terça-feira, maio 31
Melhore a saúde, leia
- Reduz os níveis de stress
- Relaxa os músculos
- Promove a sensação de paz e tranquilidade
- Ajuda a dormir melhor
- Estimula o cérebro e diminui o risco de doenças degenerativas do mesmo
- Desenvolve a capacidade de memorização
- Alivia a depressão
- Melhora o estado de espírito de uma forma geral
Proibida no Brasil, biografia é vendida em 'saldão' em Lisboa
Em meio a livros para colorir, de autoajuda, vampiros, dietas e infantis variados, uma pilha de volumes sobressai no nicho de ofertas do estande da editora Leya na 86ª Feira do Livro de Lisboa. São exemplares de “Roberto Carlos em detalhes”, do historiador Paulo Cesar de Araújo, a biografia polêmica do cantor que teve a vendagem proibida no Brasil em 2007, depois de um imbróglio judicial envolvendo Roberto Carlos e a editora Planeta.
Pela pechincha de € 4,90, o fã de Roberto Carlos que estiver passeando pelo principal evento literário de Portugal pode comprar o seu exemplar tranquilamente. Se quisesse fazer o mesmo no Brasil, teria de recorrer a algum sebo que ainda tenha algum volume (onde os preços podem chegar a R$ 800) ou a cópias digitais reduzidas e malfeitas.
Pela pechincha de € 4,90, o fã de Roberto Carlos que estiver passeando pelo principal evento literário de Portugal pode comprar o seu exemplar tranquilamente. Se quisesse fazer o mesmo no Brasil, teria de recorrer a algum sebo que ainda tenha algum volume (onde os preços podem chegar a R$ 800) ou a cópias digitais reduzidas e malfeitas.
No estande, ninguém sabia explicar por que a Leya vendia, em saldão, um livro de editora concorrente — a Planeta. Tampouco sabiam dizer se os exemplares vinham do estoque de cerca de 10 mil livros que foram recolhidos à época do entrave, numa possível manobra de escoamento internacional.
Mais tarde, a empresa explicou-se, por meio do assessor de imprensa, José Menezes, dizendo que quando o livro foi proibido, em dezembro de 2006, parte da edição já havia sido enviada para distribuição em Portugal, que seria feita pela editora Dom Quixote, à época pertencente à Planeta. Com a venda da Dom Quixote à Leya, anos depois, todo o antigo estoque da editora passou à nova casa. E, no meio dele, havia exemplares e mais exemplares da história do Rei.
— Aqui não está proibido. Portanto, podemos, por contrato, vender à vontade. Quem sabe os leitores brasileiros interessados não peçam a algum amigo português para comprar um exemplar? — brincou Menezes.
Leia mais
segunda-feira, maio 30
A lâmpada maravilhosa
Lâmpada decorativa ( 1793-1800), em porcelana de Sèvres, confeccionada pelos artesãos Louis-Simon Boizot e H. F. Vincent, em exposição no Hermitage, em São Petersburgo |
Leitura é saúde
Convém repetir, agora que a Educação e a Cultura viraram um único ministério neste país de curta memória. Livros divertem, instruem, transmitem sabedoria, levam-nos através do tempo e do espaço, guardam memórias. Têm mais. Trazem outro benefício, ainda pouco divulgado, de suma importância. Livros são questão de saúde pública. Isso mesmo. Saúde pública.
Cientistas em todo o mundo comprovaram que quem lê muito, sobretudo ficção (romances, contos, fantasias), isto é, quem excita bastante a imaginação, tende a ter menos a doença de Alzheimer. Em outras palavras, a leitura ajuda a evitar que a gente fique gagá em idade avançada. Parece que, igual a outros órgãos, quanto mais se ativam os miolos, melhor eles agem e reagem. Posto de outra maneira, livro é musculação para o cérebro: deixa os neurônios saradaços. Você pode comprovar em sua família. Provavelmente seus avós e bisavós que liam muito chegaram à velhice bem lúcidos. Velhice e lucidez todo mundo quer. As alternativas não são nem um pouco agradáveis.
Os benefícios do livro não param por aí. A leitura atua em duas nobres regiões do cérebro, situadas no meio e na parte de trás da cabeça, ligadas à imaginação e à visão, enquanto os filmes e a televisão agem apenas na parte posterior, vinculada ao córtex visual. É como se a leitura criasse um filme em nossa mente e nós, ao mesmo tempo em que criamos o filme, também assistíssemos à sua première. Somos o único criador e o único espectador, na confortável poltrona da curtição mental. No futebol, seria como bater o escanteio e correr para cabecear no gol. Outro detalhe: o livro cura a desconcentração provocada pela internet, essa intolerância generalizada com o pensamento mais sofisticado.
É assim que a leitura funciona. Exercita nossa cabeça, deixa-nos saudáveis por mais tempo. Isso explica, ainda, por que a leitura exige um pouquinho mais de esforço. Mas o resultado compensa. Compensa não apenas na diversão, no entretenimento, no conhecimento adquirido. Na saúde também. Saúde pública. Na pátria da ordem e do progresso, ainda precisamos descobrir a pólvora.
Cientistas em todo o mundo comprovaram que quem lê muito, sobretudo ficção (romances, contos, fantasias), isto é, quem excita bastante a imaginação, tende a ter menos a doença de Alzheimer. Em outras palavras, a leitura ajuda a evitar que a gente fique gagá em idade avançada. Parece que, igual a outros órgãos, quanto mais se ativam os miolos, melhor eles agem e reagem. Posto de outra maneira, livro é musculação para o cérebro: deixa os neurônios saradaços. Você pode comprovar em sua família. Provavelmente seus avós e bisavós que liam muito chegaram à velhice bem lúcidos. Velhice e lucidez todo mundo quer. As alternativas não são nem um pouco agradáveis.
É assim que a leitura funciona. Exercita nossa cabeça, deixa-nos saudáveis por mais tempo. Isso explica, ainda, por que a leitura exige um pouquinho mais de esforço. Mas o resultado compensa. Compensa não apenas na diversão, no entretenimento, no conhecimento adquirido. Na saúde também. Saúde pública. Na pátria da ordem e do progresso, ainda precisamos descobrir a pólvora.
domingo, maio 29
Assim começa o livro...
“Menino”, dizem, “os antepassados de outras pessoas
vivem debaixo da terra, mas os espíritos dos nossos antepassados vagueiam pelas encostas da montanha do Norte. Por que acha que aquelas borboletas brancas vivem sobrevoando a montanha? E os besouros que correm para lá e para cá pelas trilhas que a atravessam? Esses animais são os espíritos dos nossos antepassados que sofreram; é esse o motivo. Estão tentando encontrar seus túmulos na montanha do Norte. Os antepassados das outras pessoas morreram de fome e doença, ou de idade avançada, ou na guerra. Mas os nossos antepassados morreram de injustiça. Adivinhe, menino, quero que você adivinhe. Por que eles morreram? Ah, pode tentar o quanto quiser, nunca vai encontrar a resposta certa. A causa da morte deles foram seus olhos; eles se afogaram nas próprias lágrimas.”
A vegetação selvagem da montanha era ideal para comer, e sua água de nascente, perfeita para beber — com exceção daquela da piscina que se formava quando a água descia pela encosta da montanha e enchia o túmulo vazio do chefe Xintao —, isso segundo as feiticeiras da aldeia dos Gravetos, que eram a fonte de todo o conhecimento local. Ninguém conseguia mais se lembrar da aparência do chefe
Xintao quando ele vivia como eremita na montanha do Norte, mas ninguém se atrevia a beber daquela água, pois seria o mesmo que beber de uma piscina de lágrimas, as lágrimas acumuladas de trezentos velhos espíritos cobertas por uma camada de água doce de chuva.
sábado, maio 28
Noites da vampira
Às vezes ela se transformava em vampira. Ele precisava então concentrar-se para não lhe perguntar por que ela não era sempre como nessas noites, por que não o marcava sempre assim, por quê.
