Faça você o teste que bolei há 40 anos e recomendo para avaliar a qualidade de qualquer livro. Em primeiro lugar, abra numa página qualquer e taque o dedo numa linha. Batata. Dá um tremendo plá do livro: ou besteira ou legível. New Criticism é isso aí.
Em segundo lugar, e o mais importante, abra de novo, bem no meio, e dê uma boa cafungada nele. Livro sem cheiro não é livro. Mesmo novo em folha tem que lembrar, nem que seja vagamente, uma mulher que se amou muito. Se for livro velho, comprado no sebo, tem que cheirar a pó-de-arroz, patchouli, suores antigos e à mesma mulher que se amou muito, agora num apartamento azul com o quarto iluminado só pela luz difusa de um abajur lilás.
O objetivo de qualquer livro, mesmo aquele estalando de novo, pouco importa suas qualidades literárias, é esse: ficar, lá na estante, fazendo companhia à gente, ao lado de seus velhos amigos, outros livros, com eles conversando e lembrando, em silêncio, amores passados. Todos prontos para conosco relembrarmos tudo, comovidos como o quê.
Experimente fazer isso com um livro eletrônico.
Ivan Lessa, Do livro eletrônico
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