quinta-feira, dezembro 5

O que fica por ler

Incluo-me num grupo de pessoas (penso que bastante alargado) que vai deixando para a reforma alguns livros que pedem tempo, disponibilidade mental, atenção redobrada, leitura sem interrupções. No meu caso, há, entre outras, uma obra magna que não li na juventude e que, sei lá porquê, resolvi eleger para a idade madura. Falo de O Homem sem Qualidades, de Musil, que vergonhosamente continua à minha espera na estante. Tenho, mesmo assim, a consciência pesada desde que li na revista Máxima há vários anos uma crónica do escritor António Alçada Baptista, na qual ele confessava ter guardado muitas obras longas e densas para quando fosse mais velho e, tendo chegado a essa idade, sentia tristemente não ter já as suas faculdades a 100% nem a paciência e a dedicação necessárias à leitura dessas obras de maior densidade. Pois não é que eu mesma já vou sentindo o mesmo?, que me disperso com muito mais facilidade do que antes e que frequentemente dou por mim a contar quantas páginas ainda me faltam para chegar ao fim, fugindo-me a paciência para livros que, mais cedo na vida, teria lido decerto com outro entusiasmo? Pois é, o cineasta António-Pedro Vasconcelos, com quem eu falava muitas vezes de livros, dizia que o pior da morte era o que deixávamos por ler... Tinha toda a razão, claro, e o pior é que alguns livros já não os leremos por manifesta impossibilidade...

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