***
Toda vez que penso num passarinho, penso em Mario Quintana. E vice-versa.
***
Diante de um poema que lhe sai extraordinariamente melhor que de costume, o poeta deve perguntar-se com humildade se o escreveu ou se o transcreveu.
***
À noite, na estante, ouvem-se cochichos nas páginas de Dom Casmurro: são as entrelinhas contando às linhas segredos de Capitu e Escobar.
***
O amor pode ensinar ao homem que em certas coisas ele se subestima. Pode, por exemplo, dizer-lhe que é muito mais tolo do que imagina.
***
Teve aquele velhinho que passava de vez em quando, apontava para o céu e dizia: vai chover. E não chovia. Um dia ele apontou para o coração e disse: vou morrer. Não se sabe se acertou, porque nunca mais apareceu por ali.
***
Uns braços bastaram para Machado de Assis escrever um dos contos mais eróticos da literatura mundial. Uma aula para quem tem no repertório sexual só seios pontiagudos e nádegas prodigiosas. O Velho Bruxo sabia de tudo e de algumas coisas mais. O que ele não faria, se tivesse ouvido a voz de Priscylla Mariuszka Moskevitch?
***
Se numa página de Dalton Trevisan um casal se desfruta em pé num escritório de despachante, não será perversão. Será talvez, de parte dela, a urgência do amor. Por parte dele, será provavelmente a preocupação de não estragar o único sofá, comprado em dez sofridíssimas prestações.
***
Quando você aplica a primeira metáfora a uma mulher – ave, princesa, flor -, e usa o primeiro diminutivo – lindinha, benzinho, gatinha -, está abrindo o caminho para a sua servidão.
***
Quando descobrimos que não sabemos viver, não há mais como reiniciar o aprendizado.
***
A senectude é a época em que todos os elogios que recebemos são eufemismos.
***
Meu rosto é um pergaminho. O tempo só melhora o vinho.
***
O amor é aquela insensatez que você sempre pensa estar cometendo pela última vez.
***
No fim, sobrou-me a poesia. Pode parecer pouco. É mais do que mereço.
***
Um homem de princípios raramente atinge seus fins.
***
Nada como um jardim. Quem planta, seus males espanta.
Raul Drewnick
sexta-feira, maio 27
Pouca leitura
O número de leitores no País cresceu, aponta pesquisa feita pelo Ibope a pedido do Instituto Pró-Livro. Em 2011, metade da população brasileira havia se declarado leitora, isto é, havia lido pelo menos um livro, inteiro ou em parte, nos últimos três meses. Em 2015, o porcentual subiu para 56%. O resultado geral da enquete, porém, continua alarmante, evidenciando um país que ainda lê muito pouco.
Em sua quarta edição, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil entrevistou 5.012 pessoas, alfabetizadas ou não, representando, segundo o Ibope, 93% da população brasileira. Os resultados são, em geral, frustrantes. Do total de pessoas entrevistadas, 74% não compraram nenhuma obra nos últimos três meses. E ainda mais preocupante é o fato de que 30% delas não compraram nem um livro sequer em toda a vida.
Outro dado que muito revela sobre a leitura – e também sobre a qualidade da educação – é a constatação de que metade dos professores entrevistados não leu nenhum livro nos três meses anteriores à pesquisa.
Na enquete, 67% dos entrevistados afirmaram que em sua trajetória não houve ninguém que os tenha incentivado à leitura. Para os 33% que declararam ter recebido algum apoio para ler, o principal incentivo veio da mãe ou do responsável do sexo feminino (11%), seguido do professor (7%).
De acordo com a pesquisa, o brasileiro lê apenas 4,96 livros por ano – 0,94 é indicado pela escola e 2,88 são lidos por vontade própria. A média anterior, de 2011, era de 4 livros por ano. É importante notar que o índice abarca não apenas os livros cuja leitura foi finalizada. Incluem-se também aqueles deixados pelo caminho. Na média dos livros lidos pelo brasileiro em 2015, 2,43 foram terminados e 2,53 foram lidos apenas em parte. Segundo a enquete, as mulheres leem mais que os homens: 59% das mulheres são leitoras; entre os homens o porcentual é de 52%.
Um dado positivo revelado pela pesquisa Retratos da Leitura no Brasil é o aumento do número de leitores na faixa etária entre 18 e 24 anos. Em 2011, eram 53%. Em 2015, o porcentual foi de 67%. Segundo Marcos da Veiga Pereira, presidente do Sindicato Nacional de Editores, o boom da literatura para esse público pode ter sido fator mais decisivo do que ações educativas de incentivo à leitura após a saída da escola.
Entre os dados referentes ao comportamento do leitor, a pesquisa indica que adolescentes entre 11 e 13 anos são os que mais leem por gosto (42%), seguidos por crianças de 5 a 10 anos (40%). Para 30% dos entrevistados, o fator mais importante na escolha do livro é o tema. Entre o público de 5 a 13 anos, 27% escolhem pela capa.
Quanto ao local da leitura, 81% dos entrevistados afirmaram ler mais em casa. Já os e-books são mais lidos em cyber cafés ou lan houses (42%) e no transporte público (25%). Em qualquer nível de escolaridade, a Bíblia é o título mais lido.
É positivo o aumento do número de leitores, especialmente entre os mais jovens. Mas não é possível menosprezar o fato de que os números continuam sendo preocupantes, indicando uma sociedade que pouco valoriza a leitura. Se é certo que houve no mundo contemporâneo uma multiplicação dos canais de acesso à informação, também é certo que a leitura continua sendo indispensável. Sem leitura, não há cultura, não há capacidade crítica, não há plena autonomia individual. Há aqui um sério problema, que precisa ser enfrentado tanto pelo poder público quanto pela sociedade.
Editorial Estadão
Em sua quarta edição, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil entrevistou 5.012 pessoas, alfabetizadas ou não, representando, segundo o Ibope, 93% da população brasileira. Os resultados são, em geral, frustrantes. Do total de pessoas entrevistadas, 74% não compraram nenhuma obra nos últimos três meses. E ainda mais preocupante é o fato de que 30% delas não compraram nem um livro sequer em toda a vida.
Jun Cen |
De acordo com os dados da pesquisa, o brasileiro não dá muita prioridade à leitura. Entre as atividades preferidas para se fazer no tempo livre, a leitura foi em média a 10.ª opção dos entrevistados. Entre as razões apontadas por quem não leu nenhum livro nos últimos três meses, 32% alegaram falta de tempo, 28% disseram não gostar de ler, 13% não têm paciência para a leitura, 10% preferem outras atividades, 9% reconheceram ter dificuldades para ler e 4% sentem-se cansados para ler.
Outro dado que muito revela sobre a leitura – e também sobre a qualidade da educação – é a constatação de que metade dos professores entrevistados não leu nenhum livro nos três meses anteriores à pesquisa.
Na enquete, 67% dos entrevistados afirmaram que em sua trajetória não houve ninguém que os tenha incentivado à leitura. Para os 33% que declararam ter recebido algum apoio para ler, o principal incentivo veio da mãe ou do responsável do sexo feminino (11%), seguido do professor (7%).
