A campanha de divulgação dos leitores digitais ganha cada vez mais espaço na mídia como um produto de excelência inquestionável. O leitor fica sugestionado, ao menos, para ampliar a propaganda do produto. Alguns mesmo se arriscam a entrar neste novo paraíso tecnológico custe o que custar.
Apesar de contar com séculos de uso, e mesmo abuso, por seguidas gerações que confirmaram-no como um dos maiores objetos já produzidos pelo homem, o tradicional formato em papel passou a receber tratamento de antiguidade para vendas de garagem ou mesmo reciclagem. Não faltam trombetas anunciando seu fim, as mais apocalípticas, ou sua sobrevivência como artigo de segunda. Talvez, muito em breve, para doutrinados estudantes significará artigo usado pelos trogloditas ainda no final do século passado.
Quem convive com o livro há décadas, e sabe bem de suas propriedades até como companheiro de todas as horas, fica impressionado com a massificação na mídia da desqualificação do objeto secular. Nem mais se pergunta por que durou tanto tempo nem serviu tanto. Se tornou, de um momento para outro, um mero objeto da história humana, que por sinal registrou tão bem. O homem agora precisa mais do que nunca do descartável. A permanência é coisa do passado quando se “comia” o livro. Nos novos mundos, ele é deletável.
Quem assim faz pensar é justamente uma reportagem sobre os livros digitais, publicada em um dos grandes jornais brasileiros. No lead e sublead, num total de 95 palavras, o repórter esbanjou qualificações para os digitais: “tecnologias (...) mais sofisticadas”; “informação (...) mais rápida”; “onda da digitalização”; “menor custo e gasto de tempo”. Para o tradicional livro, restaram desqualificações como “velho”, “biblioteca” (no sentido de lugar ocupado) e “estante empoeirada”. A propaganda subliminar está à solta. Salve-se quem quiser.
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