 148 páginas, embrulhado num papel que parecia papel de pão. Voo Noturno, de Antoine de Saint-Exupéry, publicado pela Difusão Europeia do Livro, tinha uma capa azul e branca, meio modernista. Uma joia que despertou a minha atenção porque sonhava em ser aviador, antes de sonhar em ser piloto de Fórmula 1, logo eu que, tantos anos depois, sequer sei ligar um automóvel.
Com muito capricho, escrevi o meu nome na página 7, a do prefácio assinado por André Gide, e registrei: Livro número 001. Tinha certeza que, na minha vida, compraria muitos e muitos livros, uns cem. Era o meu sonho ter uma casa forrada de livros por todos os lados.
A minha, naquela época, não tinha muitos. No escritório do meu pai, ele guardava na estante, muitos compêndios técnicos sobre meteorologia, sua profissão, e algumas enciclopédias: O Tesouro da Juventude, o Mundo da Criança, a Delta Larousse e uma, com apenas dois volumes: Como Criar Meninos e Como Criar Meninas.
Um dia perguntei ao meu pai porque ele não comprava a Enciclopédia Britânica, aquela com a lombada gravada em ouro, meu sonho de consumo de menino. Ele disse que era muito cara e eu entendi perfeitamente que criar cinco filhos e ainda comprar uma Enciclopédia Britânica em 30 volumes, não dava mesmo.
Depois de me apaixonar com as aventuras do piloto Fabien do Voo Noturno, parti pro segundo livro, A Filha do Diretor do Circo, que o meu pai tinha, escondido, na sua pequena biblioteca. O livro era meio esquisito porque veio com as páginas coladas e minha mãe teve de abrir, uma a uma com a faca. Nunca mais parei de ler livros.
Jornalista formado, toda casa que ia – e ainda vou – entrevistar pessoas, adoro quando vejo uma estante cheia de livros. Outro dia mesmo fui na casa do Marcelo Dantas e fiquei encantado com a biblioteca que ele tem na cozinha, transbordando de livros de culinária: Nobu, the cookbook, Peru, uma aventura culinária, À mesa com Burle Marx, O livro essencial da cozinha vegetariana, Salted, Wok e muitas outras preciosidades.
Curioso que sou, hoje sempre fotografo com o meu smartphone as bibliotecas dos outros. Adoro ver fotos nos jornais e revistas, em que as pessoas posam na frente de uma estante. Foi assim que descobri um livro meu – O Mundo Acabou – na casa do escritor Moacyr Scliar.
Outro dia, fui ver o filme Que horas elas volta? pela segunda vez, só pra descobrir que livro era aquele que a Jessica se interessou, quando viu a estante do patrão da sua mãe, a Val. Foi prestando muita atenção que tive certeza se tratar de Viva o Povo Brasileiro, do João Ubaldo Ribeiro.
O filme Chico, um Artista Brasileiro, também já vi duas vezes, só pra bisbilhotar a biblioteca do compositor de Vai Passar. O lance é muito rápido mas deu pra ver que Chico tem na casa dele, além do volumoso Dicionário Houaiss, os dois volumes da Mitologia do Kaos, um total de 1.304 páginas que reúne a obra do compositor Jorge Mautner, aquele do Maracatu Atômico, do Samba Japonês e do Me segura que eu vou dar um troço.
Bisbilhotar bibliotecas é bom por isso. Eu nunca poderia imaginar que o filho do Sergio Buarque de Hollanda guardava em casa, escritos de Mautner, como esse:
“Minha missão é a de acordar as pessoas. Pouco a pouco vou virando cada vez mais pregador do que escritor. Na conversa confessional, tudo é diferente e propício! O momento existencial inescapável, as mudanças da face com quem se fala, a respiração, a noite ou o dia que nos envolve”.
Alberto Villas (Carta Capital - 18/12/2015)
Com muito capricho, escrevi o meu nome na página 7, a do prefácio assinado por André Gide, e registrei: Livro número 001. Tinha certeza que, na minha vida, compraria muitos e muitos livros, uns cem. Era o meu sonho ter uma casa forrada de livros por todos os lados.
A minha, naquela época, não tinha muitos. No escritório do meu pai, ele guardava na estante, muitos compêndios técnicos sobre meteorologia, sua profissão, e algumas enciclopédias: O Tesouro da Juventude, o Mundo da Criança, a Delta Larousse e uma, com apenas dois volumes: Como Criar Meninos e Como Criar Meninas.
Um dia perguntei ao meu pai porque ele não comprava a Enciclopédia Britânica, aquela com a lombada gravada em ouro, meu sonho de consumo de menino. Ele disse que era muito cara e eu entendi perfeitamente que criar cinco filhos e ainda comprar uma Enciclopédia Britânica em 30 volumes, não dava mesmo.
Depois de me apaixonar com as aventuras do piloto Fabien do Voo Noturno, parti pro segundo livro, A Filha do Diretor do Circo, que o meu pai tinha, escondido, na sua pequena biblioteca. O livro era meio esquisito porque veio com as páginas coladas e minha mãe teve de abrir, uma a uma com a faca. Nunca mais parei de ler livros.
Jornalista formado, toda casa que ia – e ainda vou – entrevistar pessoas, adoro quando vejo uma estante cheia de livros. Outro dia mesmo fui na casa do Marcelo Dantas e fiquei encantado com a biblioteca que ele tem na cozinha, transbordando de livros de culinária: Nobu, the cookbook, Peru, uma aventura culinária, À mesa com Burle Marx, O livro essencial da cozinha vegetariana, Salted, Wok e muitas outras preciosidades.
Curioso que sou, hoje sempre fotografo com o meu smartphone as bibliotecas dos outros. Adoro ver fotos nos jornais e revistas, em que as pessoas posam na frente de uma estante. Foi assim que descobri um livro meu – O Mundo Acabou – na casa do escritor Moacyr Scliar.
Outro dia, fui ver o filme Que horas elas volta? pela segunda vez, só pra descobrir que livro era aquele que a Jessica se interessou, quando viu a estante do patrão da sua mãe, a Val. Foi prestando muita atenção que tive certeza se tratar de Viva o Povo Brasileiro, do João Ubaldo Ribeiro.
O filme Chico, um Artista Brasileiro, também já vi duas vezes, só pra bisbilhotar a biblioteca do compositor de Vai Passar. O lance é muito rápido mas deu pra ver que Chico tem na casa dele, além do volumoso Dicionário Houaiss, os dois volumes da Mitologia do Kaos, um total de 1.304 páginas que reúne a obra do compositor Jorge Mautner, aquele do Maracatu Atômico, do Samba Japonês e do Me segura que eu vou dar um troço.
Bisbilhotar bibliotecas é bom por isso. Eu nunca poderia imaginar que o filho do Sergio Buarque de Hollanda guardava em casa, escritos de Mautner, como esse:
“Minha missão é a de acordar as pessoas. Pouco a pouco vou virando cada vez mais pregador do que escritor. Na conversa confessional, tudo é diferente e propício! O momento existencial inescapável, as mudanças da face com quem se fala, a respiração, a noite ou o dia que nos envolve”.
Alberto Villas (Carta Capital - 18/12/2015)
Britânicos divulgam lista dos livros mais caros do ano
A AbeBooks, sebo virtual do Reino Unido, divulgou a lista dos livros mais caros vendidos no ano de 2015. Em primeiro lugar, ficou a coleção Natural history of birds treated systematically and adorned with copperplate engraving illustrations, in miniature and life-size , de Saverio Manetti, vendida por £125 mil.
Na segunda colocação aparece a obra Pangeometria, de Nikolai Ivanovich Lobachevskii, um livro do século XIX sobre geometria, que custou £22 mil. Em terceiro ficou o livro Charlie and the chocolate factory, de Robert Dahl, vendido por £16,6 mil. Para conferir a lista completa aqui.
terça-feira, dezembro 29
Traça gorda, aranha morta
Theo Szczepanski |
Na urna de alabastro não há cinzas. Apenas papéis mastigados pela traça. Gorda, saciada, pandulho estufado, ao devorar o olho direito da triste caricatura de Adriana Calcanhoto — bisonha tentativa de tornar-me ilustrador. Desenhos e jornais velhos boiam na poeira da caixa plástica no chão da casa. Aos poucos, recolho vestígios, carrego lembranças. Preparo a casa e o futuro para o fim. Há algum tempo, as paredes de madeira estão sendo destruídas pelos cupins. Os farelos no assoalho denunciam a sanha carnívora das pestes. Os cupins em silêncio devoram a casa; o câncer ruidoso, a garganta de minha mãe.
Presa fácil, acuada entre as sombras de um passado recente, esmago a traça com o indicador esquerdo. A mancha acinzentada escorre pelo nariz de Calcanhoto. Luma de Oliveira rebola a bunda amparada por coxas de aço na capa do jornal moribundo: 31 de janeiro de 2002. O carnaval se aproxima. Os passos anseiam a perfeição. Não lembro se a Luma já havia usado a coleira do Eike. Minha memória é péssima para fatos importantes.
A aranha de patas compridas acaricia os seios inflados de Luma. Esmago-a com delicadeza. O corpo tentacular transforma-se em reduzido emaranhado marrom. Com um guardanapo apago a traça do mapa e envolvo a aranha. Sou um assassino cuidadoso. Deixo tudo sobre a mesa da cozinha e volto à caixa plástica. Parece-me verde. Mas duvido da minha lucidez cromática. Todo daltônico é um mentiroso de si mesmo. Antes de reiniciar minha expedição, certifico-me de que não há outros invasores. Somente palavras nos jornais velhos. E a agenda.
Sei que não é minha. Nunca tive agendas. Agora, tenho uma. A vida piora à medida que uma agenda torna-se imprescindível. É simples, destas que as empresas destinam aos clientes. Na capa, a primeira ironia: OK Recursos Humanos. Ao abri-la, o espanto. É a agenda que minha irmã usava quando morreu: 31 de janeiro de 2002. Tinha 27 anos. Logo, faria 28. A morte não deixou.
O clipe enferrujado sustenta Santo Expedito — o santo das causas urgentes — e a carteirinha de consultas à dentista, cujo sobrenome me soa estranho: Mattana. Nos dados pessoais da agenda leio um endereço devastado pelos cupins, um número telefônico que desapareceu, uma empresa que vende seguros de vida (as ironias me acompanham o tempo todo), um RG que não identifica mais ninguém, e um CPF que não recolhe mais impostos. O grupo sanguíneo A não pertence a sangue algum. Enfim, informações inúteis, quinquilharias ficcionais. Noto que minha irmã tinha uma caligrafia irregular, as letras (sempre de fôrma) não mantêm o mesmo tamanho. Enfeita o i com um pingo ou uma bolinha. Não há muita lógica. Pela agenda da dentista, ela teria nova consulta em 1º de fevereiro. Neste dia, ela foi enterrada. Não sei se a dentista compareceu ao cemitério. Acho que não.
Vasculho uma intimidade que deixou de existir. Uma exumação sem consentimento. Não consigo parar de folhear a agenda que teve apenas um mês de vida. Noto que a maioria das anotações se refere a contas a pagar. Tudo muito organizado. No dia 7 de janeiro, pagou a loja Renner (R$ 28,00), o namorado (R$ 39,00), a cunhada (R$ 50,00), o psicólogo do filho (R$ 20,00), a C&A (R$ 33,51) e o telefone (R$ 42,00). Portanto, morreu com R$ 212,51 a menos na conta bancária no HSBC. Encontro o cartão no meio da agenda. É válido até setembro de 2002. Nunca venceu.