De acordo com a pesquisa, o brasileiro lê apenas 4,96 livros por ano – 0,94 é indicado pela escola e 2,88 são lidos por vontade própria. A média anterior, de 2011, era de 4 livros por ano. É importante notar que o índice abarca não apenas os livros cuja leitura foi finalizada. Incluem-se também aqueles deixados pelo caminho. Na média dos livros lidos pelo brasileiro em 2015, 2,43 foram terminados e 2,53 foram lidos apenas em parte. Segundo a enquete, as mulheres leem mais que os homens: 59% das mulheres são leitoras; entre os homens o porcentual é de 52%.
Um dado positivo revelado pela pesquisa Retratos da Leitura no Brasil é o aumento do número de leitores na faixa etária entre 18 e 24 anos. Em 2011, eram 53%. Em 2015, o porcentual foi de 67%. Segundo Marcos da Veiga Pereira, presidente do Sindicato Nacional de Editores, o boom da literatura para esse público pode ter sido fator mais decisivo do que ações educativas de incentivo à leitura após a saída da escola.
Entre os dados referentes ao comportamento do leitor, a pesquisa indica que adolescentes entre 11 e 13 anos são os que mais leem por gosto (42%), seguidos por crianças de 5 a 10 anos (40%). Para 30% dos entrevistados, o fator mais importante na escolha do livro é o tema. Entre o público de 5 a 13 anos, 27% escolhem pela capa.
Quanto ao local da leitura, 81% dos entrevistados afirmaram ler mais em casa. Já os e-books são mais lidos em cyber cafés ou lan houses (42%) e no transporte público (25%). Em qualquer nível de escolaridade, a Bíblia é o título mais lido.
É positivo o aumento do número de leitores, especialmente entre os mais jovens. Mas não é possível menosprezar o fato de que os números continuam sendo preocupantes, indicando uma sociedade que pouco valoriza a leitura. Se é certo que houve no mundo contemporâneo uma multiplicação dos canais de acesso à informação, também é certo que a leitura continua sendo indispensável. Sem leitura, não há cultura, não há capacidade crítica, não há plena autonomia individual. Há aqui um sério problema, que precisa ser enfrentado tanto pelo poder público quanto pela sociedade.
Editorial Estadão
quinta-feira, maio 26
Descoberta para todo sempre
O ato proibido de ler
Meus colegas de escola e de geração nunca foram a livraria. Alguns, com certeza, não têm a ideia exata do que seja, além de um lugar onde se vende livros. Para ir na Livraria da Travessa no Centro do Rio, tenho que viajar cento e vinte quilômetros, sessenta para ir, sessenta para voltar. Geralmente já chego nela meio ou muito exausto. Tendo que esperar longo tempo até ter algum ânimo para olhar. Quando existe vaga, eu sento e descanso um pouco numa de suas poltroninhas. Gosto de ver as pessoas comprando, escolhendo, vendo. Às vezes aparece mulher chique. Os vendedores não nos importunam, deixando-nos livres. Odeio quando tem um me pressionando a comprar, saio logo da loja.
Olho os livros e os fico bebendo. Cada volume traz e é um mundo. Todos juntos, nas prateleiras e bancas, formam para mim um universo de descobertas, de chamamento. Pareço estar num garimpo. Vejo tudo, as capas, desenhos, os tipos das letras e os tamanhos. Belas paisagens me fazem mergulhar em lugares ou épocas distantes. Minha forma de viajar, suplantando falta de condições. Quando posso compro um exemplar e saio feliz. Somos uma nação de não-leitores. O preço de um livro de custo médio fica em torno de dez por cento do salário-mínimo. Maneira de proibir leitura sem precisar dizer. Trabalhador deve entrar na livraria como trabalhador, e nunca como leitor, muito menos comprador. Às vezes num passe de mágica, descubro um excelente livro, bastando ter lido poucas linhas, a esmo, em qualquer de suas páginas. Do meu meio social sei que estou sozinho. Quase todas as cidades brasileiras não têm livraria. Gerações nascem, vivem e morrem, sem terem visto uma única capa.
Abel Matos
Abel Matos
quarta-feira, maio 25
Quem sabe Shakespeare ajuda?
"Ser ou não ser, eis a questão", diálogo da obra de Shaskeaspeare em que Hamlet reflete sobre o sentido da vida e o efeito perverso da morte (Foto: Divulgação)
"Ser ou não ser, eis a questão", diálogo da obra de Shaskeaspeare em que Hamlet reflete sobre o sentido da vida e o efeito perverso da morte (Foto: Divulgação)
Dia desses, ouvi de um professor: deveríamos ler mais Shakespeare. Qualquer dia, qualquer hora, em tempos quentes, dias frios... Ontem, segunda-feira, 23 de maio, fez temperaturas baixas no Brasil. 20 graus no Rio, 12 em São Paulo e Porto Alegre, 19 em Brasília.
Quem sabe, neste outono quase inverno, leremos mais William Shakespeare - hoje ao alcance de todos, no Google? Quem sabe leremos mais Shakespeare, assim em traduções livres, portuguesas e brasileiras, como lemos – e apreciamos – citações e frases pretensiosas e despretensiosas, postadas nas telas da internet? Sempre há – e haverá - proveito e aplicação para Shakespeare.
- Dois guardarão segredo, quando um nada souber de todo o enredo. (Romeu e Julieta)
- Um cetro arrebatado com violência precisa ser mantido com processos iguais aos da conquista. (Vida e Morte do Rei João)
- Sangue chama sangue.
- Aconteça o que acontecer, o tempo e as horas sempre chegam ao fim, mesmo do dia mais duro dentre todos os dias. (MacBeth)
- ...O nobre Brutus disse a vocês que César era ambicioso. E se é verdade que era, a falta era muito grave, e César pagou por ela com a vida, aqui, pelas mãos de Brutus e dos outros. Pois Brutus é um homem honrado, e assim são todos eles, todos homens honrados. Venho para falar no funeral de César. Ele era meu amigo, fiel e justo comigo. Mas Brutus diz que ele era ambicioso. E Brutus é um homem honrado. ...
.- ... Ontem, a palavra de César seria capaz de enfrentar o mundo, agora, jaz aqui morta. Ah! Se eu estivesse disposto a levar os seus corações e mentes para o motim e a violência, eu falaria mal de Brutus e de Cassius, os quais, como sabem, são homens honrados. Não vou falar mal deles. Prefiro falar mal do morto. Prefiro falar mal de mim e de vocês do que destes homens honrados.”
- Quem ia saber que os céus podem ser tão ameaçadores? Os que sempre souberam que a terra é povoada de erros.
- É nos dias ensolarados que a cobra sai do ninho e nos obriga a andar com passos cautelosos.
- Os que nos sorriem, este o meu receio, trazem no coração milhões de maldades.
- Homens insinceros, eles são como cavalos, cheios de energia ao se deixarem domar, exibindo e prometendo seus brios. Mas, quando eles têm de aguentar a espora sanguinária, abaixam a crina e, como enganadores rocins, não passam no teste. (Júlio César)
- O mundo inteiro é um palco, e todos os homens e mulheres, apenas atores. Eles saem de cena e entram em cena, e cada homem, no seu tempo, representa muitos papéis". (Como Gostais)
- Triste a sorte de quem depende da vontade dos príncipes! (Henrique VIII)
- A sabedoria grita pelas ruas, mas ninguém lhe dá ouvidos. (Henrique IV)
- A virtude nunca é expulsa da corte a chibatadas. Por lá tratam-na muito bem, com o intuito de retê-la o máximo possível. No entanto, está sempre de passagem. (Conto de Inverno)
- O ser grande não é empenhar-se em grandes causas: grande é quem luta até por uma palha ... (Hamlet)
- Não poucas vezes vemos a indigente sabedoria depender em tudo da tolice suntuosa e exuberante. (Bem Está o que Bem Acaba)
- O rosto dos homens é sempre honesto, façam as mãos o que fizerem. (Antônio e Cleópatra)
- O inferno está vazio e todos os demônios estão aqui.
