quinta-feira, maio 12

Arboterapia

Vocês acreditam que abraçando árvores possamos cuidar dos nossos males?

Imagino que isto suscite dúvidas e até desconfiança, dado a quantidade farta de terapias alternativas que prometem curas holísticas. Entretanto a arboterapia (arbor = árvore, em latim e therapeia = cura, em grego) propõe algo que vai além de um simples tratamento, oferecendo as energias primárias e sábias que as árvores acumularam durante milênios, muito antes da presencia humana. Elas, na medida em que evoluíam, saindo do estado talófito quando não possuíam raízes, talos e folhas e se apresentavam como musgos, liquens ou fungos e alcançaram formas arbóreas depois de transitar por infinitas maneiras de vegetar, foram vivenciando sentimentos como: frio, calor, sede, afogamento, inquietação e calmaria. Atenção: quando falo sentimentos não me refiro às emoções, estas são exclusivas dos seres humanos e se diferenciam das primeiras porque sempre envolvem a mente e não apenas o abalo material ou corpóreo. Mesmo assim, as árvores, acumularam uma espécie de sabedoria que lhes permitiram prevalecer em um planeta sofrendo todo tipo de inclemências.


Acredito, e minha experiência corrobora isto, que possamos encontrar na floresta ou mesmo em um parque, uma praça ou no nosso jardim, uma convivência salutar e harmônica que restabeleça o equilíbrio psicofísico que as atividades cotidianas tiraram da gente. Ansiedade, estresse, culpa, decepção, inveja, humilhações, raiva, medos, melancolia, remorso, vergonha e especialmente solidão e preocupação não são emoções experimentadas pelas árvores. Elas vivenciam unicamente o presente, o momento singular que não está atrelado a tempo algum, mas apenas ao que lhes faz sentir cada instante sem se preocupar com o futuro nem arrependerem-se por algo supostamente equivocado. São individualmente senhoras de si e se agrupam em bosques por uma simples afinidade e não pelo medo da solidão. É por isso que não vemos árvores retraídas, mas sim árvores garbosas desfrutando do sol total no meio de um gramado qualquer.

Quando abraçamos o tronco de uma árvore entramos em contato com uma energia ancestral que, de modo atávico, nos remete ao Jardim do Éden, ao Paraíso que sonhamos. Olhamos para cima e sentimos na copa dessas árvores o verde da esperança que nos tranquiliza e atenua sofrimentos.

Cada espécie lenhosa possui uma peculiaridade, um caráter forjado século trás século. Espécies como o ipê e o jatobá são denominadas “madeiras de lei” por causa da dureza e espalham a determinação e coragem quando as abraçamos. Elas, assim como o pau-ferro e o mogno, são indicadas nos momentos de fragilidade emocional, desânimo ou mesmo depressão. Mas existem aquelas que, além de serem consistentes como as referidas, são inflexíveis e por vezes ríspidas, como é o caso de alguns eucaliptos. Estes são esquivos e pouco sociáveis, rejeitando a companhia de outras plantas ou de pássaros. Abraçá-los implica em contagiarmos com sua severidade e intolerância, algo que não queremos a não ser que nos consideremos fracos ou um pouco molengas. Entretanto vejo que os eucaliptos, apesar da aparência firme, são derrubados pelas tormentas, mostrando sua total intransigência.

Por outro lado admiro a maleabilidade das palmeiras e dos bambus. Eles são dóceis, sem serem submissos, complacentes com ventos e tempestades dobram suas siluetas, mas nunca quebram e dificilmente são derrubados. Aproximar-nos deles trará comportamentos compreensivos, fazendo com que observemos nosso contorno e os que nos rodeiam, com um pouco mais de indulgência. Afinal de contas vivemos em um mundo em permanente transformação, exigindo de nós contemporização em cada ato e em cada reflexão.

Se quiser entender o que se passa interiormente, aquilo que o inquieta, busque as respostas em uma floresta. Ande entre as árvores e toque-as sem receios. Você verá que esse convívio era salutar e feliz para nossos antepassados e que pode recriar essa emoção, sem renunciar aos benesses atuais repletos de tecnologia, logrando assim uma pacífica harmonia.

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