quarta-feira, abril 13
O sumiço do clássico
A noite chega cedo com as chuvas de verão. A parte velha da cidade fica debaixo de água; regatos correm pelo meio-fio. A livraria recebe freguês costumeiro. De boina e capa de chuva, saúda da porta o livreiro lá no fundo. Olha aqui, consulta ali. O leitor passeia pelas estantes. Os olhos cobiçam todos os livros. Quem nunca desejou todos os livros do mundo não é leitor. Gente de casa e amante de livros é perigo na certa para o livreiro. Olho mais atento para eles. Conhecem as obras, sabem o lugar de cada uma. De memória fotográfica, reconhecem o que querem pela lombada mesmo que as letras já estejam quase apagadas. Sabem direitinho que livro novo entrou na prateleira. Enfim, não escapa nada ao olhar que anos entre estantes desenvolveram. Com a chuva que se foi, ao fechar, também o livreiro viu que se foi uma edição ilustrada de um clássico. Coube no bolso da capa, onde viajou abrigada da chuva para outra estante. E lá ficou anos limpa, lida e relida. Mãos melhores e leitor mais fiel não poderia encontrar.
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