- Mais nobre é o perdão que a vingança. (A Tempestade)
- Só escuta de bom grado uma sentença quem em proveito próprio nela pensa. (Otelo)
- Quem sai de um banquete com o apetite que, ao sentar-se, tinha? Qual é o cavalo que a tediosa pista de volta mede com o ardor tão vivo que ao partir revelava? Sempre pomos mais entusiasmo no alcançar as coisas, do que mesmo em gozá-las.”
- Se os estados, ofícios, posições não fossem dados por maneira corrupta, e as honrarias só fossem conquistadas pelo mérito, quantas pessoas que andam descobertas, a cabeça cobririam! Quanta gente que hoje é mandada, assumiria o mando!
- O diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém. (Mercador de Veneza)
William Shakespeare, maior e mais influente dramaturgo e poeta inglês, viveu no Renascimento - 26 de Abril de 1564 a 23 de Abril de 1616. Viveu 51 anos e produziu uma barbaridade - 38 peças, 154 sonetos, dois longos poemas narrativos e outros tantos conhecidos, repetidos e encenados em seguidos 400 anos de história.
PS.: Frase do dia, ontem, em Brasília: “Muito Nero para pouco Roma”.
terça-feira, maio 24
O balanço da rede
Finalmente a criançada foi fazer outra coisa– pelo silêncio, saiu – e deixou a rede só para mim; me espicho de jeito e abro um livro.
Tempo esquisito, não se resolve: esse ventinho capcioso, meio borocoxô, se ponho manta, sinto calor; se tiro, arrepio.
Essa luz de maio que pega de lado nas coisas, definindo melhor os contornos, não machuca os olhos feito no verão.
Quem esticou esse tapetinho aqui não entende nada de rede, que assim fica impossível dar o impulso no chão.
Nesse embalo que aos poucos vai diminuindo, sossegando toda empolgação, ora vejo o Cristo, ora não.
Nem cheguei a pensar no imposto de renda, só quando o danado me desespera de madrugada.
O noroeste assanhando as folhas no chão, parece que a nuvem se decidiu pela pancada.
Ê, passarinhos que acabaram com as pitangas, não sobrou uminha nem para a batida.
Gostei da exposição de Divinos ali na parede – aquele é de Minas, aquele esqueci.
Duro ser pai e ter de dar exemplo: esse, por exemplo, não é dia para banho.
Hoje está para caipira e feijoada – no mínimo, virado com torresmo.
Saudade de vagalume piscando quando a tarde resolve virar noite.
Jacaré namorando deve ser estranho, como será que eles fazem?
Como cresceu a filha da Fulana, virou mulher, e linda mulher.
“Você não está mais na idade de sofrer por essas coisas.”
No outono até o calor é mais recolhido, sem tanta mosca.
Meu filho está pensando em estudar Física Mecatrônica.
Quando eu souber o que é isso, vejo se é do jeito dele.
Quem diria que tudo fosse dar num grande equívoco.
Que tanto caminhão passa agora pela rua de baixo?
Haverá sorvete de creme holandês na Holanda?
Tomei ou fingi tomar os remédios hoje?
Pena, a moita de antúrios não vingou.
E essa política, que só se enrola.
Preciso visitar madrinha Rosa.
Nasceu um mamão no pé.
Vai chamar sanhaço.
Lá vem aguaceiro.
A roupa no varal!
Gente do céu.
Filha, ajuda.
Toró forte.
Ventania.
Telefone.
Parou.
Cássio Zanatta
Vai-se um mestre
Enquanto figuretas culturalmente insignificantes, de Renan Calheiros a coletivos estudantis, berram sobre a suposta importância de um Ministério da Cultura no Brasil, perdemos alguém que de fato contava – e muito – no deserto intelectual que nos cerca.
Quem conhece o assunto, sabe. É simplesmente impossível falar de Rússia e cultura russa entre nós, impossível falar da presença e do influxo dos russos no Brasil, sem colocar em primeiríssimo lugar o nome de Boris Schnaiderman.
Boris foi um mestre, ensinando-nos a andar pelo mundo da cultura russa moderna. Pelos campos do fazer textual criativo e das viagens pioneiras de artistas e intelectuais russos na dimensão das metalinguagens.
No caso da poesia, juntamente com os irmãos Campos, traduziu para o português criações do mel do melhor feito em língua russa. Pasternak, Iessiênin, Maiakóvski, Khlébnikov, etc., chegando a Vozniessiênski. Fez um livro que é um exemplo simultâneo de erudição e humildade, coisa raríssima: um livro feito de notas aos textos traduzidos – “A Poética de Maiakóvski”.
E não foi só a vanguarda. Boris nos ensinou também a apreciar o verdadeiro Dostoiévski, que, antes de suas traduções, conhecíamos mal e indiretamente, em versões feitas a partir de versões francesas, que sempre disfarçavam em “littérature” o brutalismo do autor de “Os Irmãos Karamázov”.
Trouxe também para o mundo de língua portuguesa, pioneiramente, textos críticos e teóricos de ponta, com o jovem Jakobson e a chamada Escola Formalista (Chklóvski, Eikhenbaum, Tiniânov, etc.). Para nos remeter, adiante, aos estudos extraordinários de Iuri Lotman e seus companheiros semioticistas.
A tristeza é que morre um homem como Boris (como, antes, Décio Pignatari) e a nossa (vossa) mídia não diz nada. Estamos condenados aqui ao narcisismo corporativista. Basta o sujeito ser profissional da mídia que, ao morrer, ela o transforma em super-herói cultural do país. Nem que o cara seja um mero fotógrafo de telenovela, cantor ou autor de reportagens televisuais.
Me lembro de uma conversa com Augusto de Campos, na São Paulo da década de 1970, quando fiz uma provocação geral, dizendo: pelo andar da carruagem, ainda vamos ter uma enciclopédia brasileira de cultura que dedique menos de 10 linhas a Guimarães Rosa e mais de 100 linhas a Erasmo Carlos. Infelizmente, eu estava certo. Esse tempo chegou. E é bem mais feio do que o pintei. De qualquer sorte, deixo aqui, gritando sobre as cabeças-de-camarão dos imbecis, o meu VIVA BORIS!
Quem conhece o assunto, sabe. É simplesmente impossível falar de Rússia e cultura russa entre nós, impossível falar da presença e do influxo dos russos no Brasil, sem colocar em primeiríssimo lugar o nome de Boris Schnaiderman.
Boris foi um mestre, ensinando-nos a andar pelo mundo da cultura russa moderna. Pelos campos do fazer textual criativo e das viagens pioneiras de artistas e intelectuais russos na dimensão das metalinguagens.
E não foi só a vanguarda. Boris nos ensinou também a apreciar o verdadeiro Dostoiévski, que, antes de suas traduções, conhecíamos mal e indiretamente, em versões feitas a partir de versões francesas, que sempre disfarçavam em “littérature” o brutalismo do autor de “Os Irmãos Karamázov”.
Trouxe também para o mundo de língua portuguesa, pioneiramente, textos críticos e teóricos de ponta, com o jovem Jakobson e a chamada Escola Formalista (Chklóvski, Eikhenbaum, Tiniânov, etc.). Para nos remeter, adiante, aos estudos extraordinários de Iuri Lotman e seus companheiros semioticistas.
