Que é que leva um sujeito a batizar um avião assim? Pensar num morcego! Um animal repelente, que rivaliza com o rato. Aliás, é rato na origem etimológica: mus, no acusativo murem. Rato cego, coecum, porque se supõe que o morcego não enxerga. Tem radar, como o avião moderno. Mamífero voador, quiróptero, é um bicho estranhíssimo. Não tem bico, mas tem asas, que são patágios, isto é, membranas. Nelas o povo vê uma espécie de capa sinistra.
Por mal dos pecados, o morcego é notívago. Só sai à noite, para melhor se esconder. Age na treva. Teme a luz do dia. Vive embiocado, fechado em si mesmo. Alimenta-se de frutos e de insetos. Mas pode ser ictiófago (come peixe). E, the last but not the least, é também hematófago. Neste caso, seu prato favorito é o sangue. Ladrão, o morcego na calada da noite se instala no lombo de um boi e lhe chupa o sangue. Há quem jure que a vítima pode ser igualmente um ser humano.
Aqui temos o vampiro. Exemplar da zoologia fantástica, existe também na vida real. Repulsivo, cientificamente conhecido como Desmodus rotundus, suga animais e homens. Pode lhes transmitir a raiva, ou hidrofobia. Na imaginação popular, o vampiro tem preferência pelas mulheres grávidas. E pelas moças virgens. Sobre o vampiro, há vasta literatura, com farta cinematografia. Toda e qualquer conotação é sempre negativa, para não dizer horrenda.
Entre as cem espécies de morcegos brasileiros, nenhum deixa de ser visto como bicho asqueroso. São feíssimos. Metaforicamente, morcego é pior do que rato. Ladrão, sanguessuga, no folclore é associado ao diabo. Passarinho do diabo, seu sócio, é malvisto e perseguido em toda parte. Até entre os indígenas, dito Cupendiepe, o morcego se esconde na caverna e de lá só sai para o mal. Representa o lado vicioso da natureza humana. O podre, anagrama de poder. Em suma, é o símbolo mais eloquente da corrupção.
Otto Lara Resende
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