quarta-feira, janeiro 13

A caridade do jardim

Ele está ai, quietinho. Mas de forma quase altruísta, cuida de você e de todos os que querem desfrutar de suas energias.

Victor Gabriel Gilbert
Benevolentemente perdoa nossa indiferença e o pouco tempo que lhe dispensamos para alimentá-lo cuidando de sua saúde. Ele chega a ser indulgente, desculpando a economia que fazemos com cuidados e coisas materiais como água, adubos e tantas outras necessidades importantes para que possa dar tudo o que poderia dar e que, mesmo assim, com um esforço enorme, nos presenteia com brilhos orvalhados bem cedinho, de manhã. Às vezes, enfrentando frio, chuvas e vento consegue que as eritrinas soltem flores vermelhas para aquecer as almas dos que padecem um estranho recolhimento dentro de si.

Parece meio piegas tudo isto. Sei…a branda bondade é sempre confundida com excessos de sentimentalismo. Mas esse jardim caridoso foi inventado muito antes de que os homens tachassem de ridículo qualquer sinal de complacência desinteressada. O jardim caridoso a que me refiro é o mesmo do Velho Testamento, tido como paradisíaco. Foi imaginado por Maomé com fontes inesgotáveis e pelos egípcios que, utopicamente, imaginavam campos de juncos eternamente verdes. Falo do jardim que os gregos imaginavam no Campos Elíseos, enquanto construíam o Partenon, salpicados por paisagens contendo todos os verdes e todas as flores.

Mas não se preocupe, você não precisa deixar este mundo para contemplar esses paraísos e, aqui entre nós, nem é tão necessário estar livres de pecados para que a caridade desse jardim lhe alimente com uma luz impalpável, cheia dessa clorofila carregada com perfumes de relva recém cortada. O jardim pratica caridade espontaneamente, por que sim, apenas porque sua essência lhe demanda, secretamente, que faça isto cegamente, pelo puro prazer de se dar . Parece inconcebível para você, mas para mim também foi difícil de entender que alguém tivesse bilhões de compaixões para oferecer de graça, pelo puro prazer de florir eternamente. Mesmo que esqueçamos de regá-lo.

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