A tristeza é que morre um homem como Boris (como, antes, Décio Pignatari) e a nossa (vossa) mídia não diz nada. Estamos condenados aqui ao narcisismo corporativista. Basta o sujeito ser profissional da mídia que, ao morrer, ela o transforma em super-herói cultural do país. Nem que o cara seja um mero fotógrafo de telenovela, cantor ou autor de reportagens televisuais.
Me lembro de uma conversa com Augusto de Campos, na São Paulo da década de 1970, quando fiz uma provocação geral, dizendo: pelo andar da carruagem, ainda vamos ter uma enciclopédia brasileira de cultura que dedique menos de 10 linhas a Guimarães Rosa e mais de 100 linhas a Erasmo Carlos. Infelizmente, eu estava certo. Esse tempo chegou. E é bem mais feio do que o pintei. De qualquer sorte, deixo aqui, gritando sobre as cabeças-de-camarão dos imbecis, o meu VIVA BORIS!
segunda-feira, maio 23
Nossas minibibliotecas íntimas
Guridi |
Não pertencem à categoria dos clássicos imprescindíveis, dos consagrados pelo público ou daqueles recomendados por seletos críticos. Pelo menos não são livros que marcam nossas vidas por motivos desses que geram dicas de leitura. Podem até ser grandes livros, mas, como parte das nossas minibibliotecas íntimas, o significado dessa grandeza é outro que só nós conhecemos.
É um céu se abrindo com a primeira história que seu pai leu para você, numa noite de infância, sobre um amor improvável entre um gato e uma andorinha. É o vapor do mate quente se mesclando ao cheiro de páginas antigas como lembranças de lembranças de Clarissa, a menina que viveu em muitos romances de Erico Verissimo. São pesadelos com castelos em ruínas despertados pelos banhos de sangue de uma condessa assassina, prima do rei da Transilvânia, gritos de meninas torturadas no alto dos Pequenos Cárpatos, que continuam reboando meses depois de terminado o livro.
São sensações, emanações, ecos de mortes e vidas se expandindo concêntricos em torno da leitura, como a redescoberta daquele romance de Inês Pedrosa, quando a avó lhe devolveu o título do livro num sussurro meio melancólico, meio galhofeiro, imitando o acento português, um pouco falando da solidão que ela sentia, um pouco prevendo a solidão da neta sem avó no futuro: “Fazes-me falta”.
Como dizia o poeta, são também os “títulos aliciantes” que não se deixam esquecer, mesmo que pouco de suas páginas tenha ficado na memória, títulos como chaves enigmáticas, proverbiais, proféticas, que soltamos no vento em sons de notas dedilhadas ao léu, “O tempo envelhece depressa”, “A casa da morte certa”, “Olhai os lírios do campo”, “Longe, e há muito tempo”. São livros, afinal, desses que ficam guardados num lugar à parte, isentos de juízo, libertos das leis canônicas e dos escrutínios, livros que, reabertos, evolam, como de uma garrafa mágica, a essência de algum tempo muito nosso, algum sonho, algum medo, algum amor que supomos pessoal e intransferível.
Mariana Ianelli
A escritora que me derrotou
A escritora que me derrotou (é o que afirmam os jornais) tem 45 anos mas não aparenta mais de 30. Quando nos apresentaram, na British Library — a Biblioteca Nacional do Reino Unido, uma das maiores do mundo —, Han Kang estendeu-me uma pequena mão assustada. Avancei o rosto para a beijar, num gesto um tanto desastrado, e ela recuou dois minúsculos passos; depois cedeu e sorriu, um sorriso gentil, fazendo com que eu me sentisse enorme, e rústico. No palco, leu em coreano o trecho do livro com o qual ganhou o Man Booker International Prize, “A vegetariana”, publicado no Brasil, em 2013, pela Editora Devir, com tradução de Yun Jung Im a partir do original.
Fechei os olhos enquanto a ouvia ler. A voz de Han era como um rumor de águas deslizando entre musgo e cascalho. Embora eu não compreendesse nada, da mesma forma que não compreendo o idioma da água correndo entre musgo e cascalho, era possível sentir na voz dela um delicado, mas sombrio, fluir de sentimentos. Na conversa que se seguiu, com a jornalista Razia Iqbal, da BBC, Han Kang confessou-se perplexa por se achar ali, falando sobre um livro que escreveu há mais de dez anos. Explicou que na Coreia o romance não alcançara grande sucesso na época do lançamento. “Por quê?” — quis saber Razia. “Talvez por ser tão bizarro. Talvez seja demasiado bizarro para um país como o meu.”
Razia concordou. “A vegetariana” é um romance estranho, disse, mas comovente e muitíssimo corajoso. Depois fez a pergunta inevitável, quase sempre a mais incómoda para qualquer escritor: “De onde veio este livro?”
Han Kang suspirou suavemente. Explicou que o romance começara por ser um conto sobre uma mulher que se transformava numa árvore. “Realismo mágico” — acrescentou, e eu sorri. Acho um tanto irónico a forma como o chamado realismo mágico, tão desprezado hoje em dia entre os escritores latino-americanos, renasceu e vem alastrando pela Ásia. Basta pensar em Murakami. Por outro lado, lembrei-me de Mia Couto, que tem, ao longo dos seus muitos títulos, uma coleção de pessoas que se transformam em árvores — ou que nascem de árvores.
“A vegetariana”, contudo, vai muito além dessa trama simples. O romance, dividido em três partes, senão mesmo em três novelas autónomas, é uma reflexão, por vezes, violenta sobre o papel da mulher numa sociedade conservadora, fechada e que não oferece muito espaço para a diferença. Por isso Razia falou em coragem.
Assim que Han Kang abandonou o palco tive a certeza de que o livro ganharia o prémio (o anúncio ocorreria nessa mesma noite). Mais tarde, passei por uma livraria e comprei um exemplar. A tradutora inglesa, Debora Smith, tem apenas 25 anos. É uma moça bonita, quase tão tímida quanto Han Kang. Decidiu estudar coreano porque lhe pareceu um idioma ao mesmo tempo remoto e relevante. “A vegetariana” foi o primeiro romance que traduziu.
Poucas horas mais tarde, no grande salão do Victoria and Albert Museum, Hang Kang e Debora Smith subiram ao palco para receber o Man Booker International Prize. Enquanto o público se levantava e aplaudia — os homens trajando severo terno preto e laço (inclusive eu), e as senhoras exibindo cintilantes vestidos compridos —, Debora sentou-se numa cadeira e chorou.
Os ingleses não são muito inclinados a chorar em público. Suponho que os coreanos sejam ainda menos. Quanto a mim, tive de fazer um enorme esforço para não chorar junto com ela. Imaginei a mesma cerimónia numa qualquer cidade brasileira. Tenho a certeza de que o público inteiro teria caído no choro. Finalmente, Debora sossegou e, aproximando-se do microfone, disse que, ao contrário do que se possa pensar, os tradutores selecionados para a fase final do prémio não haviam passado os últimos dias pensando na melhor forma de assassinar os restantes concorrentes. “Somos uma família” — assegurou. Sei que sim. Comprovei a sincera alegria do meu próprio tradutor, Daniel Hahn, no momento em que o presidente do júri anunciou o vencedor. Pensei nas palavras de Debora, dias depois, quando um jornalista me perguntou se eu não ficara um pouco desapontado. Disse-lhe apenas que não. Não consegui explicar-lhe que, como os tradutores, também nós, escritores, somos uma espécie de grande família. Tão importante quanto isso: somos leitores. Um prémio, em especial um prémio como o Booker International, serve também para dar a conhecer novos autores. Quando descubro um livro que me agrada, um escritor com o qual me identifico, o que sinto é uma alegria imensa, como ganhar um amigo que me acompanhará o resto da vida.
