n Festa no Pica-Pau Amarelo
Hoje é dia de festa com muita guloseima preparada por dona Benta e tia Nastácia, assessoradas por Narizinho. O sítio do Pica-Pau amarelo está em festa com muita bandeirinha no terreiro. Pedrinho comanda o foguetório junto com o moleque Saci. Em meio a montes de livros, o visconde de Sabugosa ainda está atrapalhado com o discurso de saudação ao "emérito escritor", que não muda de jeito algum. Na porteira, gente chegando de montão recebida pelo marquês de Rabicó. E no comando geral de toda festa, ninguém melhor do que a mais atrevida, petulante e espirituosa boneca de pano falante de todo o mundo: Emília. Afinal em seu coraçãozinho de pano bate um amor imenso - "não exageremos, porque ainda tenho umas questõezinhas com ele" - por José Bento Monteiro Lobato (Taubaté, 1882-São Paulo, 1948), o grande aniversariante do dia no Brasil. E como não podia deixar de ser, hoje é Dia Nacional do Livro Infantil.
"Marmelada de banana,
Bananada de goiaba,
Goiabada de marmelo,
Sítio do Pica-Pau Amarelo..."
n O livreiro
Monteiro Lobato
"Entre os mais humildes comércios do mundo está o do livreiro. Embora sua mercadoria seja a base da civilização, pois é nela que se fixa a experiência humana, o livro não interessa ao nosso estômago nem à nossa vaidade. Não é, portanto, compulsoriamente adquirido. O pão diz ao homem: - "Ou me compras ou morres de fome"; O batom diz à mulher: - "Ou me compras ou te acharão feia". E ambos são ouvidos. Mas se o livro alega que sem ele a ignorância se perpetua, os ignorantes dão de ombros, porque é próprio da ignorância sentir-se feliz em si mesma, como o porco com a lama. E, pois, o livreiro vende o artigo mais difícil de vender-se.
Qualquer outro lhe daria maiores lucros; ele o sabe e heroicamente permanece livreiro. E é graças a esta generosa abnegação que a árvore da cultura vai aos poucos aprofundando suas raízes e dilatando sua fronde. Suprima-se o livreiro e estará morto o livro - e com a morte do livro retrocederemos à Idade da Pedra, transfeitos em tapuias comedores de bichos de pau podre. A civilização vê no livreiro o abnegado zelador da lâmpada em que arde, perpetua, a trêmula chamazinha da cultura"
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