Presos às páginas, alguns papéis me causam certa angústia. Quem os deixou ali? Eu? Meus pais? Impossível descobrir quem alimenta os fantasmas. O Unibanco informa que “sua conta corrente da agência 0612 de número 727376-8 foi encerrada em 14/06/2002”. Uma preocupação a menos. A Caixa Econômica avisa que o saldo do FGTS é R$ 1.528,45. A Pernambucanas cobra um débito e solicita “por favor, procure uma de nossas filiais para liquidá-lo”. A palavra liquidá-lo sugere alguma piada. Em uma fatura, comprovo que o débito com a Pernambucanas é de R$ 34,54. A C&A reclama uma parcela em atraso de R$ 28,93. Em outro comunicado, a Serasa garante que minha irmã fora incluída no cadastro dos maus pagadores. A Pernambucanas não perdoou os R$ 34,54. Noto que ela comprava muito a prazo. Talvez procure as lojas para quitar as dívidas. Afinal, o comércio de vestuário não tem culpa pela morte alheia. Será que no caixão minha irmã usava uma das roupas compradas na C&A ou Pernambucanas? Defunto inadimplente.
Aos poucos, a agenda vai ficando em branco. A última anotação é de 25 de janeiro. De 26 a 31 nada consta. Apenas páginas vazias. A palavra é a coisa mais leve e no entanto carrega tudo. Para os meses seguintes há somente uma anotação sobre o primeiro dia de aula da filha. 18 de fevereiro: “início das aulas da Letícia. Creche Adolfo B. Menezes”. Não lembro quem levou minha sobrinha de cinco anos à escola. Na última página da agenda, logo após os telefones, a Oração a Santo Expedito ganha a letra irregular da minha irmã: “Meu Santo Expedito das causas justas e urgentes, socorrei-me nesta hora de aflição e desespero, intercedei por mim junto ao Nosso Senhor Jesus Cristo [...] Ajudai-me a superar estas horas difíceis, protegei-me de todos que possam me prejudicar, protegei a minha família, atendei ao meu pedido com urgência. Devolvei-me a paz e a tranquilidade. Serei grata pelo resto da minha vida…”.
Quando minha filha chega à cozinha, assusta-se: “Papai, tem uma aranha em cima da mesa”. Apenas respondo: “Não se preocupe. Está morta”.
Rogério Pereira
segunda-feira, dezembro 28
O tempo das bibliotecas privadas está a acabar?
Pelo trabalho que tenho tido de salvar livros e papéis, posso perceber algumas tendências da relação das pessoas com os livros, e ver o modo como, na substituição das gerações, numa elite letrada e educada, algumas coisas estão a mudar. É ainda uma observação muito impressionista, mas penso que fundada. Resumindo e concluindo: está a morrer uma geração que tinha muitos livros, pequenas e médias bibliotecas, e a geração dos seus filhos e netos não sabe o que há-de fazer com aquilo que herda. Não digo isto em sentido pejorativo, até porque seria contra o meu interesse próprio, pois tenho recebido muitas ofertas de bibliotecas, algumas integrais, e compreendo bem demais como os livros se podem tornar um ónus para os mais novos, que não têm condições, nem casas, nem interesse em os manter. Mesmo que os mantivessem, seriam bibliotecas mortas, sem ser usadas ou alimentadas. E uma biblioteca para ser viva precisa de alimento, de livros novos.
Muita gente pensa que uma casa sem livros, ou quase sem livros, como muitos jovens têm, é o resultado de uma substituição de uma tecnologia por outra. Não precisam de livros em papel porque está “tudo” na Internet, e há ebooks, e podem ler no telemóvel, no tablet, no ecrã do computador, tudo o que querem, de graça e sem ocupar espaço nas casas cada vez mais exíguas. Não penso isso, não penso que a substituição da leitura física dos livros em papel, por livros no Kindle, ou em qualquer outro suporte, é comparável ou é uma mera substituição de suporte. É outra coisa.
É verdade que mais gente lê hoje do que no passado, com a democratização do ensino e o avanço da escolarização. Mas haver mais gente a ler, não significa que se reproduzam o mesmo grau qualitativo de leitura, de necessidade de leitura, de intensidade de leitura, o hábito quase quotidiano de ler e de ler durante um tempo que hoje seria tido por “muito tempo”. A verdade é que as pessoas estão a ler de forma diferente, mas também é verdade que estão a ler menos porque, se não fosse assim, se podiam “desfazer” das pesadas bibliotecas de seus pais, mas estariam a fazer a sua, uma estante ou duas, de livros realmente lidos, ou seja, teriam mais livros do que têm. Leitores dedicados, com a mesma pulsão do passado, em ecrã, ainda é uma maravilha que está para aparecer. Duas horas a ler um romance, era um tempo trivial de leitura há 40 anos. Quem é que está duas horas diante de um ecrã a ler Balzac, Faulkner, Roth ou Coetzee? E utilizo deliberadamente estes exemplos, porque quem lê estes autores lê-os em livro, até porque, razão grande, é mais cómodo. E também não me parece que façam o mesmo a ler literatura policial, ou ficção científica ou romances cor-de-rosa, num ecrã.
Não escrevo isto por qualquer nostalgia do cheiro dos livros ou da textura do papel. Percebo que há vários tipos de livros que são substituídos com vantagem por um ecrã, e o hipertexto dá uma dimensão completamente nova a um certo tipo de leitura, introduzindo volume e dimensão espacial à folha fixa do papel. Manuais técnicos, livros de referência, enciclopédias (em parte), livros técnicos, cada vez têm mais sentido apenas em versão electrónica.
Poemas, artigos, pequenos contos, rápidos, também não fazem grande diferença. O tempo que se demora a ler é um factor. Como é um factor a fluidez da leitura de ficção, que é linear e não se coaduna com o volume do hipertexto. Mas digam-me quantos dos leitores deste artigo, novos ou velhos, leram alguma vez Eça de Queirós, Cardoso Pires, Saramago, Esteves Cardoso, Margarida Rebelo Pinto, num ecrã?
Coloquem-se a ler um livro de papel ou a ler um livro no ecrã. O texto é o mesmo, mas há várias coisas que fazemos, mesmo inconscientemente e que se fazem melhor num livro em papel do que num ecrã. Uma delas é, por exemplo, folhear, e folhear não é “procurar” como se pode fazer facilmente com um motor de busca, aí o ecrã tem vantagem, mas andar para trás e para a frente à procura de uma frase, um nome de uma personagem, uma descrição.
A favor do livro em papel jogam as nossas limitações físicas e psicológicas. E, enquanto elas não forem superadas por qualquer método que nos faça poder ver ao mesmo tempo mais espaço do que o que existe num ecrã de telemóvel, ver bem em letra pequena, estar confortavelmente horas diante de um ecrã, o livro mantém vantagem. E mesmo os jovens que estão o dia todo dependurados num telemóvel não estão a ler, mas a receber e a mandar mensagens, a ver filmes no YouTube, ou a jogar. Por isso, a tese da substituição para explicar a desaparição dos livros nas casas parece-me errada.
A gente não tem os olhos que quer, nem os ouvidos, nem a cabeça. Todos temos regras que estão inscritas no nosso corpo. As máquinas ajudam, mas não acabam com essas limitações. A máquina livro tem respondido muito bem ao nosso corpo. Tão cedo não será substituída. As razões por que as pessoas lêem menos e lêem pior são outras. Estão na sociedade, não nas tecnologias.
José Pacheco Pereira,
Chi Yung-chi |
É verdade que mais gente lê hoje do que no passado, com a democratização do ensino e o avanço da escolarização. Mas haver mais gente a ler, não significa que se reproduzam o mesmo grau qualitativo de leitura, de necessidade de leitura, de intensidade de leitura, o hábito quase quotidiano de ler e de ler durante um tempo que hoje seria tido por “muito tempo”. A verdade é que as pessoas estão a ler de forma diferente, mas também é verdade que estão a ler menos porque, se não fosse assim, se podiam “desfazer” das pesadas bibliotecas de seus pais, mas estariam a fazer a sua, uma estante ou duas, de livros realmente lidos, ou seja, teriam mais livros do que têm. Leitores dedicados, com a mesma pulsão do passado, em ecrã, ainda é uma maravilha que está para aparecer. Duas horas a ler um romance, era um tempo trivial de leitura há 40 anos. Quem é que está duas horas diante de um ecrã a ler Balzac, Faulkner, Roth ou Coetzee? E utilizo deliberadamente estes exemplos, porque quem lê estes autores lê-os em livro, até porque, razão grande, é mais cómodo. E também não me parece que façam o mesmo a ler literatura policial, ou ficção científica ou romances cor-de-rosa, num ecrã.
Não escrevo isto por qualquer nostalgia do cheiro dos livros ou da textura do papel. Percebo que há vários tipos de livros que são substituídos com vantagem por um ecrã, e o hipertexto dá uma dimensão completamente nova a um certo tipo de leitura, introduzindo volume e dimensão espacial à folha fixa do papel. Manuais técnicos, livros de referência, enciclopédias (em parte), livros técnicos, cada vez têm mais sentido apenas em versão electrónica.
Poemas, artigos, pequenos contos, rápidos, também não fazem grande diferença. O tempo que se demora a ler é um factor. Como é um factor a fluidez da leitura de ficção, que é linear e não se coaduna com o volume do hipertexto. Mas digam-me quantos dos leitores deste artigo, novos ou velhos, leram alguma vez Eça de Queirós, Cardoso Pires, Saramago, Esteves Cardoso, Margarida Rebelo Pinto, num ecrã?
Coloquem-se a ler um livro de papel ou a ler um livro no ecrã. O texto é o mesmo, mas há várias coisas que fazemos, mesmo inconscientemente e que se fazem melhor num livro em papel do que num ecrã. Uma delas é, por exemplo, folhear, e folhear não é “procurar” como se pode fazer facilmente com um motor de busca, aí o ecrã tem vantagem, mas andar para trás e para a frente à procura de uma frase, um nome de uma personagem, uma descrição.
A favor do livro em papel jogam as nossas limitações físicas e psicológicas. E, enquanto elas não forem superadas por qualquer método que nos faça poder ver ao mesmo tempo mais espaço do que o que existe num ecrã de telemóvel, ver bem em letra pequena, estar confortavelmente horas diante de um ecrã, o livro mantém vantagem. E mesmo os jovens que estão o dia todo dependurados num telemóvel não estão a ler, mas a receber e a mandar mensagens, a ver filmes no YouTube, ou a jogar. Por isso, a tese da substituição para explicar a desaparição dos livros nas casas parece-me errada.
A gente não tem os olhos que quer, nem os ouvidos, nem a cabeça. Todos temos regras que estão inscritas no nosso corpo. As máquinas ajudam, mas não acabam com essas limitações. A máquina livro tem respondido muito bem ao nosso corpo. Tão cedo não será substituída. As razões por que as pessoas lêem menos e lêem pior são outras. Estão na sociedade, não nas tecnologias.
José Pacheco Pereira,
quinta-feira, dezembro 24
Noite de Natal
Era uma vez uma casa pintada de amarelo com um jardim à volta.