Como ganhar asas, mas sem o terror da queda.
José Eduardo Agualusa
domingo, maio 22
Paixão de minoria
Ler sempre foi e sempre será coisa de uma minoria. Não vamos exigir a todo mundo a paixão pela leituraJosé Saramago
Viagem no tempo
Falávamos sobre viagens e seus modernos confortos quando alguém se lembrou do tempo em que os viajantes levavam toalha e sabonete na mala. Não faz tanto tempo assim. Uma sobrinha, há poucos anos, chegou a minha casa com toalha de banho e caixinha de sabonete na mala. “Coisa da minha mãe”, explicou constrangida, sinal de que a mãe dela, que tem menos de 60 anos, levava toalha e sabonete quando viajava. Hotéis e hospedarias eram precários, tirando os melhores das capitais; e, ao pousar na casa de alguém, evitava-se “dar trabalho”.
Certas frases jogam a gente no tempo, escadaria abaixo. No trambolhão nos lembramos de coisas que já eram. Muitas não mudam porque atingiram a perfeição da simplicidade, como o prato, a mesa, a cachaça, a camiseta. Outras, tão indispensáveis num momento, descartáveis em outro.
Lembram-se do quebra-vento nos carros? Coisa anterior à difusão do ar-condicionado, pouco antes de o presidente Collor dizer que os automóveis brasileiros eram umas carroças. O quebra-vento era um vidro giratório colocado à frente das janelas dianteiras; quebrava o vento que entrava quando os vidros das portas estavam abaixados, ou permitia que o ar entrasse quando a janela estivesse fechada. Girando-o todo, direcionava-se o vento para dentro, a fim de refrescar a pessoa acalorada. Até há pouco tempo, no Nordeste, carro sem quebra-vento encalhava.
Carros não tinham luz piscante para o motorista indicar que ia entrar à esquerda ou à direita, nem luz de freio. Todos os sinais eram feitos pelo motorista com o braço esquerdo para fora do carro. Sinal de parar: mão espalmada para trás, baixa; sinal para entrar à esquerda: braço reto estendido; entrar à direita, braço alto dobrado para a direita. Quase não havia sinais luminosos de trânsito, o guarda apitava em códigos obrigatoriamente conhecidos.
Não faz muito tempo, as folhas dos livros em brochura vinham “fechadas”, não eram aparadas, prontas para folhear, como hoje. O leitor tinha de abrir as páginas quatro a quatro e depois duas a duas com uma faca ou com um “abridor de livros”. Sim, havia abridores de livros no comércio. E lia-se!
Ah, meninos, as fotos que se tiravam não se viam no mesmo instante, como agora. Só dias mais tarde, após reveladas e copiadas em laboratório. Depois veio a grande novidade das cópias em 24 horas, em duas horas, em uma hora e na hora. A fotografia popularizou-se. Com as câmeras nos telefones celulares, os fotógrafos amadores tornaram-se bilhões.
Seringas de injeção, antes das descartáveis, eram de vidro, tinha-se de fervê-las para esterilizar. Vinham em um estojo de metal, cuja tampa se usava para encher de álcool; sobre ela se acomodava uma armação de metal que também vinha no estojo e servia como trempe de um minifogareiro. Enchia-se o estojo de água, colocava-se dentro a seringa junto com o êmbolo e as agulhas, botava-se fogo no álcool, fervia-se por uns três minutos e pronto. Calculadora? Era a tabuada, que os estudantes sabiam de cor, e baseados nela faziam contas complicadíssimas das quatro operações, na ponta do lápis. Nos escritórios, e só lá, havia as famosas máquinas de calcular manuais Facit, que tinham um teclado de algarismos e uma manivela que os craques do cálculo viravam para a frente e para trás, produzindo exatidões mostradas em um pequeno visor. Não demorou e vieram as elétricas, as eletrônicas digitais…
Máquinas de escrever ainda se veem em delegacias e cartórios do interior. Num hospital da Zona Leste, um amigo me chamou: “Quer ver um flashback?”. E me levou a uma recepcionista de um dos consultórios, que datilografava impávida os dados dos clientes. Nas redações de jornais e revistas, com suas dezenas de máquinas de escrever batucando ao mesmo tempo, o encerramento de uma edição era uma zoeira. O alívio veio com o silêncio dos computadores.
Cartão amarelo, cartão vermelho? No futebol do tempo do beque e do centeralfe, cartão era o dedo do juiz, primeiro apontando o nariz do abusado, depois apontando o olho da rua. Os cartões derrotaram o dedo em riste porque são mais civilizados, impessoais e fáceis de entender em qualquer língua.
Você pensa que eram coisas da juventude do seu avô, ou do seu bisavô, mas não, são do tempo do seu pai. Um tempo em que as crianças tinham bons modos, obedeciam até a olhares, não abriam a geladeira dos outros, contentavam-se em ganhar apenas três presentes por ano, nas ocasiões propícias, e eram felizes.
O ritmo está cada vez mais rápido.
sábado, maio 21
Sua excelência, o leitor
Albert Camus |
Os livros vivem fechados, capa contra capa, esmagados na estante, às vezes durante décadas - é preciso arrancá-los de lá e abri-los para ver o que têm dentro. [...]
Já o jornal são folhas escancaradas ao mundo, que gritam para ser lidas desde a primeira página. As mãos do texto puxam o leitor pelo colarinho em cada linha, porque tudo é feito diretamente para ele. O jornal do dia sabe que tem vida curta e ofegante e depende desse arisco, indócil, que segura as páginas amassando-as, dobrando-as, às vezes indiferente, passando adiante, largando no chão cadernos inteiros, às vezes recortando com a tesoura alguma coisa que o agrada ou o anúncio classificado. Súbito diz em voz alta, ao ler uma notícia grave, "Que absurdo!", como quem conversa. O jornal se retalha entre dois, três, quatro leitores, cada um com um caderno, já de olho no outro, enquanto bebem café. Nas salas de espera, o jornal é cruelmente dilacerado. Ao contrário do escritor, que se esconde, o cronista vive numa agitada reunião social entre textos - todos falam em voz alta ao mesmo tempo, disputam ávidos o olhar do leitor, que logo vira a página, e silenciamos no papel. Renascemos amanhã.
Cristovão Tezza
sexta-feira, maio 20
É dever democrático: banir a perspectiva de um futuro roubado
Ler é um dos maiores prazeres de minha vida. Devo parte substancial do que sou aos livros que li, tanto científicos quanto literários. Estou sempre com livros na mesinha de cabeceira (não durmo sem ler algo!), no carro, na bolsa...
Relembrando o que já fiz para ler – “desde ‘botar’ marido pra dormir, esperar o danado cair nos braços de Morfeu, ligar o abajur e abrir o livro... ai que ‘trepeça’ boa!.. –, não imagino um mundo sem livros de papel. E os prazeres inenarráveis de abrir, folhear e ler um livro? De marcar onde parou, fechá-lo e a fissura de retomar a leitura?” (“Ler é bater pernas pelo mundo com as endorfinas nas alturas”, O TEMPO, 1º.11.2012).
Em “Lembranças de uma cozinha e da primeira galinha cheia” (2.12.2008), revelei um pouco de minhas vivências de menina sertaneja que bateu asas e voou, ultrapassando as fronteiras do sertão, e que percorreu o mundo duas vezes, carregando-o no peito. A primeira, por meio da leitura. Ler é bater pernas pelo mundo... A segunda, presencialmente. É muito para quem não nasceu em berço de ouro e não é caixeira-viajante. Eu sei. Mas a medicina legou-me asas (“Ainda saudosa da cozinha no sertão, apesar da trabalheira”, O TEMPO, 9.12.2008).
