“Menino”, dizem, “os antepassados de outras pessoas
vivem debaixo da terra, mas os espíritos dos nossos antepassados vagueiam pelas encostas da montanha do Norte. Por que acha que aquelas borboletas brancas vivem sobrevoando a montanha? E os besouros que correm para lá e para cá pelas trilhas que a atravessam? Esses animais são os espíritos dos nossos antepassados que sofreram; é esse o motivo. Estão tentando encontrar seus túmulos na montanha do Norte. Os antepassados das outras pessoas morreram de fome e doença, ou de idade avançada, ou na guerra. Mas os nossos antepassados morreram de injustiça. Adivinhe, menino, quero que você adivinhe. Por que eles morreram? Ah, pode tentar o quanto quiser, nunca vai encontrar a resposta certa. A causa da morte deles foram seus olhos; eles se afogaram nas próprias lágrimas.”
A vegetação selvagem da montanha era ideal para comer, e sua água de nascente, perfeita para beber — com exceção daquela da piscina que se formava quando a água descia pela encosta da montanha e enchia o túmulo vazio do chefe Xintao —, isso segundo as feiticeiras da aldeia dos Gravetos, que eram a fonte de todo o conhecimento local. Ninguém conseguia mais se lembrar da aparência do chefe
Xintao quando ele vivia como eremita na montanha do Norte, mas ninguém se atrevia a beber daquela água, pois seria o mesmo que beber de uma piscina de lágrimas, as lágrimas acumuladas de trezentos velhos espíritos cobertas por uma camada de água doce de chuva.
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