No jardim havia tílias, bétulas, um cedro muito antigo, uma cerejeira e dois plátanos. Era debaixo do cedro que Joana brincava. Com musgo e ervas e paus fazia muitas casas pequenas encostadas ao grande tronco escuro. Depois imaginava os anõezinhos que, se existissem, poderiam morar naquelas casas. E fazia uma casa maior e mais complicada para o rei dos anões.
Joana não tinha irmãos e brincava sozinha. Mas de vez em quando vinham brincar os dois primos ou outros meninos. E, às vezes, ela ia a uma festa. Mas esses meninos a casa de quem ela ia e que vinham a sua casa não eram realmente amigos: eram visitas. Faziam troça das suas casas de musgo e maçavam-se imenso no seu jardim.
E Joana tinha muita pena de não saber brincar com os outros meninos. Só sabia estar sozinha.
Mas um dia encontrou um amigo. Foi numa manhã de Outubro.
Joana estava encarrapitada no muro. E passou pela rua um garoto. Estava todo vestido de remendos e os seus olhos brilhavam como duas estrelas. Caminhava devagar pela beira do passeio sorrindo às folhas do Outono. O coração de Joana deu um pulo na garganta.
— Ah! — disse ela. E pensou:
«Parece um amigo. É exactamente igual a um amigo.» E do alto do muro chamou-o:
— Bom dia!
O garoto voltou a cabeça, sorriu e respondeu:
— Bom dia!
Ficaram os dois um momento calados.
Depois Joana perguntou:
— Como é que te chamas?
— Manuel — respondeu o garoto.
— Eu chamo-me Joana.
E de novo entre os dois, leve e aéreo, passou um silêncio. Ouviu-se tocar ao longe o sino de uma quinta. Até que o garoto disse:
— O teu jardim é muito bonito.
— É, vem ver.
Joana desceu do muro e foi abrir o portão.
E foram os dois pelo jardim fora. O rapazinho olhava uma por uma cada coisa. Joana mostrou-lhe o tanque e os peixes vermelhos. Mostrou-lhe o pomar, as laranjeiras e a horta. E chamou os cães para ele os conhecer. E mostrou-lhe a casa da lenha onde dormia um gato. E mostrou-lhe todas as árvores e as relvas e as flores.
— É lindo, é lindo — dizia o rapazinho gravemente. — Aqui — disse Joana — é o cedro. É aqui que eu brinco. E sentaram-se sob a sombra redonda do cedro.
A luz da manhã rodeava o jardim: tudo estava cheio de paz e de frescura. Às vezes do alto de uma tília caía uma folha amarela que dava voltas no ar.
Joana foi buscar pedras, paus e musgo e começaram os dois a construir a casa do rei dos anões.
Brincaram assim durante muito tempo.
Até que ao longe apitou uma fábrica.
— Meio-dia — disse o garoto — tenho de me ir embora.
— Onde é que tu moras?
— Além nos pinhais.
— É lá a tua casa?
— É, mas não é bem uma casa.
— Então?
— O meu pai está no céu. Por isso somos muito pobres. A minha mãe trabalha todo o dia mas não temos dinheiro para ter uma casa.
— Mas à noite onde é que dormes?
— O dono dos pinhais tem uma cabana onde de noite dormem uma vaca e um burro. E por esmola dá-me licença de dormir ali também.
— E onde é que brincas?
— Brinco em toda a parte. Dantes morávamos no centro da cidade e eu brincava no passeio e nas valetas. Brincava com latas vazias, com jornais velhos, com trapos e com pedras. Agora brinco no pinhal e na estrada. Brinco com as ervas, com os animais e com as flores. Pode-se brincar em toda a parte.
— Mas eu não posso sair deste jardim. Volta amanhã para brincar comigo.
E daí em diante todas as manhãs o rapazinho passava pela rua. Joana esperava-o empoleirada em cima do muro.
Abria-lhe a porta e iam os dois sentar-se sob a sombra redonda do cedro.
E foi assim que Joana encontrou um amigo.
Era um amigo maravilhoso. As flores voltavam as suas corolas quando ele passava, a luz era mais brilhante em seu redor e os pássaros vinham comer na palma das suas mãos as migalhas de pão que Joana ia buscar à cozinha.
No jardim havia tílias, bétulas, um cedro muito antigo, uma cerejeira e dois plátanos. Era debaixo do cedro que Joana brincava. Com musgo e ervas e paus fazia muitas casas pequenas encostadas ao grande tronco escuro. Depois imaginava os anõezinhos que, se existissem, poderiam morar naquelas casas. E fazia uma casa maior e mais complicada para o rei dos anões.
Joana não tinha irmãos e brincava sozinha. Mas de vez em quando vinham brincar os dois primos ou outros meninos. E, às vezes, ela ia a uma festa. Mas esses meninos a casa de quem ela ia e que vinham a sua casa não eram realmente amigos: eram visitas. Faziam troça das suas casas de musgo e maçavam-se imenso no seu jardim.
E Joana tinha muita pena de não saber brincar com os outros meninos. Só sabia estar sozinha.
Mas um dia encontrou um amigo. Foi numa manhã de Outubro.
Joana estava encarrapitada no muro. E passou pela rua um garoto. Estava todo vestido de remendos e os seus olhos brilhavam como duas estrelas. Caminhava devagar pela beira do passeio sorrindo às folhas do Outono. O coração de Joana deu um pulo na garganta.
— Ah! — disse ela. E pensou:
«Parece um amigo. É exactamente igual a um amigo.» E do alto do muro chamou-o:
— Bom dia!
O garoto voltou a cabeça, sorriu e respondeu:
— Bom dia!
Ficaram os dois um momento calados.
Depois Joana perguntou:
— Como é que te chamas?
— Manuel — respondeu o garoto.
— Eu chamo-me Joana.
E de novo entre os dois, leve e aéreo, passou um silêncio. Ouviu-se tocar ao longe o sino de uma quinta. Até que o garoto disse:
— O teu jardim é muito bonito.
— É, vem ver.
Joana desceu do muro e foi abrir o portão.
E foram os dois pelo jardim fora. O rapazinho olhava uma por uma cada coisa. Joana mostrou-lhe o tanque e os peixes vermelhos. Mostrou-lhe o pomar, as laranjeiras e a horta. E chamou os cães para ele os conhecer. E mostrou-lhe a casa da lenha onde dormia um gato. E mostrou-lhe todas as árvores e as relvas e as flores.
— É lindo, é lindo — dizia o rapazinho gravemente. — Aqui — disse Joana — é o cedro. É aqui que eu brinco. E sentaram-se sob a sombra redonda do cedro.
A luz da manhã rodeava o jardim: tudo estava cheio de paz e de frescura. Às vezes do alto de uma tília caía uma folha amarela que dava voltas no ar.
Joana foi buscar pedras, paus e musgo e começaram os dois a construir a casa do rei dos anões.
Brincaram assim durante muito tempo.
Até que ao longe apitou uma fábrica.
— Meio-dia — disse o garoto — tenho de me ir embora.
— Onde é que tu moras?
— Além nos pinhais.
— É lá a tua casa?
— É, mas não é bem uma casa.
— Então?
— O meu pai está no céu. Por isso somos muito pobres. A minha mãe trabalha todo o dia mas não temos dinheiro para ter uma casa.
— Mas à noite onde é que dormes?
— O dono dos pinhais tem uma cabana onde de noite dormem uma vaca e um burro. E por esmola dá-me licença de dormir ali também.
— E onde é que brincas?
— Brinco em toda a parte. Dantes morávamos no centro da cidade e eu brincava no passeio e nas valetas. Brincava com latas vazias, com jornais velhos, com trapos e com pedras. Agora brinco no pinhal e na estrada. Brinco com as ervas, com os animais e com as flores. Pode-se brincar em toda a parte.
— Mas eu não posso sair deste jardim. Volta amanhã para brincar comigo.
E daí em diante todas as manhãs o rapazinho passava pela rua. Joana esperava-o empoleirada em cima do muro.
Abria-lhe a porta e iam os dois sentar-se sob a sombra redonda do cedro.
E foi assim que Joana encontrou um amigo.
Era um amigo maravilhoso. As flores voltavam as suas corolas quando ele passava, a luz era mais brilhante em seu redor e os pássaros vinham comer na palma das suas mãos as migalhas de pão que Joana ia buscar à cozinha.
Sophia de Mello Breyner
Um conto de Natal
De sacola e bordão, o velho Garrinchas fazia os possíveis para se aproximar da terra. A necessidade levara-o longe de mais. Pedir é um triste ofício, e pedir em Lourosa, pior. Ninguém dá nada. Tenha paciência, Deus o favoreça, hoje não pode ser - e beba um desgraçado água dos ribeiros e coma pedras! Por isso, que remédio senão alargar os horizontes, e estender a mão à caridade de gente desconhecida, que ao menos se envergonhasse de negar uma côdea a um homem a meio do padre-nosso. Sim, rezava quando batia a qualquer porta. Gostavam... Lá se tinha fé na oração, isso era outra conversa. As boas acções é que nos salvam. Não se entra no céu com ladainhas, tirassem daí o sentido. A coisa fia mais fino! Mas, enfim... Segue-se que só dando ao canelo por muito largo conseguia viver.
E ali vinha de mais uma dessas romarias, bem escusadas se o mundo fosse de outra maneira. Muito embora trouxesse dez reis no bolso e o bornal cheio, o certo é que já lhe custava arrastar as pernas. Derreadinho! Podia, realmente, ter ficado em Loivos. Dormia, e no dia seguinte, de manhãzinha, punha-se a caminho. Mas quê! Metera-se-lhe na cabeça consoar à manjedoira nativa... E a verdade é que nem casa nem família o esperavam. Todo o calor possível seria o do forno do povo, permanentemente escancarado à pobreza.
Em todo o caso sempre era passar a noite santa debaixo de telhas conhecidas, na modorra de um borralho de estevas e giestas familiares, a respirar o perfume a pão fresco da última cozedura... Essa regalia ao menos dava-a Lourosa aos desamparados. Encher-lhes a barriga, não. Agora albergar o corpo e matar o sono naquele santuário colectivo da fome, podiam. O problema estava em chegar lá. O raio da serra nunca mais acabava, e sentia-se cansado. Setenta e cinco anos, parecendo que não, é um grande carrego. Ainda por cima atrasara-se na jornada em Feitais. Dera uma volta ao lugarejo, as bichas pegaram, a coisa começou a render, e esqueceu-se das horas. Quando foi a dar conta passava das quatro. E, como anoitecia cedo não havia outro remédio senão ir agora a mata-cavalos, a correr contra o tempo e contra a idade, com o coração a refilar. Aflito, batia-lhe na taipa do peito, a pedir misericórdia. Tivesse paciência. O remédio era andar para diante. E o pior de tudo é que começava a nevar! Pela amostra, parecia coisa ligeira. Mas vamos ao caso que pegasse a valer? Bem, um pobre já está acostumado a quantas tropelias a sorte quer. Ele então, se fosse a queixar-se! Cada desconsideração do destino! Valia-lhe o bom feitio. Viesse o que viesse, recebia tudo com a mesma cara. Aborrecer-se para quê?! Não lucrava nada! Chamavam-lhe filósofo... Areias, queriam dizer. Importava-se lá.
E caía, o algodão em rama! Caía, sim senhor! Bonito! Felizmente que a Senhora dos Prazeres ficava perto. Se a brincadeira continuasse, olha, dormia no cabido! O que é, sendo assim, adeus noite de Natal em Lourosa...
Apressou mais o passo, fez ouvidos de mercador à fadiga, e foi rompendo a chuva de pétalas. Rico panorama!
