Vivian Hansen |
Minha casa era uma casa muito cheia de livros. Nessa ocasião (na infância), nós morávamos em casarões. A casa tinha livros em todos os aposentos, até na cozinha, no banheiro. As paredes eram forradas de livros e meu pai sempre foi um homem muito cioso da minha formação. Então, eu leio desde os seis anos de idade. Eu lia de tudo. Lá em casa, havia todos os tipos de livros. Meu pai era jurista, professor de história e político. Era um homem de interesses muito variados. Então, minha casa era uma biblioteca muito variada. Meu pai tinha um problema. Eu era o filho mais velho e ele achava que eu — sem saber ler aos seis anos — era uma vergonha para a família. Ele não suportava ter um filho analfabeto com seis anos de idade e me levou para aprender. Quando fui aprender a ler, numa escolinha da vizinhança em Aracaju, uma escolinha informal, pobre, cheguei lá e já conhecia mais ou menos as letras. A bolinha e a barriguinha é o B, a escadinha é o H, essas coisas. Acho que aprendi a silabar em um dia, no mesmo dia. Eu tinha curiosidade, não tinha TV, não tinha nada naquela época, só rádio. O primeiro livro que peguei para ler foi por causa das gravuras do Gustave Dore: Dom Quixote, traduzido por Viscondes de Castilho e Azevedo. Até adulto tem dificuldade de ler aquilo. Mas peguei para ler por causa das gravuras. Com seis anos, li o Hamlet, sem entender nada do que estava lendo. Li tudo, tudo, lia os pedaços. A minha formação como leitor não teve uma estrutura. Li muito Monteiro Lobato. Meu pai comprou uma coleção e eu li, eu adorava.
João Ubaldo Ribeiro
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