Quem conhece o assunto, sabe. É simplesmente impossível falar de Rússia e cultura russa entre nós, impossível falar da presença e do influxo dos russos no Brasil, sem colocar em primeiríssimo lugar o nome de Boris Schnaiderman.
Boris foi um mestre, ensinando-nos a andar pelo mundo da cultura russa moderna. Pelos campos do fazer textual criativo e das viagens pioneiras de artistas e intelectuais russos na dimensão das metalinguagens.
E não foi só a vanguarda. Boris nos ensinou também a apreciar o verdadeiro Dostoiévski, que, antes de suas traduções, conhecíamos mal e indiretamente, em versões feitas a partir de versões francesas, que sempre disfarçavam em “littérature” o brutalismo do autor de “Os Irmãos Karamázov”.
Trouxe também para o mundo de língua portuguesa, pioneiramente, textos críticos e teóricos de ponta, com o jovem Jakobson e a chamada Escola Formalista (Chklóvski, Eikhenbaum, Tiniânov, etc.). Para nos remeter, adiante, aos estudos extraordinários de Iuri Lotman e seus companheiros semioticistas.
A tristeza é que morre um homem como Boris (como, antes, Décio Pignatari) e a nossa (vossa) mídia não diz nada. Estamos condenados aqui ao narcisismo corporativista. Basta o sujeito ser profissional da mídia que, ao morrer, ela o transforma em super-herói cultural do país. Nem que o cara seja um mero fotógrafo de telenovela, cantor ou autor de reportagens televisuais.
Me lembro de uma conversa com Augusto de Campos, na São Paulo da década de 1970, quando fiz uma provocação geral, dizendo: pelo andar da carruagem, ainda vamos ter uma enciclopédia brasileira de cultura que dedique menos de 10 linhas a Guimarães Rosa e mais de 100 linhas a Erasmo Carlos. Infelizmente, eu estava certo. Esse tempo chegou. E é bem mais feio do que o pintei. De qualquer sorte, deixo aqui, gritando sobre as cabeças-de-camarão dos imbecis, o meu VIVA BORIS!
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