Francisco Javier Martin Abril (1908-1997)
O mês de abril nos traz, junto à folha nova e o verde terno das colinas, a emoção do livro. Nos jornais e revistas, começam a aparecer artigos de elogio ao livro, e mais do que nunca experimentamos o gozo de nos aproximarmos de asseadas bancadas para examinar volumes e volumes até encontrar aquele que desejávamos ou pressentíamos.
Tem uma emoção singular entrar em casa comum livro novo. Primeiro o acariciamos com os olhos ao mesmo tempo que sentimos seu peso. Depois, lentamente, com moroso deleite que pomos nas coisas do espírito, iremos rompendo suas folhas sem guilhotinar para perceber o aroma do papel e da tinta. Cada livro, como cada flor,como cada paisagem, como cada lugar, tem seu perfume. Recorreremos com os olhos o índice, a nota de rodapé, a data da edição, e folhearemos aqui e ali com uma frívola antecipação da leitura tranquila.
No final, nos acomodaremos na poltrona do lugar predileto, não sem antes haver ajustado a luz, nem excessiva nem minguada, que requer o nobre prazer da leitura. A persiana tem aqui um papel essencial. Entrou um livro novo em nossa casa. Sairá logo dela, talvez pedido por um amigo a quem não podemos negar um pequeno empréstimo? Não sabem as pessoas o que custa deixar um livro. É um sacrifício doloroso para quem dia a dia teve o cuidado de formar sua biblioteca à custa de muitas renúncias. Quanto é fácil pedir um livro. E como é difícil recuperá-lo. O amigo dirá muito convencido: “Devolverei logo. Vou ler rapidinho”. Pouco amor ao livro demonstram tais frases. É um erro crer que os livros são apenas para serem lidos. Não. São também para ter-se, sentir sua companhia silenciosa, quem em momento determinado pode converter-se em uma conversa íntima.
Quando falta um livro de nossa biblioteca, sentimos que há uma vazio em nossa alma,um vazio que é ausência, e portanto dolorosa. Passa o tempo e o livro não volta a seu lugar. Encontramos muitas vezes com aquele amigo, que é de boa fé e constantemente nos faz promessa de devolução. Mas tudo fica na fronteira das palavras. O livro continua ausente.
Olhamos o pequeno exército de nossa biblioteca e vemos alguns claros em suas filas. E respeitamos os lugares dos livros ausentes da mesma maneira que respeitamos em nossa mesa o lugar da pessoa que está viajando.Viagens sem bilhete de volta são as dos livros. Por isso, quando nos pedem um livro, o melhor que podemos fazer é comprar outro exemplar para dar de presente. Por muito pouco podemos comprar a tranqüilidade de manter sempre por perto todos os livros que pouco a poucos fomos adquirindo. E iludir assim a nostalgia da sua ausência. Porque o livro ausente, como a pessoa ausente, só desperta em nós um amor inefável.
Tem uma emoção singular entrar em casa comum livro novo. Primeiro o acariciamos com os olhos ao mesmo tempo que sentimos seu peso. Depois, lentamente, com moroso deleite que pomos nas coisas do espírito, iremos rompendo suas folhas sem guilhotinar para perceber o aroma do papel e da tinta. Cada livro, como cada flor,como cada paisagem, como cada lugar, tem seu perfume. Recorreremos com os olhos o índice, a nota de rodapé, a data da edição, e folhearemos aqui e ali com uma frívola antecipação da leitura tranquila.
No final, nos acomodaremos na poltrona do lugar predileto, não sem antes haver ajustado a luz, nem excessiva nem minguada, que requer o nobre prazer da leitura. A persiana tem aqui um papel essencial. Entrou um livro novo em nossa casa. Sairá logo dela, talvez pedido por um amigo a quem não podemos negar um pequeno empréstimo? Não sabem as pessoas o que custa deixar um livro. É um sacrifício doloroso para quem dia a dia teve o cuidado de formar sua biblioteca à custa de muitas renúncias. Quanto é fácil pedir um livro. E como é difícil recuperá-lo. O amigo dirá muito convencido: “Devolverei logo. Vou ler rapidinho”. Pouco amor ao livro demonstram tais frases. É um erro crer que os livros são apenas para serem lidos. Não. São também para ter-se, sentir sua companhia silenciosa, quem em momento determinado pode converter-se em uma conversa íntima.
Quando falta um livro de nossa biblioteca, sentimos que há uma vazio em nossa alma,um vazio que é ausência, e portanto dolorosa. Passa o tempo e o livro não volta a seu lugar. Encontramos muitas vezes com aquele amigo, que é de boa fé e constantemente nos faz promessa de devolução. Mas tudo fica na fronteira das palavras. O livro continua ausente.
Olhamos o pequeno exército de nossa biblioteca e vemos alguns claros em suas filas. E respeitamos os lugares dos livros ausentes da mesma maneira que respeitamos em nossa mesa o lugar da pessoa que está viajando.Viagens sem bilhete de volta são as dos livros. Por isso, quando nos pedem um livro, o melhor que podemos fazer é comprar outro exemplar para dar de presente. Por muito pouco podemos comprar a tranqüilidade de manter sempre por perto todos os livros que pouco a poucos fomos adquirindo. E iludir assim a nostalgia da sua ausência. Porque o livro ausente, como a pessoa ausente, só desperta em nós um amor inefável.
Tradução do blog - El jardín entrevisto (ensaios, Madri, 1953 – Editora Nacional)
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