terça-feira, maio 24

O balanço da rede

Finalmente a criançada foi fazer outra coisa– pelo silêncio, saiu – e deixou a rede só para mim; me espicho de jeito e abro um livro.

Tempo esquisito, não se resolve: esse ventinho capcioso, meio borocoxô, se ponho manta, sinto calor; se tiro, arrepio.

Essa luz de maio que pega de lado nas coisas, definindo melhor os contornos, não machuca os olhos feito no verão.

Quem esticou esse tapetinho aqui não entende nada de rede, que assim fica impossível dar o impulso no chão.

Nesse embalo que aos poucos vai diminuindo, sossegando toda empolgação, ora vejo o Cristo, ora não.

Nem cheguei a pensar no imposto de renda, só quando o danado me desespera de madrugada.

O noroeste assanhando as folhas no chão, parece que a nuvem se decidiu pela pancada.

Ê, passarinhos que acabaram com as pitangas, não sobrou uminha nem para a batida.

Gostei da exposição de Divinos ali na parede – aquele é de Minas, aquele esqueci.

Duro ser pai e ter de dar exemplo: esse, por exemplo, não é dia para banho.

Hoje está para caipira e feijoada – no mínimo, virado com torresmo.

Saudade de vagalume piscando quando a tarde resolve virar noite.

Jacaré namorando deve ser estranho, como será que eles fazem?

Como cresceu a filha da Fulana, virou mulher, e linda mulher.

“Você não está mais na idade de sofrer por essas coisas.”

No outono até o calor é mais recolhido, sem tanta mosca.

Meu filho está pensando em estudar Física Mecatrônica.

Quando eu souber o que é isso, vejo se é do jeito dele.

Quem diria que tudo fosse dar num grande equívoco.

Que tanto caminhão passa agora pela rua de baixo?

Haverá sorvete de creme holandês na Holanda?

Tomei ou fingi tomar os remédios hoje?

Pena, a moita de antúrios não vingou.

E essa política, que só se enrola.

Preciso visitar madrinha Rosa.

Nasceu um mamão no pé.

Vai chamar sanhaço.

Lá vem aguaceiro.

A roupa no varal!

Gente do céu.

Filha, ajuda.

Toró forte.

Ventania.

Telefone.

Parou.

Cássio Zanatta

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