quarta-feira, fevereiro 4

Livro nosso de todo dia



“O homem morre, o seu corpo volta a ser barro ou pó

- todos retornam à terra; o Livro, porém, fará

que a sua lembrança circule de boca em boca”

Papirus Chester Beatty IV


O livro, entre as criações humanas, reina como a mais digna do homem e é sua companheira do início ao fim da vida. As expressões cotidianas reforçam a presençado livro me nossas vidas. Quantas vezes ouvimos as reclamações sobre os sofrimentosalheios: “A minha vida daria um livro!” Quem também já não disse: “Minha vida é umlivro aberto”. Não só é um fiel guardião do que o homem pensa, esse bem precioso de ser na integridade. Também é um bom ouvinte. Tem até orelhas. Quantas não conversamos com ele? Discutimos com o autor, reclamamos da edição, nos queixamos de ser tão caro. Livro é o único objeto de cabeceira. Seja ele qual for. Companheiro inseparável, é nele que pensamos quando nos perguntam qual levaríamos para uma ilha deserta. E só levamos para essa ilha quem se quer ao lado, quem convive tanto conosco. Nosso nascimento está lá registrado no livro. Quando criança, é nele que vamos ver as figuras, folhear página a página as histórias, que um dia leremos. Depois vamos descobrindo ainda mais esse amigo. Contador de histórias, mestre maior com quem aprendemos lições de vida e para a profissão, companheiro de qualquer hora, até cabe no bolso – livro de bolso. Fidelidade até nos últimos momentos. É dele, o livro dos livros, que nos dão o“descanse em paz”. São inúmeros durante nossa vida: Livro de contas; Livro da Sabedoria; livro das crônicas; Livro de Horas; livro de ponto; livro de tombo; livro de registro; livro comercial. E quantos mais? Aqueles que amealhamos a cada época, por um sentimento, por uma necessidade. Na maioria das vezes, pelo prazer da leitura. Os que nos são presenteados. A nossa vida talvez possa ser contada por nossos livros. O bibliófilo francês Jules Janin definiu o que pode ser o epitáfio do leitor: “Muitos homens não deixaram outraoração fúnebre senão o catálogo de sua biblioteca”. Vai-se a carne, mas fica sua alma espalhada em pedaços, presenteada a amigos ou entregue aos sebistas. Vai recompor outras vidas, descobrir novos companheiros.
(Anotações líricas de velho alfarrabista)

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