Com patorras de elefante e branco como um moleiro, ao cabo de meia hora de caminho chegou ao adro da ermida. À volta não se enxergava um palmo sequer de chão descoberto. Caiados, os penedos lembravam penitentes.
Não havia que ver: nem pensar noutro pouso. E dar graças!
Entrou no alpendre, encostou o pau à parede, arreou o alforge, sacudiu-se, e só então reparou que a porta da capela estava apenas encostada. Ou fora esquecimento, ou alguma alma pecadora forçara a fechadura.
Vá lá! Do mal o menos. Em caso de necessidade, podia entrar e abrigar-se dentro. Assunto a resolver na ocasião devida... Para já, a fogueira que ia fazer tinha de ser cá fora. O diabo era arranjar lenha.
Saiu, apanhou um braçado de urgueiras, voltou, e tentou acendê-las. Mas estavam verdes e húmidas, e o lume, depois de um clarão animador, apagou-se. Recomeçou três vezes, e três vezes o mesmo insucesso. Mau! Gastar os fósforos todos é que não.
Num começo de angústia, porque o ar da montanha tolhia e começava a escurecer, lembrou-se de ir à sacristia ver se encontrava um bocado de papel.
Descobriu, realmente, um jornal a forrar um gavetão, e já mais sossegado, e também agradecido ao céu por aquela ajuda, olhou o altar.
Quase invisível na penumbra, com o divino filho ao colo, a Mãe de Deus parecia sorrir-lhe. Boas festas! - desejou-lhe então, a sorrir também. Contente daquela palavra que lhe saíra da boca sem saber como, voltou-se e deu com o andor da procissão arrumado a um canto. E teve outra ideia. Era um abuso, evidentemente, mas paciência. Lá morrer de frio, isso vírgula! Ia escavacar o ar canho. Olarila! Na altura da romaria que arranjassem um novo.
Daí a pouco, envolvido pela negrura da noite, o coberto, não desfazendo, desafiava qualquer lareira afortunada. A madeira seca do palanquim ardia que regalava; só de cheirar o naco de presunto que recebera em Carvas crescia água na boca; que mais faltava?
Enxuto e quente, o Garrinchas dispôs-se então a cear. Tirou a navalha do bolso, cortou um pedaço de broa e uma fatia de febra e sentou-se. Mas antes da primeira bocada a alma deu-lhe um rebate e, por descargo de consciência, ergueu-se e chegou-se à entrada da capela. O clarão do lume batia em cheio na talha dourada e enchia depois a casa toda. É servida?
A Santa pareceu sorrir-lhe outra vez, e o menino também.
E o Garrinchas, diante daquele acolhimento cada vez mais cordial, não esteve com meias medidas: entrou, dirigiu-se ao altar, pegou na imagem e trouxe-a para junto da fogueira.
- Consoamos aqui os três - disse, com a pureza e a ironia de um patriarca. – A Senhora faz de quem é; o pequeno a mesma coisa; e eu, embora indigno, faço de S. José.
Miguel Torga
quarta-feira, dezembro 23
Meu presente de Natal
Não me comove esta época do ano. Nunca me interessei pelas festas de Natal e de Ano Novo. Quando criança passava as férias de verão na Fazenda do Paiol, nome pomposo para um pedaço de terra cheio de voçorocas e coberto por capim-gordura perdido na colônia italiana de Rodeiro, Zona da Mata mineira. Lá moravam os Ruffato, governados pela nonna Marieta Micheletto, mulher de gestos raros e econômicas palavras, longos cabelos cinzentos ajeitados em coque, melancólicos olhos negros como os tecidos que vestiam sua vetusta viuvez.
Findo o período letivo, minha mãe arrumava as parcas roupas numa bolsa de viagem de napa e me colocava no ônibus da Viação Marotti, um Mercedes-Benz do final da década de 1950, recomendando que o motorista, o próprio Marotti, baixinho e sempre mal-humorado, me apeasse na praça São Sebastião, onde certamente haveria alguém à espera. Aos solavancos atravessávamos as montanhas percorrendo a estrada esburacada de terra, rezando para que as chuvas, que nos espiavam por detrás das nuvens carregadas, não desabassem, senão quedávamos atolados pelo caminho.
E lá íamos envoltos na poeirama, a todo momento estacando no meio do nada para a subida ou descida de passageiros arrastando mercadorias acondicionadas em sacos de aniagem. As cidades se sucediam: Dona Eusébia, onde meu pai havia sido criado como agregado dos Nalon, donos de viveiros de mudas de laranja e limão; Astolfo Dutra, o rosto e as mãos lambuzadas de picolé; Sobral Pinto, fedor que emanava da fábrica de adubos; Diamante, tão pequena mas possuidora de uma estação de trem; e, após duas horas de sol e calor, Rodeiro.
O ônibus contornava a praça, estacionando ao lado da igreja de São Sebastião. Marotti me desembarcava e entregava a um dos irmãos da minha mãe, Antônio ou Pedro. Após pedir a bênção, cruzávamos a praça, eu fascinado com os saguis que habitavam as árvores raquíticas, até alcançarmos a charrete estacionada em frente ao bar do Pivatto. Antes de rumarmos para a roça, passávamos na padaria do seu Mazzini para nos abastecer de caçarola, um pudim de queijo que, junto à piada, espécie de panqueca doce que substituía o pão pela manhã, dimensiona a vastidão do tempo que se foi.
Na Fazenda do Paiol os dias transcorriam mergulhados em irreal felicidade. O cheiro de manga abraçava-nos, meninos e meninas trepados nos troncos grossos, o sumo da fruta melando as mãos, a boca, o rosto, escorrendo pelo pescoço, coalhando de nódoas as roupas. Mangas que iriam se transformar em um líquido pastoso amarelo-avermelhado, depois de horas e horas de revezamento entre tias e primas, colheres de pau remexendo enormes tachos de cobre assentados sobre o fogão improvisado no terreiro, à sombra de uma figueira.
Uma madrugada eu despertava, o coração sobressaltado, com o berro agônico do porco. Longo dia, o da matança. Coagulado, o sangue viraria chouriço. A gordura armazenaria parte da carne em latas de conserva – quanto mais tempo permanecesse imersa na banha, mais saborosa se tornava. Outra parte seria pendurada em defumadores sobre o fogão de lenha e outra ainda seria usada para fazer linguiça. A pele rendia torresmos; os ossos alimentavam os cachorros. Ao final, tudo seria distribuído equitativamente entre os parentes – e ainda alguém lembraria de reservar porções para vizinhos distantes e pobres, que mal conhecíamos.
Então, o 24 de dezembro chegava. Acordávamos cedo para entrar na fila do banho – que naquela data exigia bem mais que apenas deixar a água escorrer pelo corpo. Éramos inspecionados, cheirados e vigiados. Após o almoço, em nada diferente das refeições dos outros dias, púnhamos a roupa mais bonita e os melhores calçados, e rumávamos para Rodeiro. As mulheres e as crianças pequenas, de charrete. Os homens, a cavalo. As crianças maiores e os adolescentes, a pé. Pouco a pouco vencíamos o trajeto, cortando as terras dos Ferrari, dos Volpato, dos Vanelli, dos Paschoalino e dos Conti, quando enfim avistávamos os primeiros telhados do povoado.
Ao entrar em Rodeiro nos espalhávamos por entre a italianada que acorria dos confins das montanhas, gente que muitas vezes só se dirigia à cidade naquela ocasião. A praça São Sebastião enxameava e aproveitávamos para colocar as novidades em dia. Negócios eram tratados, namoros começavam, antipatias se consolidavam. Ao aproximar a meia-noite, todos nos encaminhávamos à igreja para participar da Missa do Galo. O padre Jaime, um holandês beberrão e sistemático, que falava uma língua incompreensível, adiava o encerramento da cerimônia enfadonha, para desespero dos fiéis.
Não havia luzinhas chinesas. Não havia árvores de Natal. Não havia Papai Noel. Não havia ceia. Não havia troca de presentes. Não havia espírito natalino. Havia, na volta para a roça, apenas a baça claridade da lua banhando a estrada, miríade de estrelas latejando na escuridão infinita e o ruído dos nossos passos calados, intimidados pela beleza do universo. Se eu pudesse reivindicar um presente de Natal seria esse meu pedido: ter de novo aquela inocência, aquela ingenuidade, aquela paz que habita a verdade das coisas simples e que vamos desperdiçando ao longo da vida.
Findo o período letivo, minha mãe arrumava as parcas roupas numa bolsa de viagem de napa e me colocava no ônibus da Viação Marotti, um Mercedes-Benz do final da década de 1950, recomendando que o motorista, o próprio Marotti, baixinho e sempre mal-humorado, me apeasse na praça São Sebastião, onde certamente haveria alguém à espera. Aos solavancos atravessávamos as montanhas percorrendo a estrada esburacada de terra, rezando para que as chuvas, que nos espiavam por detrás das nuvens carregadas, não desabassem, senão quedávamos atolados pelo caminho.
E lá íamos envoltos na poeirama, a todo momento estacando no meio do nada para a subida ou descida de passageiros arrastando mercadorias acondicionadas em sacos de aniagem. As cidades se sucediam: Dona Eusébia, onde meu pai havia sido criado como agregado dos Nalon, donos de viveiros de mudas de laranja e limão; Astolfo Dutra, o rosto e as mãos lambuzadas de picolé; Sobral Pinto, fedor que emanava da fábrica de adubos; Diamante, tão pequena mas possuidora de uma estação de trem; e, após duas horas de sol e calor, Rodeiro.
O ônibus contornava a praça, estacionando ao lado da igreja de São Sebastião. Marotti me desembarcava e entregava a um dos irmãos da minha mãe, Antônio ou Pedro. Após pedir a bênção, cruzávamos a praça, eu fascinado com os saguis que habitavam as árvores raquíticas, até alcançarmos a charrete estacionada em frente ao bar do Pivatto. Antes de rumarmos para a roça, passávamos na padaria do seu Mazzini para nos abastecer de caçarola, um pudim de queijo que, junto à piada, espécie de panqueca doce que substituía o pão pela manhã, dimensiona a vastidão do tempo que se foi.
Na Fazenda do Paiol os dias transcorriam mergulhados em irreal felicidade. O cheiro de manga abraçava-nos, meninos e meninas trepados nos troncos grossos, o sumo da fruta melando as mãos, a boca, o rosto, escorrendo pelo pescoço, coalhando de nódoas as roupas. Mangas que iriam se transformar em um líquido pastoso amarelo-avermelhado, depois de horas e horas de revezamento entre tias e primas, colheres de pau remexendo enormes tachos de cobre assentados sobre o fogão improvisado no terreiro, à sombra de uma figueira.
Uma madrugada eu despertava, o coração sobressaltado, com o berro agônico do porco. Longo dia, o da matança. Coagulado, o sangue viraria chouriço. A gordura armazenaria parte da carne em latas de conserva – quanto mais tempo permanecesse imersa na banha, mais saborosa se tornava. Outra parte seria pendurada em defumadores sobre o fogão de lenha e outra ainda seria usada para fazer linguiça. A pele rendia torresmos; os ossos alimentavam os cachorros. Ao final, tudo seria distribuído equitativamente entre os parentes – e ainda alguém lembraria de reservar porções para vizinhos distantes e pobres, que mal conhecíamos.
