A outra é a flor do Baobá (Adansonia Digitata). A árvore veio da África, onde é considerada sagrada. Segundo consta, vivem 6 mil anos. Embora a mais antiga, conhecida como Árvore de Grootboom, tenha chegado apenas a 1.300 (África do Sul). Cabendo hoje, essa primazia, ao Baobá de Sunland (também na África do Sul), pouco mais novo. Há muitas lendas, sobre ela. Como a de que dá só uma flor, a cada 50 anos. Minhas preferidas são a de que mortos, enterrados próximos, mantêm vivos seus espíritos enquanto ela viver. Ou a de que seus galhos são habitados por espíritos.
Em Gravatá, plantamos 13. Quase todas doadas pelo queridíssimo casal Ieda e Ernani (que Deus o tenha, comunista velho) Lemos. Como demoram 200 anos para ficar adultas, já combinei com os filhos que, daqui a dois séculos, todos vamos dar as mãos – com seus filhos, netos e sucessores – para grande abraço familiar, em volta de uma delas. Têm, hoje, cerca de 2 metros de diâmetro. Mas não param de engordar.
As flores do Baobá têm cheiro de carniça, mas quem se preocupa com isso? “Seu perfume exala o medo”, como nas flores de Baudelaire. Uma delas abriu esta semana. E, como duram só 24 horas, fomos testemunhar. Dia seguinte, já estava morta. A vida é mesmo “perto e breve”, como uma vez me disse Millor. Veio, em seu lugar, o fruto. O Mucua. Uma cápsula seca usada como alimento. Da França, trouxe uma espécie diferente – nomeada, pelos vendedores, comoBaobá de Apartamento; que cresce em jarros e vai até, no máximo, dois metros. Quem passar na rua onde moro poderá vê-la, do meu lado, no escritório em que todas as noites escrevo. Como se fôssemos cúmplices. E, de alguma forma, somos. Na crença, ou ilusão, da permanência.
Valendo ainda lembrar O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry. Em que está, parecendo certos personagens da vida pública brasileira, que “Para reis, o mundo é muito simples. Todos os homens são súditos”. No livro, o narrador descreve acidente que fez seu avião cair no Deserto do Saara. E, lá, encontrou menino com cabelos de ouro e um cachecol amarelo, habitante de planeta (ou asteroide) onde criava baobás. A árvore do Pequeno Príncipe é um Baobá!!!
O que poucos sabem é que, provavelmente, tudo começou quando seu autor, Saint-Exupéry, entre 1929 e 1930, trabalhava na Companie Generale Aéropostale. Fazendo, como piloto de avião, rota que incluía Natal e Recife. Era conhecido aqui, pela dificuldade na pronúncia do nome, como Zé Perrí. E viu centenário Baobá na Rua São José (Natal), em terreno depois adquirido por Diógenes da Cunha Lima. Só para garantir que não fosse um dia derrubado. E também viu, encantado, o enorme exemplar que fica em frente ao nosso Palácio do Campo das Princesas. O Baobá do Pequeno Príncipe, quem sabe?, talvez seja o do Recife.
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