segunda-feira, julho 23

Amar os livros

Há uma arte de amar os livros, como há uma arte de amar ovidiana, uma arte de amar o amor. Querer bem aos livros é sentimento que se parece muito com o amor dos sexos. Em ambos há sensualidade e egoísmo. Não são raras as pessoas que sentem a necessidade física da leitura. O volume de prosa e verso ocupa na vida de alguns eleitos um lugar tão importante como a mesa, o sono e o amor. Mulheres e livros. Nossas amadas e nossos guias. Fontes de inspiração, focos de prazeres, espelhos de ilusões. Se fosse forçoso escolher entre eles e elas, quantos não vacilariam!!! Muitos, entanto, escolheriam os livros e se consolariam bem facilmente da ausência da ternura feminina. 



O amante quer possuir só para si o objeto do seu amor. O bibliófilo guarda avaramente o seu tesouro de papel impresso. A biblioteca é o serralho em que este sultão conserva cativa as belas edições. Ali ninguém penetra sozinho. Dali não sai nenhuma peça, nem dada nem muito menos emprestada: mulheres e livros podem dar-se ou furtar-se, não se emprestam. Caso não seja possível passar sem bibliotecário, este será um ignorante, um castrado mental, o eunuco, enfim.
Eduardo Frieiro "A Arte de Amar os Livros"

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