Na semana passada, recomendei “O Futuro Roubado”, de Theo Colborn, Dianne Dumanoski e John Peterson Myers (L&PM Editores, 1997), numa crônica que escrevi pensando em minhas netas Luana e Maria Clara e nos netos Lucas e Inácio, pois já estou quase na prorrogação de minha expectativa de futuro, mas a “netaiada” tem futuro pela frente.
E registrei: “O título ‘O Futuro Roubado’ hoje é mais que um livro. É também um conceito político de resistência aplicável a conjunturas políticas que retiram, usurpam, entravam direitos e roubam a cidadania, tornando perenes as assimetrias econômicas, as exclusões e as vulnerabilidades sociais e políticas” (“‘O Futuro Roubado’ é um livro científico que dói na cidadania”, O TEMPO, 10.5.2016).
Parênteses para dizer que fiquei impactada com o artigo de Paulo Tedesco “O golpe no mundo do livro”, no qual diz que, “em tempo de golpe político, é bom repensar o mundo do livro e dos autores e sua trajetória em períodos repressivos” ; e reaviva nossa memória com alguns autores clássicos que passaram por situações complicadas diante de momentos políticos: Dostoiéwski, Antonio Gramsci, Graciliano Ramos, Federico Garcia Lorca... (Vermelho, 9.5.2016).
Clarinha, minha neta, mal deitamos, pega um livro e os meus óculos de leitura dizendo: “Vamos ler, num é, vovó?”. Agora que ela está lendo, ainda titubeante, travamos uma peleja para ver quem vai ler. Outro dia ela “me pegou de jeito”.
Nas mãos, meu livro “Então, Deixa Chover”, cuja capa ela venera – uma mulher montada num cavalo com suas duas filhas e o filho –, indagou como eu o escrevi. Conversa vai, conversa vem, pediu-me que eu contasse a história sem ler o livro!
– Mas, Clarinha...
– Escreveu, não escreveu? Como não sabe contar sem olhar no livro?
Que jeito, né? Falei, falei... “Agora, vó, lê no livro!”. Já cansada, li um trechinho... Cochilava quando, como num sonho, ela retirou cuidadosamente meus óculos, o livro de minhas mãos, verificou meus lençóis, beijou meu rosto num sorrisinho matreiro, se achegou, e dormimos abraçadinhas...
Pela manhã, ainda na cama, disse-me: “Ih, vovó, estou preocupada. Fica lendo, lendo e dorme. Pode quebrar os óculos! Toma cuidado, vó! Depois, como vai escrever no computador as histórias tão bonitas que tua cabeça inventa?”. E rimos. Ô delícia...
Eis um futuro que não podemos permitir que seja roubado!
Relembrando o que já fiz para ler – “desde ‘botar’ marido pra dormir, esperar o danado cair nos braços de Morfeu, ligar o abajur e abrir o livro... ai que ‘trepeça’ boa!.. –, não imagino um mundo sem livros de papel. E os prazeres inenarráveis de abrir, folhear e ler um livro? De marcar onde parou, fechá-lo e a fissura de retomar a leitura?” (“Ler é bater pernas pelo mundo com as endorfinas nas alturas”, O TEMPO, 1º.11.2012).
Lil Kim |
Na semana passada, recomendei “O Futuro Roubado”, de Theo Colborn, Dianne Dumanoski e John Peterson Myers (L&PM Editores, 1997), numa crônica que escrevi pensando em minhas netas Luana e Maria Clara e nos netos Lucas e Inácio, pois já estou quase na prorrogação de minha expectativa de futuro, mas a “netaiada” tem futuro pela frente.
E registrei: “O título ‘O Futuro Roubado’ hoje é mais que um livro. É também um conceito político de resistência aplicável a conjunturas políticas que retiram, usurpam, entravam direitos e roubam a cidadania, tornando perenes as assimetrias econômicas, as exclusões e as vulnerabilidades sociais e políticas” (“‘O Futuro Roubado’ é um livro científico que dói na cidadania”, O TEMPO, 10.5.2016).
Parênteses para dizer que fiquei impactada com o artigo de Paulo Tedesco “O golpe no mundo do livro”, no qual diz que, “em tempo de golpe político, é bom repensar o mundo do livro e dos autores e sua trajetória em períodos repressivos” ; e reaviva nossa memória com alguns autores clássicos que passaram por situações complicadas diante de momentos políticos: Dostoiéwski, Antonio Gramsci, Graciliano Ramos, Federico Garcia Lorca... (Vermelho, 9.5.2016).
Clarinha, minha neta, mal deitamos, pega um livro e os meus óculos de leitura dizendo: “Vamos ler, num é, vovó?”. Agora que ela está lendo, ainda titubeante, travamos uma peleja para ver quem vai ler. Outro dia ela “me pegou de jeito”.
Nas mãos, meu livro “Então, Deixa Chover”, cuja capa ela venera – uma mulher montada num cavalo com suas duas filhas e o filho –, indagou como eu o escrevi. Conversa vai, conversa vem, pediu-me que eu contasse a história sem ler o livro!
– Mas, Clarinha...
– Escreveu, não escreveu? Como não sabe contar sem olhar no livro?
Que jeito, né? Falei, falei... “Agora, vó, lê no livro!”. Já cansada, li um trechinho... Cochilava quando, como num sonho, ela retirou cuidadosamente meus óculos, o livro de minhas mãos, verificou meus lençóis, beijou meu rosto num sorrisinho matreiro, se achegou, e dormimos abraçadinhas...
Pela manhã, ainda na cama, disse-me: “Ih, vovó, estou preocupada. Fica lendo, lendo e dorme. Pode quebrar os óculos! Toma cuidado, vó! Depois, como vai escrever no computador as histórias tão bonitas que tua cabeça inventa?”. E rimos. Ô delícia...
Eis um futuro que não podemos permitir que seja roubado!
quinta-feira, maio 19
Pistoia
A obra Pistoia – Cemitério Brasileiro (Global Editora, R$ 32, 24 páginas) traz um curto poema escrito por Cecília Meireles, na cidade de Florença, na Itália. Esta 2ª edição é um fac-símile da primeira, publicada em 1955 pela lendária Philobiblion, e preserva assim aquele requinte gráfico e as xilogravuras de Manuel Segalá.
Pistoia foi um cemitério na região da Toscana, onde foram enterrados corpos de soldados brasileiros que fizeram parte da FEB (Força Expedicionária Brasileira), atuante na Segunda Guerra Mundial. Um poema repleto de ternura pelo heroísmo de nossos soldados que morreram em solo europeu.
“Este cemitério tão puro
É um dormitório de meninos:
E as mães de muito longe chamam,
Entre as mil cortinas do tempo,
Cheias de lágrimas, seus filhos.”
Em 1967, no lugar do cemitério, foi erguido um monumento votivo projetado por Olavo Redig de Campos, discípulo de Oscar Niemeyer. Até 20 de junho de 1962, ali repousavam os restos de 462 soldados, transferidos depois para o Brasil.
Pistoia foi um cemitério na região da Toscana, onde foram enterrados corpos de soldados brasileiros que fizeram parte da FEB (Força Expedicionária Brasileira), atuante na Segunda Guerra Mundial. Um poema repleto de ternura pelo heroísmo de nossos soldados que morreram em solo europeu.
“Este cemitério tão puro
É um dormitório de meninos:
E as mães de muito longe chamam,
Entre as mil cortinas do tempo,
Cheias de lágrimas, seus filhos.”
