Wilson Martins (crítico do Jornal do Brasil)
A infância, com os livros coloridos, e logo a adolescência, é a idade ideal para incutir nas crianças o vício da leitura – vício impunido, como o chamava Valery Larbaud. A imprensa, nas palavras do papa Gregório XVI, é uma arte execranda e detestável, ou se preferirmos a linguagem litúrgica haec detestabilis atque execranda, condenação que a acompanhou desde as origens. O que, aliás, continua até hoje: viciado irrecuperável, Annibal Augusto Gama refere que, “há cerca de sessenta anos, no pátio do Colégio dos Maristas, em Franca, os irmãos mandavam queimar uma boa centena de livros tidos como deletérios, entre eles alguns de Monteiro Lobato”, incinerado simbolicamente através dos tempos. A meiga Cecília Meireles qualificava de “detestáveis” os seus personagens, retomando, talvez sem querer, o vocabulário papal, enquanto os seus livros eram proibidos durante o Estado Novo de 1937: “o procurador Dr. Clóvis Kruel de Morais afirmava que o texto [de Peter Pan] era perigoso e alimentava nos espíritos infantis, 'injustificavelmente', um sentimento errôneo quanto ao governo do país' e 'incutia às crianças brasileiras a nossa inferioridade, desde o ambiente em que são colocadas até os mimos que lhes dão'” (Annibal Augusto Gama. Os diamantes de Ofir. Ribeirão Preto, SP: Funpec, 2008 e Marisa Lajolo/ João Luís Ceccantini, orgs. Monteiro Lobato de livro a livro. São Paulo: Imprensa Oficial, 2008).
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