...O Céu deve ser na verdade uma biblioteca... e-n-o-r-m-e – onde repousam todos os personagens, anjos, heróis, narradores implícitos e explícitos, tipos de capa e espada (e de asa nos pés, antenas ligadíssimas e luz nos olhos), esperando não Godot, Ben-Hur, Lewis Carroll, que já estão assentados por lá, mas Um VISITADOR. Esperando serem visitados (na imaginação? no sonho?) pelos benditos Escritores de Livros! Deus, claro, é o supremo Maior Bibliotecário-Comandante-em-Chefe do Universo. E ali também edita suas (nossas) Vidas-Livros, que sonham finais felizes no palco iluminado da Nave Terra-mãe, sob chão de estrelas. Já pensou que demais, diria o Snoopy?“Mas eis que a palavraCantoflorvivênciaRe-nascendo perpétuaObriga o fluxoCavalga o fluxo num milagreDe vida...”Orides Fontela
...O Céu de todas as Honras e Glórias inimagináveis, claro, tem um arquivo cósmico de todos os historiais. Do gênese supragalaxial, ao salmo cor de rubi, passando pelos mantras-banzos-blues-fados dos apocalipes de mil idéias com signos ficantes. Robinson Crusoé é agora uma abençoada janela-arquivo de lá, num cantinho com pintura xadrez que dá, nos horizontes e crepúsculos, para um ninhal escarlate de suntuosidades binárias, feito rancho de meteoros-metáforas esplendentes.
...O Céu também pode ser só um pouquinho aqui, amostra grátis no DNA metafísico de cada criador e criação. O Escritor que gera livros-árvores, livros-nuvens, livros-circos, livros e pertencimentos enlivrados. Como Hilda Hist, Olga Savary, Clarice Lispector, Proust, Tolstói, Neruda, Saramago, Brecht, Rilke, Cortázar. O escritor ins-pirado, ensimesmado, tocando por uma fagulha de amparo infinital, imagina, desmancha a seco, arrruma, cria, pesquisa e, eureka!. Surgem pedacinhos do céu como Cem Anos de Solidão, O Vermelho e o Negro, Incidentes em Antares, Grandes Sertões Veredas, Sentimentos do Mundo, O Nome da Rosa. A alma de cada um, recolhedor na curva do tempo, no imaginário ou da bateia de memórias, escrevendo uma vida-livro, um clássico. Só por Deus. Fico só sondando o devir, depoimento, rascunho, testemunho letral de um tempo, um povo, um local, uma mente brilhante atiçando implicações que cativarão olhares maviosos.-No Céu não existe pecado e nem sanção de percurso-viagem-visita (todos serão perdoados?), nós todos, em capa dura ou com colagens de trilhas, temos a nossa vida inteirinha para escrever essa existencialização, tentarmos por uma bela vida e bela obra, com um final feliz. Bem-aventurado aquele que acerta na primeira edição sem cortes. Pois será Céu e na Terra um livro aberto de Deus, Livreiro-mor. No mais, vidas-livros são auferidas, recompostas, registradas, acrescentadas de aforismos, citações célebres, tragédias ou mesmo ilustrações maravilhosas. Que Paraíso de Livros é o Céu, cheios de zilhões de escrivaninhas, estantes, caixas de pandora com suas páginas atemporais...
-No Céu, existir mesmo é conjugar o verbo Escre/Viver; existir é ler (oxigênio matrix), pois não existe Morte ao ler; no ler, por ler.
Dormimos o sonho da viagem para dentro de nós, uma vida, um causo, uma croniqueta, uma historiazinha pro Menino Jesus dormir seu sonho de trombetas. Ler é uma busca para a nossa Cura. Cada livro um historial, uma sentição, um rocambole geral a revelar-se em páginas de lágrimas e luzes se misturando, o vermelho e o negro, o azul e o amarelo, a loucura e a lucidez, sob o percurso de um altíssimo balão encantado segurando pontos de interrogações com baunilha num céu de chocolate...
