Quando hoje, num contexto radicalmente diferente — Estados de direito, democracias consolidadas, liberdade de expressão consagrada constitucionalmente, proibição de qualquer discriminação com base na nacionalidade, origem étnica ou expressão de género —, vemos pessoas de megafone em riste a invadir apresentações de livros em centros culturais e bibliotecas, constatamos que há quem não aceite “a liberdade de ler”. E de pensar. E de ser. De ser outro que não eles.
Há grupos extremistas, como o Habeas Corpus, com uma agenda clara: impedir eventos que, nas suas palavras, promovam a “cooptação de crianças e jovens para a homossexualidade pelo movimento terrorista LGBTQIA+”.
Os seus elementos conseguem destruir sessões pensadas para serem de debate livre — mas que terminam silenciadas pela gritaria. Chegam a anunciar previamente o boicote. E mesmo assim, por vezes, são os autores e os leitores que acabam, em nome da sua própria segurança, por ter de sair da sala.
Nas redes sociais destes grupos destila-se ódio contra quem escreve (uma das escritoras recebeu imagens do seu livro a arder, as fogueiras persistem). E contra ativistas, políticos e quem trabalha em jornais. Telefones de jornalistas são partilhados em grupos públicos para que sejam abalroados por insultos estejam onde estiverem, na sua casa ou na redacção. Quem o faz deseja que também eles tenham de sair da sala.
Estas pessoas não acreditam só que não deve haver “liberdade de ler”. Acreditam que não deve haver liberdade. Ponto.
Nos muitos episódios que protagonizaram, sempre que a apresentação de um livro não chegou ao fim, saíram vitoriosos.
Quem legisla, quem garante a segurança, quem investiga as queixas tem de tomar medidas. Não pode continuar a passar esta sensação de passividade.
A liberdade deve ganhar sempre.
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