Em 1967, no lugar do cemitério, foi erguido um monumento votivo projetado por Olavo Redig de Campos, discípulo de Oscar Niemeyer. Até 20 de junho de 1962, ali repousavam os restos de 462 soldados, transferidos depois para o Brasil.
terça-feira, maio 17
Assim começa o livro...
A primeira vez que Jean-Claude Pelletier leu Benno von Archimboldi foi no Natal de 1980, em Paris, onde fazia estudos universitários de literatura alemã, aos dezenove anos de idade. O livro era D’Arsonval. O jovem Pelletier então ignorava que esse romance era parte de uma trilogia (formada por O jardim, de tema inglês, A máscara de couro, de tema polonês, assim como D’Arsonval era, evidentemente, de tema francês), mas essa ignorância ou esse vazio ou esse desleixo bibliográfico, que só podia ser atribuído à sua extrema juventude, não subtraiu em nada o deslumbramento e a admiração que o romance lhe causou.
A partir desse dia (ou das altas horas noturnas em que deu por encerrada aquela leitura inaugural), se converteu num archimboldiano entusiasta e deu início à peregrinação em busca de mais obras desse autor. Não foi tarefa fácil. Conseguir, mesmo em Paris, livros de Benno von Archimboldi nos anos 80 do século xx não era de forma alguma um trabalho que não acarretasse múltiplas dificuldades. Na biblioteca do departamento de literatura alemã da sua universidade não se encontrava quase nenhuma referência sobre Archimboldi. Os professores não tinham ouvido falar nele. Um deles disse que o nome não lhe era estranho. Com furor (com espanto), Pelletier descobriu ao cabo de dez minutos que o que não era estranho a seu professor era o nome do pintor italiano, ao qual, aliás, sua ignorância também se estendia de forma olímpica.
Escreveu à editora de Hamburgo que havia publicado D’Arsonval e jamais recebeu resposta. Percorreu, também, as poucas livrarias alemãs que 16 pôde encontrar em Paris. O nome de Archimboldi aparecia num dicionário de literatura alemã e numa revista belga, dedicada, nunca soube se de brincadeira ou a sério, à literatura prussiana. Em 1981, com três amigos da faculdade, viajou pela Baviera e lá, numa livrariazinha de Munique, na Voralmstrasse, encontrou outros dois livros, o magro volume de menos de cem páginas intitulado O tesouro de Mitzi e o já mencionado O jardim, o romance inglês.
A leitura desses dois novos livros contribuiu para fortalecer a opinião que tinha sobre Archimboldi. Em 1983, aos vinte e dois anos, deu início à tarefa de traduzir D’Arsonval. Ninguém lhe pediu que o fizesse. Não havia então nenhuma editora francesa interessada em publicar esse alemão de nome estranho. Pelletier começou a traduzi-lo basicamente porque gostava, porque era feliz fazendo isso, embora também tenha pensado que podia apresentar essa tradução, precedida por um estudo sobre a obra archimboldiana, como tese e, quem sabe, como o primeiro passo do seu futuro doutorado.
Acabou a versão definitiva da tradução em 1984, e uma editora parisiense, após algumas hesitantes e contraditórias leituras, aceitou-a, e publicaram Archimboldi, cujo romance, destinado a priori a não passar da cifra de mil exemplares vendidos, esgotou depois de um par de resenhas contraditó- rias, positivas, até mesmo excessivas, os três mil exemplares da tiragem, abrindo as portas para uma segunda, terceira e quarta edição.
Por então, Pelletier já tinha lido quinze livros do autor alemão, traduzido outros dois, e era considerado, quase unanimemente, o maior especialista em
Benno von Archimboldi que havia em toda a extensão da França.
segunda-feira, maio 16
Indispensável
O livro é um item essencial no dia-a-dia das pessoas. É o tipo de artigo que você compra para benefício próprio, para presentear as pessoas, para ganhar conhecimento e, se comparado a outros itens, tem um custo benefício excelenteLuis Antonio Torelli, presidente da Câmara Brasileira do Livro
Professor pedala para levar livros a vilas remotas
Saber Hosseini, um professor de Bamiyan, no Afeganistão, transformou sua bicicleta em uma biblioteca itinerante, dando inicio ao projeto “Children’s Book Foundation”. Todo fim de semana, ele carrega sua bike com livros e os leva até vilarejos remotos, onde não existem escolas, dando assim oportunidade as crianças locais de terem acesso a livros e educação.
Hosseini conta que a ideia surgiu há seis meses, quando conversou sobre o projeto com alguns amigos. Estes, gostaram da iniciativa, e fizeram algumas doações para ajudar o professor a comprar os primeiros livros. No início, a biblioteca contava com 200 exemplares. Hoje, com a ajuda de mais doadores, a coleção já conta com mais de 6 mil livros.
O projeto funciona parecido com uma biblioteca. Toda semana, novos livros chegam as comunidades, e os antigos são recolhidos, sendo levados para crianças de outros vilarejos.
O projeto, que já tem uma biblioteca física e mais cinco em construção, agora conta com um financiamento coletivo para arrecadar fundos para mais e mais livros. A cada $1 recebido, até dois livros podem ser comprados. Um valor tão insignificativo para nós, mas que pode ajudar a mudar a vida de uma criança!
Hosseini conta que a ideia surgiu há seis meses, quando conversou sobre o projeto com alguns amigos. Estes, gostaram da iniciativa, e fizeram algumas doações para ajudar o professor a comprar os primeiros livros. No início, a biblioteca contava com 200 exemplares. Hoje, com a ajuda de mais doadores, a coleção já conta com mais de 6 mil livros.
O projeto funciona parecido com uma biblioteca. Toda semana, novos livros chegam as comunidades, e os antigos são recolhidos, sendo levados para crianças de outros vilarejos.
O projeto, que já tem uma biblioteca física e mais cinco em construção, agora conta com um financiamento coletivo para arrecadar fundos para mais e mais livros. A cada $1 recebido, até dois livros podem ser comprados. Um valor tão insignificativo para nós, mas que pode ajudar a mudar a vida de uma criança!
domingo, maio 15
Uma vida nos livros
Leio no blogue de um amigo espanhol editor e escritor, Adolfo García Ortega, uma história belíssima de uma chilena, Susi Armendáriz, que, vivendo perto do Cabo Horn, apenas conseguiu ver o seu farol aos noventa anos, pois desde pequena que praticamente não saía da aldeia onde nascera. Aos dezoito anos, foi para casa de uma senhora rica e cega ler-lhe diariamente romances, onde ficou até aos trinta e quatro, altura em que a patroa morreu. Mas poucas semanas depois ofereceram-lhe um novo emprego como leitora noutra casa próxima. Desta feita, a senhora não era tão rica, mas estava também cega, e foi com ela que passou os quinze anos seguintes, lendo continuamente. Aos sessenta e sete anos, Susi fizera da leitura em voz alta a sua única profissão e, quando a nova patroa morreu, conseguiu outros trabalhos do mesmo tipo até ser ela própria muito velhinha. Nos últimos tempos em que trabalhou, já nem sequer lia, repetindo à sua maneira as histórias que conhecia desde a juventude. Quando praticamente cegou, contava a si mesma essas histórias, como se fossem recordações da própria vida, acabando por confundir a realidade com a ficção: sem ter saído da sua aldeia, acreditava que já estivera em muitos locais que serviam de cenário aos romances que lera e que protagonizara muitos dos episódios ali contados. Quando, aos noventa anos, a levaram finalmente a ver o farol do Cabo Horn, essa foi a sua última recordação.
Assinar:
Postagens (Atom)