Em sua quarta edição, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil entrevistou 5.012 pessoas, alfabetizadas ou não, representando, segundo o Ibope, 93% da população brasileira. Os resultados são, em geral, frustrantes. Do total de pessoas entrevistadas, 74% não compraram nenhuma obra nos últimos três meses. E ainda mais preocupante é o fato de que 30% delas não compraram nem um livro sequer em toda a vida.
Jun Cen |
De acordo com os dados da pesquisa, o brasileiro não dá muita prioridade à leitura. Entre as atividades preferidas para se fazer no tempo livre, a leitura foi em média a 10.ª opção dos entrevistados. Entre as razões apontadas por quem não leu nenhum livro nos últimos três meses, 32% alegaram falta de tempo, 28% disseram não gostar de ler, 13% não têm paciência para a leitura, 10% preferem outras atividades, 9% reconheceram ter dificuldades para ler e 4% sentem-se cansados para ler.
Outro dado que muito revela sobre a leitura – e também sobre a qualidade da educação – é a constatação de que metade dos professores entrevistados não leu nenhum livro nos três meses anteriores à pesquisa.
Na enquete, 67% dos entrevistados afirmaram que em sua trajetória não houve ninguém que os tenha incentivado à leitura. Para os 33% que declararam ter recebido algum apoio para ler, o principal incentivo veio da mãe ou do responsável do sexo feminino (11%), seguido do professor (7%).
De acordo com a pesquisa, o brasileiro lê apenas 4,96 livros por ano – 0,94 é indicado pela escola e 2,88 são lidos por vontade própria. A média anterior, de 2011, era de 4 livros por ano. É importante notar que o índice abarca não apenas os livros cuja leitura foi finalizada. Incluem-se também aqueles deixados pelo caminho. Na média dos livros lidos pelo brasileiro em 2015, 2,43 foram terminados e 2,53 foram lidos apenas em parte. Segundo a enquete, as mulheres leem mais que os homens: 59% das mulheres são leitoras; entre os homens o porcentual é de 52%.
Um dado positivo revelado pela pesquisa Retratos da Leitura no Brasil é o aumento do número de leitores na faixa etária entre 18 e 24 anos. Em 2011, eram 53%. Em 2015, o porcentual foi de 67%. Segundo Marcos da Veiga Pereira, presidente do Sindicato Nacional de Editores, o boom da literatura para esse público pode ter sido fator mais decisivo do que ações educativas de incentivo à leitura após a saída da escola.
Entre os dados referentes ao comportamento do leitor, a pesquisa indica que adolescentes entre 11 e 13 anos são os que mais leem por gosto (42%), seguidos por crianças de 5 a 10 anos (40%). Para 30% dos entrevistados, o fator mais importante na escolha do livro é o tema. Entre o público de 5 a 13 anos, 27% escolhem pela capa.
Quanto ao local da leitura, 81% dos entrevistados afirmaram ler mais em casa. Já os e-books são mais lidos em cyber cafés ou lan houses (42%) e no transporte público (25%). Em qualquer nível de escolaridade, a Bíblia é o título mais lido.
É positivo o aumento do número de leitores, especialmente entre os mais jovens. Mas não é possível menosprezar o fato de que os números continuam sendo preocupantes, indicando uma sociedade que pouco valoriza a leitura. Se é certo que houve no mundo contemporâneo uma multiplicação dos canais de acesso à informação, também é certo que a leitura continua sendo indispensável. Sem leitura, não há cultura, não há capacidade crítica, não há plena autonomia individual. Há aqui um sério problema, que precisa ser enfrentado tanto pelo poder público quanto pela sociedade.
Editorial Estadão
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