Il n'existe qu'une façon de lire et elle consiste à flaner dans les bibliothèques ou les librairies, à prendre les livres qui vous attirent et ne lire que ceux-là, à les abandonner quand ils vous ennuient, à sauter les passages qui traînent et à ne jamais rien lire parce qu'on s'y sent obligé, ou parce que c'est la mode.Doris Lessing, Carnet d'or
Prefiro ser lido muitas vezes por um só do que uma só vez por muitos.
Paul Váléry, Cahiers
Os livros são a obra-prima que todos nós temos como sendo nossa. Comprámo-la onde queremos para a termos onde desejarmos. Não interessa se quem a produziu tenha os direitos de autor. A consciência de obra-prima passa pelo conhecimento da nossa incapacidade para a produzir. Sabemos que só alguém com talento a soube criar para nós. Pertence-nos desde o momento que a descobrimos, que a adquirimos. É nossa. E como obra-prima é objecto da nossa atenção , do nosso deleite, da nossa constante e infinda devoção. Com ela abrimos horizontes, por ela descobrimos que somos universais: o mundo entra-nos pela porta sem que tenhamos de sair de qualquer lugar. E quando o amor se descobre no artista que a produziu , os laços agregam-se em ritos. Lemos e relemos todas as suas obras. Um lugar é-lhe atribuído junto àqueles que já lá moram: o retábulo dos eleitos.
Catalogamos os nossos livros por autores. Alguém disse que levamos uma vida inteira a ler para descobrir os livros ou os autores que releremos na velhice. E daí que o acto de leitura tem um ritual que se vai construindo . Descobrimos o primeiro livro para ler o segundo , comprar o terceiro e nunca mais deixar de os querer. Vamos lendo por prazer , por necessidade, por estudo , por consulta até que passamos a ler apenas o que nos enleva, o que nos toca. A liberdade de rejeitar torna-se nossa. Lemos o que lemos porque a soma de tanta leitura nos dá o direito de leitor, daquele que escolhe os escritores da sua vida.
23 de Abril, Dia Internacional do Livro. Ano de 2016 ,dia dos 400 anos da morte de Shakespeare e o dia seguinte àquele que regista também a morte do grande Miguel Cervantes. Dois nomes que se eternizarão no retábulo da memória literária dos tempos.
Todos os lemos. Descobrimo-los, talvez, em idades diferentes, por razões diferenciadas ou apenas pelo prazer da leitura. O gosto pelos livros é o motor que acelera a descoberta.
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