quinta-feira, fevereiro 5

Passeando pelas livrarias


“Gosto dos livreiros e das livrarias, e de encontrar na ponta dos dedos que voltam as páginas a preguiça sussurrante das longas pausas sob as galerias do Odeon, entre as prateleiras de alfarrabistas gigantes da Quinta Avenida em Nova Iorque, ou entre as montras de Brentano’s, ornadas de livros luzidios como caixas de conserva Libby’s, perto da Quinta Avenida, ou em Piccadilly, na grande Faber and Faber, de Londres, onde existem as mais belas prateleiras de livros infantis do mundo, ou no Fritze em Estocolmo, cuja vitrina é laqueada como o casco de um iate que estivesse ancorado no Fredsgatan, ou no Mondadori, na Galeria de Milão (Peter Cheyney, em italiano, e Leonardo da Vinci, em inglês, acasalam bem nas prateleiras), ou então essa livraria de Laussanne, já desaparecida, que se encontrava ao lado de Pepiner como um refúgio de alta montanha para livros raros.”
(...) O dinheiro, seguramente, não faz a felicidade, mas ajuda a comprar livros. Eu regresso para casa, dia a dia, com mais alguns livros do que ela pode conter. Mas o amador de livrarias é como alguém que não pode deixar de convidar um hóspede inesperado à refeição improvisada: apertamo-nos um pouco, mas quando há para três, há para quatro. Morta é a casa onde não entram diariamente um livro e um novo visitante, novos amigos.
(... ) Gosto de que os livros partilhem minha vida, me acompanhem, flanem, trabalhem e durmam comigo, se misturem às venturas do dia e aos caprichos do tempo, aceitem encontros comigo em horas “impossíveis”, ronronem com a gata ao pé da minha cama, ou se espreguicem com ela sobre a grama, amassem um pouco suas páginas na rede de verão se percam e se reencontrem”.
(Claude Roy (1915/1997), in “Diário de viagens”, Prelo, 1962)
Foto: Visita de estudantes do 2° Grau à livraria Canto do Livro

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