Eu havia terminado um conto sombrio como os breves e tristes dias de inverno, que então pesava sobre meu país. Deixei cair a pena e comecei a passear pela casa.
Era noite. Lá fora prenunciava-se uma tormenta. A neve caía em flocos espessos. A rua estava deserta, e, encostando-me à vidraça, eu via apenas uma lanterna pendurada a uma porta, do outro lado da rua, e agitada pelo vento. Aquele espetáculo era tão profundamente desolador que, afastando-me da janela, apaguei a lâmpada e fui deitar-me.
Então, na escuridão que invadia todo o meu quarto, os sons da noite se fizeram mais nítidos. O relógio contava os segundos, mas por vezes o zumbir da neve, lá fora, afogava seu rumor. Em vão. O tiquetaque apressado, incansável, voltava a dominar os murmúrios do inverno; e aquele tique-taque seco, monótono e teimoso, em sua marcha para a eternidade, impunha-se ao meu cérebro, ressoava dentro dele.
Não podendo dormir, pensava nas páginas que acabara de escrever. Era uma narração muito simples: a história de dois velhos tímidos e meigos, dois abandonados pelo destino. Ele, cego; ela, sua esposa, humilde e fiel.
Uma madrugada, na véspera de Natal, saíram de seu sórdido abrigo e foram mendigar pelo casario da vizinhança, para ver se obtinham algo com que comprar um pouco de alegria e conforto para o dia mais santo de todos.
Movidos por essa esperança, percorreram os arredores, crentes de que poderiam voltar, à hora da missa do galo, com os bolsos cheios de dádivas feitas em nome do Senhor. Mas foram tão escassas as esmolas que nem sequer compensaram a caminhada, e já era muito tarde quando o triste casal compreendeu que tinha de voltar ao seu casebre sem fogo para se aquecer e apenas com o indispensável para não passar fome.
Retomaram, pois, o caminho de seu abrigo, ela adiante, ele com a mão apoiada à sua cintura. Vinham lentamente, na escuridão da noite.
As nuvens encapotavam o céu; o vento dançava com a neve, e o caminho parecia cada vez mais longo. É que a velha se deixava iludir pela alvura sempre igual do solo e, em vez de tomar o atalho correto, seguira ao longo do vale.
O velho irritava-se.
― Ainda não chegamos? Estou vendo que não chegaremos antes da meia-noite.
Ela respondia que estavam perto. Sabia que tinham se perdido e queria ocultar-lhe o fato. Mas tanto andou em vão que teve de confessar com um tom melancólico na voz:
― Em nome de Cristo, perdoe-me. Eu me enganei, tomei outro caminho... E o pior é que agora não sei onde estamos. Vamos parar um pouco para repousar.
― Mas vamos ficar gelados...
― Que importa!... Nossa vida não é tão doce que dê pena de perdê-la. Preciso descansar um pouco.
O velho cedeu, suspirando.
Sentaram-se na neve, encostados um contra o outro, e ficaram imóveis, como duas trouxas de farrapos. A neve, que caía incansável, começou a cobri-los, e a mulher, menos agasalhada que o marido, não tardou a se sentir tomada por um sono irresistível.
Sentindo que ela se apoiava mais fortemente sobre seus ombros, o homem assustou-se:
― Minha velha, não durma: olhe que vai ficar gelada.
Porém, ela já adormecera, e balbuciava coisas incompreensíveis, sem despertar.
O velho voltou-se e tentou erguê-la, repetindo seus alarmados conselhos. Como não o conseguisse, ergueu os braços e bradou por socorro. Ninguém o ouviu, mas os sinos, ao longe, começaram a repicar.
― Minha velha ― insistiu o cego, sacudindo os ombros de sua pobre companheira -, os sinos já estão tocando para a missa. Levante-se... Olhe que vamos chegar tarde...
Mas a mulher mantinha-se imóvel.
Então, resignado, sentindo-se também invadido pela sonolência mortal, o cego sentou-se de novo ao lado de "sua velha", e uma última súplica passou por seus lábios:
― Senhor! Acolhe a alma de teus servos. Ambos somos pecadores, mas confiamos em tua misericórdia.
Recordando essa história, sorri, contente comigo mesmo, certo de que ela enterneceria meus leitores. E, embalado pelo tique-taque do relógio, comecei a cochilar.
E então, sem saber ao certo se estava dormindo ou acordado, vi a claridade vaga da janela aumentar, tomar um tom azul e fosforescente, ampliar-se, formando um quadro imenso, e aí surgirem pouco a pouco alguns vultos, a princípio confusos, inconsistentes. Mas logo seus contornos foram se acentuando e desenhando formas familiares aos meus olhos.
Eram crianças, mulheres, velhos... todos miseráveis e tristes.
― De onde vêm essas sombras e que representam? ― perguntei a mim mesmo, tentando em vão emergir dos abismos do sono.
Uma voz perguntou por sua vez:
― Não nos reconhece?
Procurei distinguir no meio daquela multidão lamentável. Vi então um grupo que, com passo vacilante, tomava a dianteira de todas as sombras. Era um velho cego, apoiado à cintura de uma mulher também já idosa, que me fitava com ar de censura.
― Não nos reconhece? ― repetiu ela com voz severa. ― Nós somos os heróis dos contos que você passa a vida escrevendo; somos os tristes e desgraçados filhos da sua imaginação... Ali estão os dois meninos que você fez morrer de frio, diante das janelas de uma casa onde fulgia, magnífica e opulenta, uma árvore de Natal. Aquela mulher ali é a desgraçada que você fez morrer sob as rodas de um trem, quando corria pela rua, ansiosa por levar aos filhos um presente de Natal. Aquele ancião...
Eu ouvia, contemplando, pálido de horror, as sombras lúgubres e silenciosas que desfilavam sem cessar ante meus olhos.
Por que vinham todas elas me alucinar nessa noite? Que queriam de mim? Que pretendiam?
― Responda você mesmo a essas perguntas ― bradou a velha, lendo o meu pensamento. ― Por que escreveu essas coisas? Para que vive inventando essas desgraças, essas tristezas? Que pretende com isso? Desfazer o que resta de fé e esperança no coração dos homens? Tirar-lhes a confiança na redenção, mostrando-lhes somente o mal? Aniquilar o desejo de viver, apresentando a existência como um suplício sem fim e sem remédio?
Eu estava consternado... Seria mesmo assim tão culpado? O que faço não é o que fazem todos os escritores? Especialmente nos contos de Natal, procuramos todos imaginar cenas bem tristes, bem tocantes, para despertar em nossos leitores sentimentos compassivos, abrir os corações à piedade...
― É mentira! ― bradou a velha. ― Mentira ingênua e ridícula. Então pretende, com dores e misérias, despertar bons sentimentos nos corações acostumados a desgraças reais? Idiota! Pensa enternecer, com suas pobres fantasias, os homens que não se comovem ante a realidade miserável de todos os dias?...
O resto do sonho foi uma confusão que não consigo recompor; mas pela manhã, quando despertei, meu primeiro movimento foi correr à mesa onde deixara as tiras de papel escritas na véspera.
Rasguei-as sem tornar a lê-las; atirei os pedaços pela janela, e eles esvoaçaram no ar claro como mariposas.
Máximo Gorki, "Os Melhores Contos Russos"
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