Ao entrar em Rodeiro nos espalhávamos por entre a italianada que acorria dos confins das montanhas, gente que muitas vezes só se dirigia à cidade naquela ocasião. A praça São Sebastião enxameava e aproveitávamos para colocar as novidades em dia. Negócios eram tratados, namoros começavam, antipatias se consolidavam. Ao aproximar a meia-noite, todos nos encaminhávamos à igreja para participar da Missa do Galo. O padre Jaime, um holandês beberrão e sistemático, que falava uma língua incompreensível, adiava o encerramento da cerimônia enfadonha, para desespero dos fiéis.
Não havia luzinhas chinesas. Não havia árvores de Natal. Não havia Papai Noel. Não havia ceia. Não havia troca de presentes. Não havia espírito natalino. Havia, na volta para a roça, apenas a baça claridade da lua banhando a estrada, miríade de estrelas latejando na escuridão infinita e o ruído dos nossos passos calados, intimidados pela beleza do universo. Se eu pudesse reivindicar um presente de Natal seria esse meu pedido: ter de novo aquela inocência, aquela ingenuidade, aquela paz que habita a verdade das coisas simples e que vamos desperdiçando ao longo da vida.
Chegou carta para você
É minha, querendo desejar coisas boas, adianto logo os seus termos gerais. Pego a onda, aproveitando a época que deixa todo mundo meio mexido e mais essa moda de recuperar o hábito de escrever cartas, até na política, mesmo que com desaforos ou queixumes; ou cartões, bilhetes, inscrições de paredes, ou em postes, faixas e até no asfalto, que aqui em São Paulo é bom de andar observando até nas tampas de bueiros. Elas estão lá: frases positivas, pensamentos, arte na rua. Minha carta vai chegar por e-mail, ou você vai lê-la já publicada em algum veículo, mas isso será só um detalhe. É uma carta para você.
Pensa numa letra bem bonita, daquelas de caligrafia, de nome escrito em envelope de convite de casamento; e numa folha de fino papel de tons claros da qual exale seu aroma predileto. Não vou tentar acertar, poderia errar e não há coisa pior do que perfume que não se gosta. Você escolhe. Imagine. Decida até se o papel tem linhas. Que sua carta chegue a mais bela.
Escreverei em dourado, primeiro porque acho chique escrever em dourado. E porque pelo que estou vendo por aí, essa passagem de ano vai revigorar o dourado – ligado ao ouro e às nossas necessidades e desejos de uma graninha para pagar as contas e quem sabe sobrar algum. Pode crer: só vai dar dourado porque está todo mundo numa pinduca danada, que esse ano nos descapitalizou, para ficar mais elegante afirmar. Dourado, amarelo e o indefectível branco, aquele da paz para lá para cá, das juras em atitudes que eu pessoalmente adoraria que continuassem mesmo, depois da meia noite, pelo menos até o dia 2 de janeiro, o que dificilmente ocorrerá, como sempre. Cá entre nós: promessas de fim de ano só não são piores do que jurar regime na segunda-feira.
Com o barco desgovernado nesses mares que navegamos, ando temendo até pelas Iemanjás que serão postas no mar à meia noite, para além das sete ondinhas. Junto com ela, nos frágeis barquinhos de madeira, se além dos perfumes e flores ela tiver de levar também tantas as coisas que andamos precisando pedir. Naufrágios, na certa.
Chegou o fim de ano. Nem parece, mas chegou. Se dependesse dos enfeites nem notaríamos. Sumiram as luzinhas que tanto gosto de ver piscando nas casas, janelas. As chinesinhas ficaram largadas em caixas nos fundos dos armários. Entendo. Também não acendi as minhas, de tanto desânimo. Mas precisamos reagir. Esse é um dos motivos dessa minha carta. Dizer que essa descrença geral está no deixando muito tristes, e eles não merecem nem mais as nossas mágoas. Dizer, na verdade informar, que a gente ainda vai ficar sabendo de muito mais coisas que eles todos fizeram nos verões, outonos, invernos e primaveras passadas; esse poço não tem fundo.
Tantos assuntos, e essa loucura de agora todo mundo nem ler muito mais do que 140 caracteres, ou até menos – que ficar teclando nesses aparelhinhos celulares requer habilidade e treinamento pesado. Daí tudo se abrevia, vira emoticon, mensagem cifrada. Isso me preocupa, tenho sempre de prender sua atenção, amarrá-los comigo alguns minutos. Que imagem posso usar nessa carta aqui? Um coração, um beijo? Vou deixar também para você decidir como quer na sua carta. Vai depender do que quer ouvir. Ou melhor, ler.
Mas posso escrever do muito que a gente ainda tem para falar um com o outro, ouvir, responder, aprender, descobrir, buscando soluções, analisando os diversos ângulos. Posso fazer minhas observações.
E é o que vou fazer. Espero que por muito tempo. Neste ano e nos próximos. Escrever. Escrever sempre que eu puder e toda semana nos artigos que encontrará, nas emoções que demonstro, coisas que eu conto, nas broncas que dou, nas ironias que uso, e até nos recados que mando e não sei se ele lê, nas declarações de entrelinhas de amor.
A carta de hoje eu começaria assim, primeiro com cabeçalho, que adoro desde os tempos de primário e que enfeita a entrada das cartas:
São Paulo, dezembro de 2015.
Eu me orgulho muito de saber que está aí. Muito obrigada. Até o próximo, até a próxima.
Com afeto,
Marli Gonçalves
Pensa numa letra bem bonita, daquelas de caligrafia, de nome escrito em envelope de convite de casamento; e numa folha de fino papel de tons claros da qual exale seu aroma predileto. Não vou tentar acertar, poderia errar e não há coisa pior do que perfume que não se gosta. Você escolhe. Imagine. Decida até se o papel tem linhas. Que sua carta chegue a mais bela.
Escreverei em dourado, primeiro porque acho chique escrever em dourado. E porque pelo que estou vendo por aí, essa passagem de ano vai revigorar o dourado – ligado ao ouro e às nossas necessidades e desejos de uma graninha para pagar as contas e quem sabe sobrar algum. Pode crer: só vai dar dourado porque está todo mundo numa pinduca danada, que esse ano nos descapitalizou, para ficar mais elegante afirmar. Dourado, amarelo e o indefectível branco, aquele da paz para lá para cá, das juras em atitudes que eu pessoalmente adoraria que continuassem mesmo, depois da meia noite, pelo menos até o dia 2 de janeiro, o que dificilmente ocorrerá, como sempre. Cá entre nós: promessas de fim de ano só não são piores do que jurar regime na segunda-feira.
Com o barco desgovernado nesses mares que navegamos, ando temendo até pelas Iemanjás que serão postas no mar à meia noite, para além das sete ondinhas. Junto com ela, nos frágeis barquinhos de madeira, se além dos perfumes e flores ela tiver de levar também tantas as coisas que andamos precisando pedir. Naufrágios, na certa.
Chegou o fim de ano. Nem parece, mas chegou. Se dependesse dos enfeites nem notaríamos. Sumiram as luzinhas que tanto gosto de ver piscando nas casas, janelas. As chinesinhas ficaram largadas em caixas nos fundos dos armários. Entendo. Também não acendi as minhas, de tanto desânimo. Mas precisamos reagir. Esse é um dos motivos dessa minha carta. Dizer que essa descrença geral está no deixando muito tristes, e eles não merecem nem mais as nossas mágoas. Dizer, na verdade informar, que a gente ainda vai ficar sabendo de muito mais coisas que eles todos fizeram nos verões, outonos, invernos e primaveras passadas; esse poço não tem fundo.
Tantos assuntos, e essa loucura de agora todo mundo nem ler muito mais do que 140 caracteres, ou até menos – que ficar teclando nesses aparelhinhos celulares requer habilidade e treinamento pesado. Daí tudo se abrevia, vira emoticon, mensagem cifrada. Isso me preocupa, tenho sempre de prender sua atenção, amarrá-los comigo alguns minutos. Que imagem posso usar nessa carta aqui? Um coração, um beijo? Vou deixar também para você decidir como quer na sua carta. Vai depender do que quer ouvir. Ou melhor, ler.
Puxa, pensei em usar um monte de fofices. Daquelas de amolecer coração de pedra. Mas quais? Tipo contar uma dessas heroicas histórias, ou as de superação, boas de dar exemplo. Frases construtivas, como aquelas todas óbvias que desfilam nas timelines das redes sociais, na linha “Amar é…”
Mas aí precisaria encher isso aqui de links de vídeos de cachorrinhos, gatinhos fazendo suas fofurices, ou mandar um daqueles powerpoints cheios de filosofia que até distraem, mas porque ficamos estabanados tentando apagar ou abaixar o som daquela música chata que toca logo assim que a gente abre – e no final até esquece de ver sobre o que era. Não. Não ia dar certo.
Mas aí precisaria encher isso aqui de links de vídeos de cachorrinhos, gatinhos fazendo suas fofurices, ou mandar um daqueles powerpoints cheios de filosofia que até distraem, mas porque ficamos estabanados tentando apagar ou abaixar o som daquela música chata que toca logo assim que a gente abre – e no final até esquece de ver sobre o que era. Não. Não ia dar certo.
Mas posso escrever do muito que a gente ainda tem para falar um com o outro, ouvir, responder, aprender, descobrir, buscando soluções, analisando os diversos ângulos. Posso fazer minhas observações.
E é o que vou fazer. Espero que por muito tempo. Neste ano e nos próximos. Escrever. Escrever sempre que eu puder e toda semana nos artigos que encontrará, nas emoções que demonstro, coisas que eu conto, nas broncas que dou, nas ironias que uso, e até nos recados que mando e não sei se ele lê, nas declarações de entrelinhas de amor.
A carta de hoje eu começaria assim, primeiro com cabeçalho, que adoro desde os tempos de primário e que enfeita a entrada das cartas:
São Paulo, dezembro de 2015.
Caro leitor,
Eu me orgulho muito de saber que está aí. Muito obrigada. Até o próximo, até a próxima.
Com afeto,
Marli Gonçalves
terça-feira, dezembro 22
Natal, segundo Rebelo
23 de dezembro (1939)
Antevéspera chuvosa de Natal, sem que o calor aplaque. Peregrinação de pés molhados por lojas superlotadas na morosa demanda de presentes que satisfaçam ao gosto e ao preço, mormente ao preço, que os presenteados são muitos e as finanças estão arrebentadas. Ninguém foi esquecido. Nos casos de dúvida, livro é sempre uma boa solução. O presente mais fácil foi o de Felicidade – colar de galalite arlequinhalmente multicor.
Chegamos derreados. Eurico nos esperava com a lata de talco mais estapafúrdia que vi na minha vida, desculpando-se por não ter trazido Lenarico e Eurilena. Levou uma gravata, leve, de verão.”
Marques Rebelo, "O trapicheiro"
Antevéspera chuvosa de Natal, sem que o calor aplaque. Peregrinação de pés molhados por lojas superlotadas na morosa demanda de presentes que satisfaçam ao gosto e ao preço, mormente ao preço, que os presenteados são muitos e as finanças estão arrebentadas. Ninguém foi esquecido. Nos casos de dúvida, livro é sempre uma boa solução. O presente mais fácil foi o de Felicidade – colar de galalite arlequinhalmente multicor.
Chegamos derreados. Eurico nos esperava com a lata de talco mais estapafúrdia que vi na minha vida, desculpando-se por não ter trazido Lenarico e Eurilena. Levou uma gravata, leve, de verão.”
