O que pode a capa fazer para não deixar o texto morrer no seu segredo? Quem vê a capa de um livro vê mais ou menos que quem vê uma cara? O paralelo é fácil de sugerir, mas se seguirmos a sugestão, atirarmos a moeda ao poço para lhe sentirmos o fundo, cedo percebemos que é uma comparação que não mais acaba.
Quem tem a tarefa de as criar reconhece que o problema começa pelo cenário onde o livro terá a possibilidade de reclamar algum protagonismo, e esse é o das livrarias. Hoje, o perigo de os livros se acotovelarem, competindo com as suas dimensões para não passarem despercebidos, é real. Os designers que o SOL consultou estão genericamente de acordo no diagnóstico de que existe hoje um grande ruído visual nas livrarias, e se a maioria das editoras aposta em cores garridas, elementos gráficos que tanto quanto possível esperneiem na capa dos livros, a solução para alguns passou por meterem-se em contramão, e optarem por “um design bem simples, sem grandes elementos, mas que permita ao leitor fazer uma ligação imediata (ou quase) do título com a história, com o autor e com a sua imaginação”, como nos diz Rui Cartaxo Rodrigues, responsável da Quetzal.
O marketing impôs-se de tal modo, que consoante os palcos onde os livros são chamados a encenar repetidamente o som e a fúria estes podem até vestir uma sobrecapa mais chamativa. Alguns dos títulos que se apresentem com uma capa mais sóbria nas livrarias, quando chegam às grandes superfícies, aos hipermercados, vestem um look mais drag, ganham letras em relevo, muitas vezes em tons de prata ou dourados.
Manuel Rosa diz que o designer tem sido cada vez mais a vítima da opinião dos vendedores, das direções comerciais e dos responsáveis na área da distribuição. O editor esteve muitos anos à frente da Assírio & Alvim, e foi responsável por uma das linhas mais poderosamente discretas no panorama editorial português – uma imagem à qual esta marca, que desde 2012 se tornou mais uma das chancelas do grupo Porto Editora, tem procurado manter-se fiel. Essa mesma sensibilidade tem agora uma nova expressão no catálogo da atual aventura editorial de Rosa, a Sistema Solar.
O editor revela “falta de paciência” na hora de levar em linha de conta as opiniões das distribuidoras, recordando que sempre que os livros não correspondiam aos números de vendas esperados, o problema eram as capas, “ou porque eram pretas ou depois porque eram brancas”. Manuel Rosa, que antes de ser editor já era escultor, diz que no que toca às capas de livros houve sempre ideias feitas, as mesmas ideias que hoje triunfaram e levaram à cena nos escaparates das livrarias uma “gritaria ensurdecedora” em que as capas dos livros se “abafam umas às outras”. Para Rosa o que sempre marcou a sua forma de conceber as capas dos livros é uma lógica “low profile”, assegurando-se de que a capa do livro está ao serviço do próprio conteúdo e do autor.
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