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Que maçantes são as epopeias: homens se matando por helenas e doroteias.
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Se poesia dá camisa a alguém, certamente não é aos poetas.
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Os fantasmas suíços não chegam um minuto antes ou depois da meia-noite.
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Insuportáveis são os fantasmas de piratas. Chegam de madrugada, tomam todo o nosso rum e, quando se vão, esquecem na sala o papagaio.
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Fantasmas educados deixam bilhetes na geladeira: desculpem, tomei todo o leite.
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O mais insuportável dos fantasmas que abriguei foi um que garantia ter sido tenor em Milão.
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E houve aquele fantasma, Xavier ou Javert, um nome assim, que certas noites me acordava e me submetia a interrogatório.
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Um fantasma que me fez rir muito foi um que uma noite, tendo bebido toda minha cerveja, amanheceu dormindo na casa do meu cachorro.
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O melhor da psicanálise é apontar para os nossos atos um culpado que nunca somos nós.
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Não sou um poeta persistente. Sou um poeta reincidente.
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Sei bem quanto não valho. Se um dia for plagiar alguém, não será a mim que plagiarei.
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Hipotenusa é uma palavra que faria mais sucesso se saísse dos livros de geometria e frequentasse novelas de terror.
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Imaginei que com a maturidade chegasse o reconhecimento. Quando percebi, já estava velho demais para ser levado a sério.
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Sou místico, de “a” a “u”. Se me mandassem para aquele lugar, eu iria para Katmandu.
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Corre aqui, vem vê-las. Foi para ti que chamei essas estrelas.
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Minha tristeza é daquelas desconfiadas. Se dou uma assobiadinha, fica inquieta. E, se cantarolo, começa a me acusar de traição.
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Uma das desculpas mais habituais dos que insistem em continuar produzindo sonetos é a de que estão cumprindo uma missão.
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Continuemos escrevendo. Se nós não, quem acreditará em nossa vocação?
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Deus sabe como tenho trabalhado para, quando meu dia chegar, ser um morto conceituado. Se for para ser deus, não aceito nenhum menor que Júpiter ou Zeus.
Raul Drewnick
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