(até se dispersarem ou desfazerem)
enquanto tudo
passa. O pó acumula-se
e depois de limpo
torna a acumular-se
no cimo das lombadas.
Quando a cidade está suja
(obras, carros, poeiras)
o pó é mais negro e por vezes
espesso. Os livros ficam,
valem mais que tudo,
mas apesar do amor
(amor das coisas mudas que sussurram)
e do cuidado doméstico
fica sempre, em baixo,
do lado oposto à lombada,
uma pequena marca negra
do pó nas páginas.
A marca faz parte dos livros.
Estão marcados.
Nós também.
Pedro Mexia, in "Duplo Império"
(Ilustração: Escova em formato de livro, que permite limpar ao mesmo tempo livros de diferentes alturas criada pelo designer Arik Levy para o Studio ENO)
Nenhum comentário:
Postar um comentário