quinta-feira, maio 1

O cérebro é um moleque

Ser realista não lhe caiu bem. Era menos infeliz outrora, quando dava olhos à pirotecnia do sol e ouvidos à demagogia matinal dos bem-te-vis.

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Desde os quinze anos, o que mais venho fazendo é escrever. Se você me acha escritor, eu lhe agradeço. Se não, eu lhe agradeço se não me disser.

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Há quatro dias não escrevo. Há quatro dias, como se fosse um cão abandonado, uma frase me segue, aflita: “Há de ser um lugar tranquilo.” Não é literatura, mas eu a registro aqui. A vida é assim, direta e pedinchona como um manifesto.

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Às vezes, meu cérebro age como se fosse um moleque endiabrado. Hoje, por exemplo, me sugeriu este exercício como o mais adequado para a minha idade e meu futuro próximo: fechar os olhos, sempre que possível, e mantê-los assim, cada dia com maior determinação.

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É fácil ser sábio quando os caminhos se reduzem a só um e o cansaço economiza cada passo.

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Discípulo de Rimbaud, perdeu a calça de veludo num lupanar e o estilo num joguinho de dados.
Raul Drewnick

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