Marques Rebelo, "O trapicheiro"
Sempre interessante
Um livro pode ser divertido com muitos erros, ou muito enfadonho sem um único absurdoOlvier Goldsmith (1728-1774)
O cacto é exemplar de integração, perseverança e adaptabiidade
As festas de fim de ano lembram-me muito minha avó materna, Maria Andrelina, e sua mala de “cortes de tecidos”. Além de previdente, era uma sábia de nascença e com certeza jamais entupiria um shopping atrás de presentes no Natal.
Quando eu era criança, as “roupas de carregação” eram roupas baratas, compradas feitas. Diante de uma roupa mal-ajambrada, vovó não se calava: “Isso é roupa de carregação”, que hoje são as “sulancas” – baratas, feitas de aproveitamento de sobras de tecidos, inicialmente de helanca (vinda do Sul) na década de 60, em Santa Cruz do Capibaribe, no agreste de Pernambuco.
Vovó mantinha uma mala especial para guardar cortes de tecidos – da chita à seda pura e “outras sedinhas”, passando pelas musselines e pelos “chiffons”, de seda e de algodão, tafetá, brocado, organza e “pele de ovo”. Eu era fascinada por aquela mala trancada à chave! Era nela que vovó encontrava que presente dar a alguém e também era o celeiro para fazer uma roupa às pressas.
Talvez imitando vovó, durante anos mantive uma mala de livros escolhidos a dedo, a que recorria quando queria presentear alguém. Até hoje sou compradora quase compulsiva de “O Pequeno Príncipe”, de Antoine Saint-Exupèry – uma alegoria em prosa-poema sobre a amizade e a transcendência dela; sobre a sofrença e o encanto do amor e seu entorno filosófico; e que nos ensina o valor da ética da responsabilidade e das coisas que não estão à vista, mas no horizonte: “O que torna belo um deserto é que ele esconde um poço em algum lugar”... (“Do tempo em que ler ‘O Pequeno Príncipe’ era obrigação”, O TEMPO, 8.2.2011).
Quando dou um presente, estou dando também um pedaço de mim. Há algum tempo, seja para criança ou adulto, só presenteio com cacto e/ou até um pequeno jardim de minicactos, cultivados por mim. Não conheço quem não se derreta diante do encanto de um minicacto, objeto de decoração que dá uma personalidade especial a qualquer ambiente.
De acordo com a sabedoria feng shui – “ciência e arte chinesas, de origem filosófica taoista, que têm por objetivo organizar os espaços com o fim de atrair influências benéficas da natureza” –, cactos são guardiões da casa e purificadores do ambiente – alguns cientistas dizem que formam uma barreira contra as ondas emitidas por aparelhos eletrônicos. Para o feng shui, “o nosso ambiente conta uma história. Então, se mudarmos os elementos desse ambiente de forma correta, poderemos mudar a nossa história de forma positiva” (Portal Feng Shui).
Especula-se que o poder da energia dos cactos muda ambientes positivamente. Ademais, um cacto, para mim puro sertão, é companhia de fácil cuidado e quase não exige nada: pouquíssima água – basta regar uma vez por semana no verão e uma por mês no inverno; gosta de quietude, pois é bastante sensível, portanto evite manusear muito ou até mesmo balançá-lo para não prejudicar o seu ciclo vital. Boa luminosidade é essencial para a sobrevivência de um cacto, então, se dentro de casa, é necessário colocá-lo perto de janelas.
A terra ideal para plantar um cacto é quase inóspita – uma camada de um terço de pedrisco, incluindo pedacinhos de telhas ou tijolos e carvão vegetal triturado, mais mistura para cactos (proporção de duas partes de areia grossa para uma parte de terra adubada). Recomenda-se a cada um ano e meio trocar a terra do vaso, com bastante cuidado para preservar as raízes.
Quando damos um ser vivo a alguém, estamos dando uma companhia. No caso dos cactos, nativos de regiões áridas, estamos presenteando com exemplares de perseverança, adaptabilidade e integração.
Fátima Oliveira
Quando eu era criança, as “roupas de carregação” eram roupas baratas, compradas feitas. Diante de uma roupa mal-ajambrada, vovó não se calava: “Isso é roupa de carregação”, que hoje são as “sulancas” – baratas, feitas de aproveitamento de sobras de tecidos, inicialmente de helanca (vinda do Sul) na década de 60, em Santa Cruz do Capibaribe, no agreste de Pernambuco.
Vovó mantinha uma mala especial para guardar cortes de tecidos – da chita à seda pura e “outras sedinhas”, passando pelas musselines e pelos “chiffons”, de seda e de algodão, tafetá, brocado, organza e “pele de ovo”. Eu era fascinada por aquela mala trancada à chave! Era nela que vovó encontrava que presente dar a alguém e também era o celeiro para fazer uma roupa às pressas.
Talvez imitando vovó, durante anos mantive uma mala de livros escolhidos a dedo, a que recorria quando queria presentear alguém. Até hoje sou compradora quase compulsiva de “O Pequeno Príncipe”, de Antoine Saint-Exupèry – uma alegoria em prosa-poema sobre a amizade e a transcendência dela; sobre a sofrença e o encanto do amor e seu entorno filosófico; e que nos ensina o valor da ética da responsabilidade e das coisas que não estão à vista, mas no horizonte: “O que torna belo um deserto é que ele esconde um poço em algum lugar”... (“Do tempo em que ler ‘O Pequeno Príncipe’ era obrigação”, O TEMPO, 8.2.2011).
Quando dou um presente, estou dando também um pedaço de mim. Há algum tempo, seja para criança ou adulto, só presenteio com cacto e/ou até um pequeno jardim de minicactos, cultivados por mim. Não conheço quem não se derreta diante do encanto de um minicacto, objeto de decoração que dá uma personalidade especial a qualquer ambiente.
De acordo com a sabedoria feng shui – “ciência e arte chinesas, de origem filosófica taoista, que têm por objetivo organizar os espaços com o fim de atrair influências benéficas da natureza” –, cactos são guardiões da casa e purificadores do ambiente – alguns cientistas dizem que formam uma barreira contra as ondas emitidas por aparelhos eletrônicos. Para o feng shui, “o nosso ambiente conta uma história. Então, se mudarmos os elementos desse ambiente de forma correta, poderemos mudar a nossa história de forma positiva” (Portal Feng Shui).
Especula-se que o poder da energia dos cactos muda ambientes positivamente. Ademais, um cacto, para mim puro sertão, é companhia de fácil cuidado e quase não exige nada: pouquíssima água – basta regar uma vez por semana no verão e uma por mês no inverno; gosta de quietude, pois é bastante sensível, portanto evite manusear muito ou até mesmo balançá-lo para não prejudicar o seu ciclo vital. Boa luminosidade é essencial para a sobrevivência de um cacto, então, se dentro de casa, é necessário colocá-lo perto de janelas.
A terra ideal para plantar um cacto é quase inóspita – uma camada de um terço de pedrisco, incluindo pedacinhos de telhas ou tijolos e carvão vegetal triturado, mais mistura para cactos (proporção de duas partes de areia grossa para uma parte de terra adubada). Recomenda-se a cada um ano e meio trocar a terra do vaso, com bastante cuidado para preservar as raízes.
Quando damos um ser vivo a alguém, estamos dando uma companhia. No caso dos cactos, nativos de regiões áridas, estamos presenteando com exemplares de perseverança, adaptabilidade e integração.
Fátima Oliveira
segunda-feira, dezembro 21
domingo, dezembro 20
Que feio é viver
No princípio, a Igreja cristã fazia pouco caso dos aniversários. A única data que importava era a da Segunda Vinda de Cristo, e essa estava além do entendimento humano. Mas a partir do século II o nascimento milagroso começou a ser celebrado pelos cristãos do mundo inteiro, inspirando em um de seus mais célebres opositores o que talvez tenha sido o primeiro conto de Natal. O neoplatônico Celso, fazendo pouco caso do que chamava de “fábulas fabricadas”, escreveu uma versão do evento sagrado na qual Cristo nasce em uma aldeia da Judeia fruto de uma camponesa adúltera e um soldado romano chamado Pantero. Essa variação racionalista é a remota antepassada de outras mais recentes: A Última Tentação de Cristo, de Nikos Kazantzakis; O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago; O Testamento de Maria, de Colm Tóibín. Mas é Dickens quem define para nós o que é (ou precisa ser) um conto de Natal com uma árvore faustosamente decorada, doces, ponche e peru assado, e acima de tudo, a mágica transformação de sentimentos mesquinhos em generosos e altruístas.
Talvez porque todo escritor, como Celso, encarne o espírito artístico da contradição, em lugar de continuar com o tom exultante de Dickens, os contos de Natal de nossa época são em geral lúgubres e pessimistas, como se quisessem lembrar-nos que nessa data, a mais feliz de todas no calendário cristão, novas Marias continuam sendo despejadas pelo dono da hospedaria, e que novos Cristos sofrem a traição, o escárnio e a cruz.
John Cheever em O Natal é Triste para os Pobres, Alice Munro em A Estação do Pavão, Vladimir Nabokov em Natais, Sergio Ramírez em San Nikolaus ou Michel Tournier em Mamãe Noel descrevem o Natal como uma festa de angústia e solidão, como para nos advertir de que, em meio a ceias opulentas e montanhas de presentes, nossa condição humana aguarda ainda a redenção prometida.
John Cheever em O Natal é Triste para os Pobres, Alice Munro em A Estação do Pavão, Vladimir Nabokov em Natais, Sergio Ramírez em San Nikolaus ou Michel Tournier em Mamãe Noel descrevem o Natal como uma festa de angústia e solidão, como para nos advertir de que, em meio a ceias opulentas e montanhas de presentes, nossa condição humana aguarda ainda a redenção prometida.
sábado, dezembro 19
Culto ao tomate
Tomate que avermelha na horta, és sol em miniatura a prometer delícias.
Se és legume ou fruta, que importa? Discussão idiota. Nossos netos te comem cru, como fruta, te comem na salada como legume, e nas massas em forma de molho, como diz Pietro: – Massa gostosa é vermelha!
Importante é que serves ao sanduíche, à pizza, à macarronada, à lasanha, com a mesma vermelhidão cremosa ou pastosa, como na salada és crocante, se verdolengo, ou macio se madurinho. E pensar que deixei de te comer durante ano, achando que elevaria meu ácido úrico! Mas, como aconteceu com os ovos, você foi reabilitado: não só não tem pouco ácido úrico, como combate câncer da próstata! Santo Tomate!
Antes, já te rejeitara de bobeira. Quando fiz macrobiótica (note que ex-macrobióticos não falam “curti” ou “adotei” mas “fiz” macrobiótica, como se fosse doloroso dever), bem, deixei de te comer, porque eras vermelho como a beterraba, a melancia, o rabanete, por isso demasiado “ying”… Então amigo também descendente de italianos verberou:
– O que?! Por causa duma dieta oriental você deixou de comer nossos tomates? Se houver outra vida, teus antepassados já estão todos arrancando o cinto pra te bater quando você encontrar lá com eles!
E voltei com prazer e alívio a comer frutos e legumes de todas as cores, confiante na dieta de Jesus: “mal é o que sai da boca”.
Lembrança tomatesca: eu fazia sanduíche quente com tomate em rodelas, e, nas mordidas, as rodelas viravam tiras a escapulir do pão ou da boca. O neto Caetano matou a charada: – Porque, vô, você não corta o tomate em pedacinhos?
