É por meio dos barulhos, da textura, dos cheiros e sabores que eles percebem e descobrem o mundo. A imaginação preenche os espaços que a imagem criada pelas crianças com deficiência tem de todas as coisas. Justamente por isso é que esses sentidos precisam ser explorados e a criatividade estimulada sempre que possível.
Elemento essencial nesse processo é a história. Os livros exercem um papel fundamental no desenvolvimento das crianças cegas ou com baixa visão desde o nascimento. Ao contrário do que se pensa, a leitura é essencial para quem não enxerga e proporciona uma experiência até mais rica, se o leitor fizer uso de recursos adequados.
Pensando nisso, a escritora de livros infantis Alessandra Roscoe passou a promover oficinas para capacitar pais e professores a mediar leituras sensoriais para bebês e crianças cegas.
Munida de um livro gigante, tátil, com personagens que saem das páginas, vários instrumentos sonoros e o contato afetivo, a contadora conduz o público especial a uma viagem de sentidos. A cada folha virada, um cenário fascinante de sons, cores e formatos que encanta crianças e adultos, que acompanham a leitura com os olhos vendados.
Para a dona de casa Weslane Gonçalves Ulhôa, de 22 anos, a sensação de ter os olhos cobertos a aproximou da realidade da filha, Maria Luíza, de 1 ano e 5 meses: “Eu fiquei incomodada, mas pude perceber o quanto é difícil pra ela. Ouvindo a história e quando pude tocar nos objetos senti que facilitou a imaginação”.
Ela ficou alegre de ver que a filha reagiu positivamente à leitura. A pequena, que nasceu prematura de 25 semanas, tem hidrocefalia e paralisia cerebral, o que ocasiona muita dificuldade para mover o lado direito do corpo. Por isso mesmo, a mãe se sentou à esquerda de Alessandra e a cada som dos instrumentos musicais, como chocalhos e sinetes, Maria Luíza se movia procurando seguir o estímulo.
“A ideia é poder estimular a participação de cada um. Cada criança percebe de um jeito as texturas, os sons e, com essa leitura em conjunto, eles podem partilhar o que sentem entre si e entendem que cada um vê do seu jeito”, explica a escritora.
Para a leitura sensorial recomenda:
1) leia antes e escolha um livro que permita acrescentar novos elementos;2) use a voz e o toque como instrumentos afetivo;3) use recursos que possam explorar sentidos remanescentes. Isso serve para outros tipos de deficiência;4) utilize elementos que permitam o reconhecimento com aspectos do cotidiano da criança, como uma cantiga, um alimento, um cheiro;5) permita que a criança interaja com a leitura, pegando, tocando, participando, sendo sujeito ativo da história.O projeto que conta com o apoio do Fundo de Apoio à Cultura, do governo federal, também promove leitura com idosos, bebês e crianças sem deficiência. Saiba mais aqui.
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