quinta-feira, setembro 3

Nos meus sonhos

 Szimonidesz Hajni

Nos meus sonhos, uma senhora deixa a bolsa cair na frente da barraca de frutas. Um menininho abaixa para pegá-la e entregar nas mãos da sua avó. Ganha um carinho no rosto das mãos de fada que ele nunca mais esqueceu. Nos meus sonhos, existem duas amigas de cores, curvas e bocas diferentes, um mar de areia em volta e uma vida em mar à frente, uma delas encosta a cabeça no ombro da outra, depois de uma crise de riso que a fez chorar. Nos meus sonhos, o pai faz a trança da filha, sente a falta da mãe dela, e, para amenizar, finaliza de ajeitar o cabelinho da sua menina, beija a testa dela, e pega a sua mão para irem juntos ao parque. Nos meus sonhos, um músico saiu de casa sem muita pretensão, violão nas costas, pesa como as saudades, mas na rua ganhou mais do que o valor pra pagar as contas da semana. Hoje ele fez bons amigos. Nos meus sonhos, uma enfermeira encosta um pouquinho a cabeça em cima dos braços apoiados na mesa, porque esta noite o hospital está vazio. Nos meus sonhos, saímos pra tomar um café e falar de coisas que eu nem lembrava, outras que você nem imaginava. Nos meus sonhos, crianças dançam ciranda, mostrando os dentinhos banguelas. Nos meus sonhos, um casal se beija na calçada de qualquer lugar. Nos meus sonhos, uma moça brinca de abrir o braço na rua, e ir tocando em todas as plantas pelas quais vai passando. Nos meus sonhos, eles se abraçam forte, e partilham um minuto de um silêncio bom que, meu Deus, como mudou toda a história que viria. Nos meus sonhos, corremos na rua de terra descalços, passamos por dois senhores que brindam o fim de semana com uma cerveja gelada, três irmãs brincam com um cachorro tão pulguento quanto amado, e chove forte, voa vida, roda mundo, lua nova, águas dançam, curam o chão, multiplicam grãos, plantas e mãos, que agora se dão. Vida simples-vida-boa. Vida.

e os olhos vão abrindo devagarzinho,

devagarzinho…
Drica Muscat

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