sexta-feira, janeiro 24

Vários tons de fracasso

Tudo que não seja escrever me irrita exasperadamente. Tudo que não seja esta busca, esta esperança renovada, este constante flerte com o fracasso é uma violência contra mim.

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É doce confessar o fracasso, quando se fez tudo e tudo que se fez foi inútil. É doce admitir a derrota, permanecer no chão e nem levantar os olhos, para que não nos exijam mais nada. É doce esperar que cessem todos os ruídos e se apaguem todas as luzes, para devagar, bem devagar, nos erguermos, quando já ninguém pode exultar com o sangue de nossos ferimentos nem achar prazeroso o lancinante gosto de nossas lágrimas.

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O suicida é um exibicionista que nunca chega a ouvir aplausos pelo seu desempenho nem se curva diante da plateia, para agradecer.

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Nunca precisei vender um poema para matar minha fome. Essa é possivelmente a principal causa do meu fracasso.

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Sou um fracasso em prosa e verso. Se fizesse uma delação premiada, não ganharia nada além de uma menção honrosa.

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Reconhecer o fracasso é o primeiro, honesto e decisivo passo para você se tornar um fracassado.
Raul Drewnick

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