Na manhã de sexta, o sol se abriu. Na praia, havia pouca gente. Em Ipanema, no espaço já determinado pelos cronistas sociais como “bem” para a frequência de pessoas elegantes, não se via um só grã-fino. No lugar deles, havia um bando de pessoas diferentes: mocinhas ainda mal arrumadas dentro de seus corpos, gordas já repousadas dentro das banhas, três rapazes e um menino. As mulheres, pudemos contá-las, eram 22. A um canto, perto do paredão, se amontoavam roupas e bananas. Não era preciso nenhuma argúcia para ver que na manhã de sexta-feira, uma família suburbana, esquecendo os compromissos e os aborrecimentos, recebera com toda a simplicidade e exaltação o milagre do sol. A dona da casa, aquela mais sacudida de carnes, mãe de uma meia dúzia daquelas meninas, abriu uma janela, viu a luz cantando nas árvores, e sentiu uma coisa. A coisa era antilógica, doida, mas forte e inelutável como um desejo de amor.
“Hoje vamos todos tomar banho de mar em Ipanema.”
As meninas correram a buscar suas roupas de banho, já sem uso há muitos outros meses, fora de moda há alguns anos, e por isso mesmo eternas e cheias de poesia em seu colorido desbotado.
“Telefona para Juca; fala com ele para trazer o ônibus”. Juca, aquele de calção mescla, tinha um ônibus velho.
Outros telefonemas foram dados, convocando parentes e amigos da vizinhança. O lirismo, decididamente, tinha visitado o subúrbio na manhã de sexta-feira.
Ei-las agora em Ipanema, como um bando de marrecas alegres na água fria. Não sabem comportar-se, não sabem andar, não sabem pentear-se. Sabem apenas viver. Gritam de contentamento, correm umas atrás das outras, espapaçam-se sem poses na areia morna. Nos intervalos, comem bananas e sorriem. Enquanto isso, as sombras dos grã-finos ausentes, desagradadas com o alvoroço, vaiam a vida.
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