Surgiu então o Sanduíche Caetano: numa fatia do pão, passo requeijão cremoso ou azeite ou pesto, na outra fatia pasta pomodoro, ou seja, creme de tomate. Entre as fatias, tomate cortadinho com azeitonas e queijo. Esquento na sanduicheira, e quem toma café da manhã na Chácara Chão sabe a delícia que é.
E o macarrão da Dalva? Ela primeiro passa os tomates em panela com água quente, para tirar pele e sementes, depois ferve em fogo brando com cebola cortadinha, durante uns quinze minutos. Finalmente, salga e coloca massa de tomate. Quando despeja esse molho no macarrão grano duro, acrescenta temperos verdes e um pouco de manteiga. Simples, rápido e gostoso que só.
Além dessas alegrias, Tomate, te devemos as lições contra preconceitos e pela evolução. Foste frutinha silvestre usada para molho apimentado lá pelos maias, onde hoje é o México e América Central. Mas depois foste proibido pelos europeus, que te viam como alimento venenoso. Mas foste reabilitado, melhorado geneticamente, adotado universalmente, pioneiro em inclusão culinária, abrindo caminho nos cardápios para tantos outros legumes, embora sejas fruta. Sem discriminação, estás no prato dos ricos e nas mãos dos pobres, justiceiro social.
Por isso, diante desse mundo sempre em mudanças, te como orando: Deus me leve, o tempo me mate, mas preservem o Tomate!
Domingos Pellegrini
Charles acendeu as luzes
O Natal é infância e família. Há infâncias horríveis e famílias assombrosas. Mas para a maioria ambas tem sido território e refúgio. J.M. Barrie escreveu que a partir dos sete anos não acontece nada especialmente relevante. E é isso. O Natal é também e muito especialmente uma narrativa poderosa e magnética. Uma canção cuja melodia – simplista, mas certeira – soube adaptar-se a religiões e cartões de crédito. À nossa psicologia, aos nossos usos, necessidades e ritos. Quase tudo o que se pode dizer contra o Natal é lúcido e razoável... but I like it. Além disso, por que nos enfurecermos com essa mentira e engoli-la sem reclamar das outras? Como a de que quem faz paga, a do amor eterno ou a de se pode ficar rico trabalhando.
O desesperador do Natal é que conhece nossos pontos frágeis, diverte-se com eles, nos deprime, emociona, redime e condena, mas nunca de modo definitivo. No final, salta ao pescoço e, como os valentões, te agarra: ganhe dinheiro, comporte-se bem e falamos dentro de um ano.
O Natal também teve seus maus momentos. Em um deles, um escritor aproveitou a nostalgia das antigas celebrações vitorianas e correu para o resgate. Há quem garanta que foi Charles Dickens quem inventou o Natal do modo como o conhecemos. No mínimo acendeu as luzes em uma época onde o festejo era obscuro e nada solidário.
Seu mais célebre conto de Natal, A Christmas Carol (Um Conto de Natal) (1843), era apenas um panfleto contra os maus-tratos do trabalho infantil quando ele se sentou para escrevê-lo, mas logo se transformou em um conto natalino com fantasmas. Dickens por aquela época já sabia da força de uma ficção sobre decretos, parlamentos e discursos inflamados. Seu protagonista é o avaro e mesquinho Scrooge. Os demais personagens, fantasmas e leitores levaram um século e meio assediando e empurrando o velho como uma bruxa para a fogueira. E tudo porque ele se esforça em não acreditar na mentira, em não viver a vida como uma ficção consensual.
O desesperador do Natal é que conhece nossos pontos frágeis, diverte-se com eles, nos deprime, emociona, redime e condena, mas nunca de modo definitivo. No final, salta ao pescoço e, como os valentões, te agarra: ganhe dinheiro, comporte-se bem e falamos dentro de um ano.
O Natal também teve seus maus momentos. Em um deles, um escritor aproveitou a nostalgia das antigas celebrações vitorianas e correu para o resgate. Há quem garanta que foi Charles Dickens quem inventou o Natal do modo como o conhecemos. No mínimo acendeu as luzes em uma época onde o festejo era obscuro e nada solidário.
Seu mais célebre conto de Natal, A Christmas Carol (Um Conto de Natal) (1843), era apenas um panfleto contra os maus-tratos do trabalho infantil quando ele se sentou para escrevê-lo, mas logo se transformou em um conto natalino com fantasmas. Dickens por aquela época já sabia da força de uma ficção sobre decretos, parlamentos e discursos inflamados. Seu protagonista é o avaro e mesquinho Scrooge. Os demais personagens, fantasmas e leitores levaram um século e meio assediando e empurrando o velho como uma bruxa para a fogueira. E tudo porque ele se esforça em não acreditar na mentira, em não viver a vida como uma ficção consensual.
sexta-feira, dezembro 18
Céu: paraíso de todos os livros
...O Céu deve ser na verdade uma biblioteca... e-n-o-r-m-e – onde repousam todos os personagens, anjos, heróis, narradores implícitos e explícitos, tipos de capa e espada (e de asa nos pés, antenas ligadíssimas e luz nos olhos), esperando não Godot, Ben-Hur, Lewis Carroll, que já estão assentados por lá, mas Um VISITADOR. Esperando serem visitados (na imaginação? no sonho?) pelos benditos Escritores de Livros! Deus, claro, é o supremo Maior Bibliotecário-Comandante-em-Chefe do Universo. E ali também edita suas (nossas) Vidas-Livros, que sonham finais felizes no palco iluminado da Nave Terra-mãe, sob chão de estrelas. Já pensou que demais, diria o Snoopy?“Mas eis que a palavraCantoflorvivênciaRe-nascendo perpétuaObriga o fluxoCavalga o fluxo num milagreDe vida...”Orides Fontela
...O Céu de todas as Honras e Glórias inimagináveis, claro, tem um arquivo cósmico de todos os historiais. Do gênese supragalaxial, ao salmo cor de rubi, passando pelos mantras-banzos-blues-fados dos apocalipes de mil idéias com signos ficantes. Robinson Crusoé é agora uma abençoada janela-arquivo de lá, num cantinho com pintura xadrez que dá, nos horizontes e crepúsculos, para um ninhal escarlate de suntuosidades binárias, feito rancho de meteoros-metáforas esplendentes.
...O Céu também pode ser só um pouquinho aqui, amostra grátis no DNA metafísico de cada criador e criação. O Escritor que gera livros-árvores, livros-nuvens, livros-circos, livros e pertencimentos enlivrados. Como Hilda Hist, Olga Savary, Clarice Lispector, Proust, Tolstói, Neruda, Saramago, Brecht, Rilke, Cortázar. O escritor ins-pirado, ensimesmado, tocando por uma fagulha de amparo infinital, imagina, desmancha a seco, arrruma, cria, pesquisa e, eureka!. Surgem pedacinhos do céu como Cem Anos de Solidão, O Vermelho e o Negro, Incidentes em Antares, Grandes Sertões Veredas, Sentimentos do Mundo, O Nome da Rosa. A alma de cada um, recolhedor na curva do tempo, no imaginário ou da bateia de memórias, escrevendo uma vida-livro, um clássico. Só por Deus. Fico só sondando o devir, depoimento, rascunho, testemunho letral de um tempo, um povo, um local, uma mente brilhante atiçando implicações que cativarão olhares maviosos.-No Céu não existe pecado e nem sanção de percurso-viagem-visita (todos serão perdoados?), nós todos, em capa dura ou com colagens de trilhas, temos a nossa vida inteirinha para escrever essa existencialização, tentarmos por uma bela vida e bela obra, com um final feliz. Bem-aventurado aquele que acerta na primeira edição sem cortes. Pois será Céu e na Terra um livro aberto de Deus, Livreiro-mor. No mais, vidas-livros são auferidas, recompostas, registradas, acrescentadas de aforismos, citações célebres, tragédias ou mesmo ilustrações maravilhosas. Que Paraíso de Livros é o Céu, cheios de zilhões de escrivaninhas, estantes, caixas de pandora com suas páginas atemporais...
-No Céu, existir mesmo é conjugar o verbo Escre/Viver; existir é ler (oxigênio matrix), pois não existe Morte ao ler; no ler, por ler.
Dormimos o sonho da viagem para dentro de nós, uma vida, um causo, uma croniqueta, uma historiazinha pro Menino Jesus dormir seu sonho de trombetas. Ler é uma busca para a nossa Cura. Cada livro um historial, uma sentição, um rocambole geral a revelar-se em páginas de lágrimas e luzes se misturando, o vermelho e o negro, o azul e o amarelo, a loucura e a lucidez, sob o percurso de um altíssimo balão encantado segurando pontos de interrogações com baunilha num céu de chocolate...
...No Céu, pássaros-marcadores de livros, árvores-papéis de pão, borboletas-vaga-lumes-ideias, pirilampos de tons e nuances, rinocerontes de enlevos, rios de inspirações, nuvens e chuvas de vírgulas, relâmpagos de pensamentos-chaves, tudo o que depois serão versos, estrofes, parágrafos, apresentações, músicas pra alma procurando calma pra se coçar... Cada um lê-se a si mesmo, acrescenta o que se lhe vem a cabeça (consultem sempre o coração), invade pontuações, pondo pingos nos is ou, de relance, quem o sabe um dia, com tantas placas mães e placas de captura, no futural, colocando até pingos em dáblios... Nada é impossível ao que lê.
-Ah “Terra do Era Uma Vez”, o Céu pode ser dentro de cada um de nós aqui. Shangri-lá, Jerusalém, Pasárgada, Santa Itararé das Letras, São Petesburgo, São Paulo, Curitiba, Brasília. A cidade-livro. O herói sempre vence no final, pois a esperança é a inteligência da vida. Vivendo e aprendendo a escrever-se. Lendo e se refazendo, cortando exageros, pois o espírito não tem peça de reposição e nem inventaram bisturi ou silicone para a alma. A re-existencialização-pagina-aberta de cada um ser ou não Ser; cada clã, núcleo de abandono, ilha, adubo, enciclopédia, dicionário, clássico, coleção, gibi, quadrinho, palavra cruzada, cartun, jornais, revistas, livros... almanaques...
...Corra e olhe o céu, diz a balada de Cartola. Traga um céu para si e em si, em todos os recomeços vibracionais. Um Livro, pedaço de seu rio interior. Faça de sua vida-livro um belo romance com realizações e incompletudes que sejam. Sempre fica uma dúvida no ar mesmo, com o que queremos dizer ou soa no diferencial do implícito. Você sempre volta ao local de seu livro de existir. Você é o seu próprio capital de peso. Você é em si mesmo a própria impressão digital, a melhor e a pior prova testemunhal presencial contra e a favor do que você se escrever existindo. Já pensou que risco?. Capriche na narrativa-documento. O leitor-vida-livro sempre vence no final. Na casa do pai já muitas coleções. Escolha o seu cantinho, o seu estilo, a sua ilha-edição. Uma visão ético-plural comunitária ajuda muito nessas horas. Sarar o mundo. Sentir a dor do outro. Corações e mentes enlivrados, já pensou? A sua cara e a sua coragem colorida. Vidas capítulos. Acertos de contas na hora de passar-se a limpo.
