Me imagino no leme do meu grande veleiro, dando ordens à tripulação:
– Recolher a traquineta!
– Largar a vela bimbão, não podemos perder esse Vizeu.
(O Vizeu é um vento que nasce na costa ocidental da África, faz a volta nas Malvinas e nos ataca a bombordo, cheirando a especiarias, carcaças de baleia e, estranhamente, a uma professora que eu tive, no primário.)
– Quebrar o lume da alcatra e baixar a falcatrua.
– Cuidado com a sanfona de Abelardo!
(A sanfona é um perigoso fenômeno que ocorre na vela parruda em certas condições atmosféricas e que, se não contido a tempo, pode decapitar o piloto. Até hoje não encontraram a cabeça do comodoro Abelardo.)
– Cruzar a spínola! Domar a espátula! Montar a sirigaita! Tudo a macambúzio e dois quartos de trela, senão afundamos e o capitão é o primeiro a pular!
– Cortar o cabo de Eustaquio!
Sempre imaginei que poderia escrever uma coluna de economia usando um jargão falso assim, com pseudônimo. Não sei quanto tempo duraria até eu ser descoberto e desmascarado, mas acho que não seria pouco. Não estou dizendo que quem escreve sobre economia não sabe o que está escrevendo, ou se aproveita da ignorância generalizada para enganar.
Estou dizendo que a análise econômica é uma arte tão imprecisa que, mesmo desconfiando do embuste, a maioria hesitaria antes de denunciá-lo. Quem garantiria que o meu enfoque diferente – minha defesa de um overspread corretivo sobre a base de pagamentos, por exemplo – não era uma novidade que merecia estudo, já que ninguém parece mesmo saber o que é o certo?
Luis Fernando Verissimo
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