Peter Franklin |
O medo de falar em público encheu gavetas, arrebatou prateleiras e se tornou tão ameaçador que não havia outro jeito, era eu ou ele. Foi exterminado miseravelmente nos anos em que fui professora e hoje parece nunca ter existido. Veio do pó e ao pó retornou humilhado, sem escolha. O medo de dirigir trouxe uma coleção de problemas e com eles vieram buzinas, xingamentos e micos no trânsito. Depois de anos e hoje dirigindo pelas estradas soube que este medo pegou carona com o anterior e sumiu. O medo de andar de bicicleta é imperativo, aristocrático e faz com que eu me sinta a mais idiota das criaturas por um simples motivo: eu não sei andar de bicicleta! Sei que o leitor pode estar um pouco chocado, então, encerro aqui esta parte, pois este é assunto para outra crônica.
Somos corajosos, enfrentamos tudo, mas tem um medo que nos domina, cerca, beija, abraça, se finge de amigo, some por tempos, um dia volta com tudo e aí não tem mais jeito, é um fim de sentinela: é o medo da morte! Na hora marcada da nossa chegada a este mundo cruel e louco ele vem junto com a placenta e assim permanece enquanto somos gente, enquanto a alma não descola. E para essa praga que corrói por dentro tenho o remédio certo, tomo doses generosas que amenizam as dores e tenho a sorte de, às vezes, poder elaborar a bula. Parece mágica não? É que eu trato o medo da morte com poesia, com a arquitetura das palavras. Não tem mundo que não fique mais bonito, não tem amor que não volte, não tem lágrima que não durma. Coisa mais linda do mundo essa coisa de poesia! Tem um que de ver o invisível, de lucidez na loucura, de pintar quadros com a mente. Nessas horas de harmonia geométrica ler poesia é como estar no inferno e deitar em tapetes de gelo. E hoje eu quisera isso, escrever esta crônica com recheio de versos em prosa.Elyandria Silva
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