...No Céu, pássaros-marcadores de livros, árvores-papéis de pão, borboletas-vaga-lumes-ideias, pirilampos de tons e nuances, rinocerontes de enlevos, rios de inspirações, nuvens e chuvas de vírgulas, relâmpagos de pensamentos-chaves, tudo o que depois serão versos, estrofes, parágrafos, apresentações, músicas pra alma procurando calma pra se coçar... Cada um lê-se a si mesmo, acrescenta o que se lhe vem a cabeça (consultem sempre o coração), invade pontuações, pondo pingos nos is ou, de relance, quem o sabe um dia, com tantas placas mães e placas de captura, no futural, colocando até pingos em dáblios... Nada é impossível ao que lê.
-Ah “Terra do Era Uma Vez”, o Céu pode ser dentro de cada um de nós aqui. Shangri-lá, Jerusalém, Pasárgada, Santa Itararé das Letras, São Petesburgo, São Paulo, Curitiba, Brasília. A cidade-livro. O herói sempre vence no final, pois a esperança é a inteligência da vida. Vivendo e aprendendo a escrever-se. Lendo e se refazendo, cortando exageros, pois o espírito não tem peça de reposição e nem inventaram bisturi ou silicone para a alma. A re-existencialização-pagina-aberta de cada um ser ou não Ser; cada clã, núcleo de abandono, ilha, adubo, enciclopédia, dicionário, clássico, coleção, gibi, quadrinho, palavra cruzada, cartun, jornais, revistas, livros... almanaques...
...Corra e olhe o céu, diz a balada de Cartola. Traga um céu para si e em si, em todos os recomeços vibracionais. Um Livro, pedaço de seu rio interior. Faça de sua vida-livro um belo romance com realizações e incompletudes que sejam. Sempre fica uma dúvida no ar mesmo, com o que queremos dizer ou soa no diferencial do implícito. Você sempre volta ao local de seu livro de existir. Você é o seu próprio capital de peso. Você é em si mesmo a própria impressão digital, a melhor e a pior prova testemunhal presencial contra e a favor do que você se escrever existindo. Já pensou que risco?. Capriche na narrativa-documento. O leitor-vida-livro sempre vence no final. Na casa do pai já muitas coleções. Escolha o seu cantinho, o seu estilo, a sua ilha-edição. Uma visão ético-plural comunitária ajuda muito nessas horas. Sarar o mundo. Sentir a dor do outro. Corações e mentes enlivrados, já pensou? A sua cara e a sua coragem colorida. Vidas capítulos. Acertos de contas na hora de passar-se a limpo.
Refinamentos. Perdendo lastros. Ser feliz é a melhor resposta, a melhor vingança, a melhor solução. EscreViver, evoluir, correr atrás dos sonhos com as mãos limpas e uma lupa magna procurando erros atrás das ilusões perdidas, como se tudo fosse só uma ilha da fantasia em que você de si mesmo e para todos que o rodeiam escreve o roteiro...
Silêncio, gravando!
...Seja feliz enquanto escreve nas luzes da ribalta. Seja você seu próprio acervo. Eu fui muito feliz. Eu tinha um pai que contava historias de Itararé e do mundo pra mim. Quer maior riqueza do que isso? Vivendo e aprendendo a viver. Lendo e aprendendo a ser. Cada um de si próprio o capítulo que precede o clímax. Será o impossível? Muitos são chamados e poucos escrevem certos por linhas tortas. Há um céu. Na dúvida, largue tudo e vá ler um livro. Está estressado? Leia um livro de poemas. Está azedo? Leia um romance com capricho e conteúdo denso. Fique encucado, pense e reflita. Pode ser que ainda esteja em tempo, e você desperte a chance de pegar a chave da imaginação e então poder registrar-se numa ala da Biblioteca do Céu, estar como um verbete na enciclopédia artística de Deus, o seu nome-vida-livro nos pilares sagraciais de todas as sagas. O seu nome arrolado lá, no historial perene do livro da vida, pois o que você se escreve na terra, Deus escreve no Céu. No Céu de todas as vivências-históricas, O Paraíso dos LIVROS!.
Silas Correa Leite
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