terça-feira, janeiro 7

O carrasco

Como sempre, com a primavera chegou o dia dos festivais. O Imperador, depois de comer e beber, com a cara enfeitada de manchas vermelhas, se dirigiu à praça, hoje chamada das Cáscaras, seguido por seus súditos e por um célebre Técnico, que carregava um cofre de madeira, com incrustações de ouro.

— O que há nesta caixa? — perguntou um dos ministros ao Técnico.

— Os presos políticos; ou melhor, os traidores.

— Não morreram todos? — interrogou o ministro, preocupado.

— Todos, mas isso não impede que estejam de algum modo nesta caixinha — sussurrou o Técnico, mostrando, entre os bigodes muito pretos, grandes dentes brancos.

Na praça das Cáscaras, onde habitualmente eram celebradas as festas pátrias, os lenços das pessoas voavam entre as pombas; estas traziam gravadas nas penas, ou num medalhão que levavam pendurado ao pescoço, o rosto pintado do Imperador. No centro da praça histórica, rodeado de palmeiras, havia um suntuoso pedestal sem estátua. As esposas dos ministros e seus filhos estavam sentados nos palcos oficiais. Dos balcões, as meninas arremessavam flores. Para celebrar ainda mais a festa, para alegrar o povo que por tantos anos vivera oprimido, o Imperador tinha ordenado que, naquele dia, soltassem os gritos de todos os traidores que haviam sido torturados. Depois de saudar os chefes, piscando um olho e mastigando um palito de dente, o Imperador entrou na casa Amarela, que tinha uma janela alta, como as janelas das casas dos elefantes do Jardim Zoológico. A cada hora com um traje diferente, assomou-se a muitas sacadas, antes de se assomar à verdadeira sacada, da qual em geral lançava seus discursos. O Imperador, sob uma aparência severa, era brincalhão. Aquele dia, fez todo mundo rir. Algumas pessoas choraram de tanto rir. O Imperador falou das línguas dos opositores: “Que não fossem cortadas”, ele disse, “para que o povo escutasse os gritos dos torturados”. As senhoras, que chupavam laranjas, as guardaram em suas bolsas para ouvi-lo melhor; alguns homens urinaram involuntariamente sobre os bancos onde havia pavões, galinhas e marmeladas; algumas crianças, sem que as mães percebessem, treparam nas palmeiras. O Imperador desceu para a praça. Subiu no pedestal. O eminente Técnico pôs os óculos e o seguiu: subiu os seis ou sete degraus que ficavam ao pé do pedestal, sentou-se em uma cadeira e começou a abrir o cofre. Neste instante o silêncio aumentou, como costuma aumentar ao pé de uma cadeia de montanhas ao anoitecer. Todas as pessoas, até os homens muito altos, se puseram na ponta dos pés para escutar o que ninguém tinha escutado: os gritos dos traidores que tinham sido mortos enquanto eram torturados. O Técnico levantou a tampa da caixa e moveu o dial, procurando a melhor sintonização: ouviu-se, como que por encanto, o primeiro grito. A voz modulava suas queixas mais graves alternadamente; em seguida surgiram outras vozes mais turvas, porém infinitamente mais poderosas, algumas de mulheres, outras de crianças. Os aplausos, os insultos e os silvos por momentos abafavam os gritos. Mas através desse mar de vozes inarticuladas surgiu uma voz diferente, e no entanto conhecida. O Imperador, que até esse momento estava sorrindo, estremeceu. O Técnico moveu o dial com resguardo: como um pianista que toca um acorde importante ao piano, ele abaixou a cabeça. A gente toda, simultaneamente, reconheceu o grito do Imperador. Como puderam reconhecê-lo? Subia e baixava, rangia, afundava-se, para voltar a subir. O Imperador, assombrado, escutou seu próprio grito: não era um grito furioso ou emocionado, enternecido ou travesso, que ele costumava dar em seus arroubos; era um grito agudo e áspero, que parecia vir de uma usina, de uma locomotiva ou de um porco sendo estrangulado. De repente algo, um instrumento invisível, o castigou. Depois de cada golpe, seu corpo se contraía, anunciando com outro grito o próximo golpe que ia receber. O Técnico, ensimesmado, não pensou que talvez suspendendo a transmissão poderia salvar o Imperador. E não acho, como acham outras pessoas, que o Técnico fosse um inimigo declarado do Imperador e que tinha tramado tudo isso para acabar com ele.

O Imperador caiu morto, com os braços e as pernas pendendo do pedestal, sem o decoro que teria desejado ter diante de seus homens. Ninguém o perdoou por ter se deixado torturar por carrascos invisíveis. As pessoas religiosas disseram que tais carrascos invisíveis eram um só: o remorso.

— Remorso de quê? — perguntaram os adversários.

— De não ter cortado a língua daqueles réus — responderam as pessoas religiosas, tristemente.
Silvina Ocampo, "A fúria"

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