domingo, junho 12

Do amor e de como ele se expressa

Se expressássemos, mesmo, o que sentimos, se isso que nós dizemos ser amor chegasse mesmo como amor aos outros, a resposta certamente não seria esse silêncio.

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O amor morreu há tanto tempo, e o aroma que dele ficou é este que, se não for o da santidade, bem parece e bem mereceria ser.

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O verdadeiro registro da vida e dos sentimentos do homem é a arte. A história não é mais que um tedioso rol de datas e de nomes.

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Se espero ainda aprender alguma coisa, é com a literatura. Com a vida, mais nada.
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Minha alma dispersa procurava sua alma gêmea no mercado persa de Ketelbey. Um mercador consternado me disse que eu estava atrasado: “Isto aqui já é o Irã.”
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Não, asfódelos não é uma exortação sexual.

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Todo sujeito, se de amor se trata, acaba por ser um objeto.

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Sente a nostalgia dos tempos em que, súdito, vivia para cantar os primores de sua rainha e às vezes errava propositalmente uma nota ou um verso, para receber no braço o castigo das unhas majestáticas e rancorosas.

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Quando ele a vê, a ponta de um dos seus dedos se inquieta e em sua língua há uma palpitação de mel.

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Se eu tivesse poder, estabeleceria uma norma para melhorar a literatura: em cada parágrafo deveria estar presente um gato. Outra norma seria proibir parágrafos com mais de cinco linhas.

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Vem sonhando com umbigos. Acorda sempre com o gosto daquele envergonhado ouro de bijuteria.

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Quixote fracote, eu derrubava um moinho por ano. Derrubo agora trinta por mês, graças a deus e ao ômega 3.

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Regar as plantas à noite, com tal suavidade que elas, não nos vendo, pensem sermos a chuva.

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Um medo de ter consumido já toda a minha tristeza.

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Não se suicida para não ficar sem ter no que pensar.

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Para um poeta concretista, o máximo de sentimento é uma rosa de cimento.

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Se sou escritor, não sei. Mas sou persistente. Continuo escrevendo.

Raul Drewnick

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