Refinamentos. Perdendo lastros. Ser feliz é a melhor resposta, a melhor vingança, a melhor solução. EscreViver, evoluir, correr atrás dos sonhos com as mãos limpas e uma lupa magna procurando erros atrás das ilusões perdidas, como se tudo fosse só uma ilha da fantasia em que você de si mesmo e para todos que o rodeiam escreve o roteiro...
Silêncio, gravando!
...Seja feliz enquanto escreve nas luzes da ribalta. Seja você seu próprio acervo. Eu fui muito feliz. Eu tinha um pai que contava historias de Itararé e do mundo pra mim. Quer maior riqueza do que isso? Vivendo e aprendendo a viver. Lendo e aprendendo a ser. Cada um de si próprio o capítulo que precede o clímax. Será o impossível? Muitos são chamados e poucos escrevem certos por linhas tortas. Há um céu. Na dúvida, largue tudo e vá ler um livro. Está estressado? Leia um livro de poemas. Está azedo? Leia um romance com capricho e conteúdo denso. Fique encucado, pense e reflita. Pode ser que ainda esteja em tempo, e você desperte a chance de pegar a chave da imaginação e então poder registrar-se numa ala da Biblioteca do Céu, estar como um verbete na enciclopédia artística de Deus, o seu nome-vida-livro nos pilares sagraciais de todas as sagas. O seu nome arrolado lá, no historial perene do livro da vida, pois o que você se escreve na terra, Deus escreve no Céu. No Céu de todas as vivências-históricas, O Paraíso dos LIVROS!.
Silas Correa Leite
Búzios se apronta para ser Cidade Biblioteca
Apreciar a arte da palavra, promover a poesia e a prosa, reunir os amantes da literatura e interagir com alguns dos personagens do dia a dia na cidade de Búzios. Essas são algumas das propostas das atividades promovidas pelo projeto Cidade Biblioteca, desenvolvido em Búzios. A iniciativa educacional sem fins lucrativos trabalha em parceria com Prefeitura Municipal por meio da Secretaria Municipal de Cultura.
São diversas atividades desenvolvidas como o Sarau de 5º, que acontece toda última quinta-feira do mês, na Biblioteca Municipal. O Sarau na Praça, que acontece toda primeira quarta-feira do mês, na Praça Santos Dumont. O Clube de Leitura, o Troca-troca de livro, e Biblioteca Andante (biblioteca itinerante), que passa por variados eventos da cidade levando livros de acordo com o tema da festividade.
Independente de como a atividade é realizada, todas tem como foco fomentar e democratizar a leitura. “Nosso sonho é fazer com que toda nossa população seja composta por leitores, o que automaticamente fará de Búzios uma cidade biblioteca”, contou animada Luiza Barbosa, que é uma das idealizadoras dessa ideia.
De acordo com a organização, além das atividades já desenvolvidas, há novos planos para o início do ano que vem. Há planos para a leitura de livros em hospitais, o projeto “Pão e Poetas”, que deve imprimir poemas de novos artistas, assim como nomes já consagrados em papel de pão. Uma outra ideia do grupo é disponibilizar em bancos de ônibus e vans da cidade textos contando a história da cidade.
Essa ideia já é bem antiga na mente da organização, mas foi neste ano, que foi dado o ponta pé inicial, e o resultado está sendo positivo. “Em um primeiro momento, as pessoas não acreditam que tem alguém interessando em estimular a leitura, mas normalmente, quem participa de uma das atividade gosta tanto, que entra no grupo de colaboradores, e isso é uma das partes mais legais”, conta Luiza, que ainda explica que o projeto é todo formado por colaboradores. “Há aqueles que podem ajudar um dia, outros que podem ajudar outro, cada um contribui da forma que pode, e de pouquinho em pouquinho, a ajuda é muita”, comemorou.
Além de participar das atividades que são abertas e gratuitas, a população também pode ficar por dentro do que acontece e ser um colaborador através do Grupo no Facebook Cidade Biblioteca.
(Fonte: G1)
quinta-feira, dezembro 17
Sexta é dia de troca de livros em Arujá
Os leitores do município de Arujá podem fazer um intercâmbio de livros às sextas-feiras, na Biblioteca Municipal Alda Martins Soncini. Além das mais de 100 obras disponíveis para troca, a unidade tem um acervo de aproximadamente 15 mil livros à disposição da comunidade, para empréstimo, segundo a Prefeitura.
Para fazer a troca é preciso ir até a unidade, deixar um exemplar e levar outro. O objetivo é incentivar os fãs de uma boa leitura a conhecer o acervo da unidade da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo e interagir entre si.
(Fonte: G1)
Seis ações para incentivar leitura na escola
É um fato: criança que lê desde cedo, principalmente quando bem acompanhada pelos pais, aprende melhor, se comunica de forma mais fluída e consegue melhorar até problemas de dicção. A leitura é a principal ferramenta do educador para contribuir com o aprimoramento da imaginação e da criatividade. Mas como incentivar a leitura na escola?
Como educadores, nossa principal tarefa é funcionar como guias no caminho das palavras, possibilitando que a leitura venha a ser um hábito não só na escola mas também fora dela!
Confira seis dicas para melhorar o desempenho de leitura em suas turmas.
2 – Use a tecnologia como aliada
Antigamente, uma dificuldade constante na vida dos professores ao fazer recomendações era a disponibilidade das obras — títulos que entravam para a lista do vestibular costumavam ser raridade nas prateleiras, e difícil de se reservar numa biblioteca física. No entanto, com os livros digitais esse cenário muda completamente.
Eles apresentam diversas vantagens, como a facilidade para levá-lo em qualquer lugar, baixo preço dos livros, possibilidade de acessar outros conteúdos que complementem a leitura atual, etc — seja através de um tablet ou de um leitor digital, dispositivos que suportam mais de um livro s digital em sua memória, os títulos estarão disponíveis 24 horas por dia.
5 – Organize projetos práticos
Incentive que os alunos criem textos, poemas e redações para um jornal da classe, em que cada um possa contribuir com um tema. Eles podem ser distribuídos pelo educador ou escolhidos pelos próprios alunos — é importante que abranjam conteúdos plurais (jornalísticos, de entretenimento, ficção, etc) para que todos possam entrar em contato com vários estilos de produção literária.
O jornal pode, inclusive, ser uma atividade sobre um livro trabalhado em classe — imagine o tanto que seria divertido produzir um jornal sobre um mistério, com ilustrações e textos feitos pelas crianças, após a leitura de um determinado livro.
6 – Conte com a ajuda dos pais
Para encorajar a leitura na escola ela precisa ser um hábito que permeia a vida do aluno. Nas reuniões entre pais e professores instigue-os a fazer leituras junto com seus filhos, para que esses possam ver a prática como rotineira e parte dos seus hábitos.
Além disso, escreve bem quem lê bastante: seus alunos podem melhorar muito em todas as matérias, escrevendo melhores respostas discursivas e compreendendo melhor os conteúdos, contribuindo também para a expansão do próprio vocabulário.
(Fonte: Árvore de Livros)
Como educadores, nossa principal tarefa é funcionar como guias no caminho das palavras, possibilitando que a leitura venha a ser um hábito não só na escola mas também fora dela!
Confira seis dicas para melhorar o desempenho de leitura em suas turmas.
1 – Antes de sugerir um título, pense no público
Essa dica parece óbvia, mas costuma ser uma reclamação constante dos estudantes: clássicos recomendados para turmas muito jovens e com o vocabulário pouco expandido, enquanto livros simplistas são recomendados a turmas mais velhas. Antes de fazer qualquer escolha, você deve pensar na faixa etária dos seus alunos e tentar se colocar no lugar deles.
Essa dica parece óbvia, mas costuma ser uma reclamação constante dos estudantes: clássicos recomendados para turmas muito jovens e com o vocabulário pouco expandido, enquanto livros simplistas são recomendados a turmas mais velhas. Antes de fazer qualquer escolha, você deve pensar na faixa etária dos seus alunos e tentar se colocar no lugar deles.
2 – Use a tecnologia como aliada
Antigamente, uma dificuldade constante na vida dos professores ao fazer recomendações era a disponibilidade das obras — títulos que entravam para a lista do vestibular costumavam ser raridade nas prateleiras, e difícil de se reservar numa biblioteca física. No entanto, com os livros digitais esse cenário muda completamente.
Eles apresentam diversas vantagens, como a facilidade para levá-lo em qualquer lugar, baixo preço dos livros, possibilidade de acessar outros conteúdos que complementem a leitura atual, etc — seja através de um tablet ou de um leitor digital, dispositivos que suportam mais de um livro s digital em sua memória, os títulos estarão disponíveis 24 horas por dia.
3 – Incentive a pluralidade
Muitas vezes somos desencorajados a melhorar como leitores pelo teor do material com que entramos em contato. É preciso que as recomendações sejam ecléticas e que possam dar aos alunos uma visão crítica sobre o universo ao seu redor. Inclua títulos jornalísticos além de romances infantojuvenis, por exemplo, para aumentar o conhecimento deles sobre outros gêneros textuais.
Muitas vezes somos desencorajados a melhorar como leitores pelo teor do material com que entramos em contato. É preciso que as recomendações sejam ecléticas e que possam dar aos alunos uma visão crítica sobre o universo ao seu redor. Inclua títulos jornalísticos além de romances infantojuvenis, por exemplo, para aumentar o conhecimento deles sobre outros gêneros textuais.
4 – Introduza livros interativos
Os livros interativos são uma excelente opção para alfabetização e para ajudar as crianças a darem seus primeiros passos na leitura — já em contato com o mundo digital. Por fazerem uso de recursos visuais não disponíveis nos livros tradicionais eles costumam chamar a atenção dos pequenos e podem ser uma maneira de fazê-los virarem ávidos leitores no futuro!
Quanto mais cedo a criança entra em contato com a literatura, melhor ela desenvolve sua habilidade linguística, o que facilitará, consequentemente, sua vida escolar.
Os livros interativos são uma excelente opção para alfabetização e para ajudar as crianças a darem seus primeiros passos na leitura — já em contato com o mundo digital. Por fazerem uso de recursos visuais não disponíveis nos livros tradicionais eles costumam chamar a atenção dos pequenos e podem ser uma maneira de fazê-los virarem ávidos leitores no futuro!
Quanto mais cedo a criança entra em contato com a literatura, melhor ela desenvolve sua habilidade linguística, o que facilitará, consequentemente, sua vida escolar.
5 – Organize projetos práticos
Incentive que os alunos criem textos, poemas e redações para um jornal da classe, em que cada um possa contribuir com um tema. Eles podem ser distribuídos pelo educador ou escolhidos pelos próprios alunos — é importante que abranjam conteúdos plurais (jornalísticos, de entretenimento, ficção, etc) para que todos possam entrar em contato com vários estilos de produção literária.
O jornal pode, inclusive, ser uma atividade sobre um livro trabalhado em classe — imagine o tanto que seria divertido produzir um jornal sobre um mistério, com ilustrações e textos feitos pelas crianças, após a leitura de um determinado livro.
6 – Conte com a ajuda dos pais
Para encorajar a leitura na escola ela precisa ser um hábito que permeia a vida do aluno. Nas reuniões entre pais e professores instigue-os a fazer leituras junto com seus filhos, para que esses possam ver a prática como rotineira e parte dos seus hábitos.
Além disso, escreve bem quem lê bastante: seus alunos podem melhorar muito em todas as matérias, escrevendo melhores respostas discursivas e compreendendo melhor os conteúdos, contribuindo também para a expansão do próprio vocabulário.
(Fonte: Árvore de Livros)
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