Meu livro no sebo (Carta a Floriano Lopes)
O autor ofereceu, com sincera dedicatória, o seu livro de trovas ao velho amigo Floriano Lopes. Tempos depois, percorrendo uma casa de livros usados, lá encontrou o volume, com dedicatória e tudo. Comprou-o e, sob a primitiva, pôs esta nova dedicatória: «Ao FIoriano Lopes, com a insistência do Rangel Coelho». E remeteu-lhe o livro, acompanhado da seguinte carta:
O autor ofereceu, com sincera dedicatória, o seu livro de trovas ao velho amigo Floriano Lopes. Tempos depois, percorrendo uma casa de livros usados, lá encontrou o volume, com dedicatória e tudo. Comprou-o e, sob a primitiva, pôs esta nova dedicatória: «Ao FIoriano Lopes, com a insistência do Rangel Coelho». E remeteu-lhe o livro, acompanhado da seguinte carta:
Meu querido Floriano.
Um grande abraço.
Nesta carta apressada, que lhe faço,
venho contar-lhe a história algo bacana,
com que me diverti nesta semana.
Velho frequentador de livrarias,
encontrei numa delas, há três dias,
o meu livro de trovas - jóia rara
que, quando veio a lume, eu lhe ofertara.
venho contar-lhe a história algo bacana,
com que me diverti nesta semana.
Velho frequentador de livrarias,
encontrei numa delas, há três dias,
o meu livro de trovas - jóia rara
que, quando veio a lume, eu lhe ofertara.
Conhecendo você, logo percebo
que se meu livro foi parar no sebo,
a culpa não foi sua. Com certeza,
algum larápio, cheio de esperteza,
o retirou aí de sua estante
e se desapertou, passando-o adiante.
Quís o destino que, de face a face,
na velha livraria eu o encontrasse
em meio de outros livros - coitadinho!
como um canário que perdesse o ninho.
que se meu livro foi parar no sebo,
a culpa não foi sua. Com certeza,
algum larápio, cheio de esperteza,
o retirou aí de sua estante
e se desapertou, passando-o adiante.
Quís o destino que, de face a face,
na velha livraria eu o encontrasse
em meio de outros livros - coitadinho!
como um canário que perdesse o ninho.
Encontrei-o, comprei-o. E, renitente,
ofereço-lho agora, novamente,
certo de que você, mais precavido,
para evitar os furtos de um sabido,
o guardará, visando a melhor sorte,
num cofre de aço ou numa caixa forte,
ou que talvez o ponha no seguro
contra possíveis roubos no futuro.
Conserve-o, caro amigo, sem desdouro,
como se se tratasse de um tesouro,
pois meu livrinho, embora obra bisonha,
ofereço-lho agora, novamente,
certo de que você, mais precavido,
para evitar os furtos de um sabido,
o guardará, visando a melhor sorte,
num cofre de aço ou numa caixa forte,
ou que talvez o ponha no seguro
contra possíveis roubos no futuro.
Conserve-o, caro amigo, sem desdouro,
como se se tratasse de um tesouro,
pois meu livrinho, embora obra bisonha,
guarda os sonhos de um velho que ainda
sonha, de um velho-moço, de um senil-mancebo
que, por ser limpo, tem horror ao sebo.
E aqui fica, depois deste conselho,
seu amigo de sempre
Rangel Coelho
(O texto de Rangel Coelho está em “Meu barro municipal”, publicado pela Arsgráfica
Editora, em 1977. Exemplar autografado faz parte do acervo da livraria. E apesar da carta, outro exemplar voltou para o sebo )
sonha, de um velho-moço, de um senil-mancebo
que, por ser limpo, tem horror ao sebo.
E aqui fica, depois deste conselho,
seu amigo de sempre
Rangel Coelho
(O texto de Rangel Coelho está em “Meu barro municipal”, publicado pela Arsgráfica
Editora, em 1977. Exemplar autografado faz parte do acervo da livraria. E apesar da carta, outro exemplar voltou para o sebo )
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